Acordei com o pulo que Rudi deu da cama, assustada me sentei e arregalei os olhos embaçados a espera de alguma explicação.
- O que foi? - perguntei observando que ele olhava atento pela janela.
- Ouvi um grito e a aldeia está agitada. - falou enquanto se vestia às pressas.
Também comecei a vestir meu conjunto de lã cinza, apesar de não ter ouvido o grito. Saímos pela porta e percebi que o sol ainda nem terminara de nascer completamente. Ray correu na nossa direção e passou direto, eu e Rudi trocamos olhares sem entendermos, o seguimos com os olhos e assistimos quando ele quase derrubou a porta da minha cabana e gritou por Maria. Poucos segundos depois Maria abriu a porta vestindo uma camisola amarela e com os olhos arregalados, Ray voltou pelo mesmo caminho correndo e de novo nem notou nossa presença plantada no meio da aldeia.
- Eu vou perguntar a Maria o que aconteceu. - falei para Rudi.
- Eu vou procurar qualquer um que possa me explicar o que está acontecendo.
Fomos para lados opostos, eu para minha cabana, Rudi em direção ao refeitório. Chegando lá Maria e Celeste se vestiam às pressas, e uma maleta com panos, objetos cortantes e substâncias medicinais esperava sobre a mesa. Safira dormia como se não estivesse num mundo onde até as plantas quisessem nos matar.
- O que está acontecendo? - perguntei tentando sair do caminho delas enquanto andavam de um lado para o outro.
- Helen está em trabalho de parto. - Maria respondeu enquanto prendia o cabelo castanho.
- E eu vou aprender como é o trabalho de uma parteira. - Celeste segurou meu braço cheia de animação e me deu um sorriso brilhante.
- Posso ajudar com alguma coisa? - perguntei.
- Pode vir junto. - respondeu Maria – Se o parto tiver complicações você será útil para aliviar a dor dela.
Minha boca secou. Eu não pensava em sentir a dor do parto nem tão cedo, admirava todas as mulheres que eram capazes de colocar para fora de seus corpos outros seres humanos, de forma que tudo ocorresse perfeitamente como manda a natureza, mas eu ainda não estava pronta para isso, no entanto... não negaria ajuda se precisassem de mim.
Maria e Celeste saíram andando para fora da cabana antes que eu pudesse me recuperar do meu choque, corri atrás delas. Chegando à cabana de Helen ouvimos o grito que saiu da garganta dela, a fada em trabalho de parto estava deitada na cama, respirando notavelmente rápido e segurando a mão do marido, ao lado da cama Ray, que geralmente tinha uma pele morena e cabelo com cachos curtos e bem definidos, estava pálido e com cachos desgrenhados, parecia mais nervoso do que a grávida e com toda certeza suava mais do que ela. As várias plantas que costumavam decorar o ambiente do quarto estavam lindas, todas recheadas de lindas flores no auge da sua beleza, parecia que se preparavam para dar as boas-vindas ao bebê que estava a caminho, os perfumes que deveriam ser sentidos em diferentes estações do ano se misturavam criando um cheiro único e delicioso, quem quer que estivesse vindo teria uma grande recepção.
Maria se aproximou de Helen falando palavras de incentivo, Celeste deu uma flor azul para que Ray se acalmasse com o perfume, admirei o otimismo dela, mas pelo estado dele presumi que precisaria de muito mais do que só uma flor. Eu fiquei parada na porta, não sabia a minha função ali e tinha medo de que eu fosse necessária. Com os panos brancos prontos para receber o neném, uma bacia com água morna e os instrumentos prontos para cortar, caso fosse preciso, Celeste começou a contar os intervalos entre as contrações e Maria ajudou Helen a controlar a respiração, Ray também aceitou a ajuda. O tempo correu e logo os intervalos entre as contrações foram diminuindo, os intervalos entre os gritos de Helen também. Quando Maria e Celeste avisaram que o bebê estava quase saindo eu sentei ao lado de Helen para ocupar o espaço que Maria ocupava, segurei a mão dela e respirei no mesmo ritmo que ela e Ray estavam fazendo. Sorri quando ela me olhou.
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A Mesa E O Mar
FantasyApós perder a mãe, sua única família, e descobrir que seu pai distante também morreu optando por não se despedir, Ayra sente-se sozinha no mundo. Mergulhada em luto e solidão ela é seduzida pela beleza das estrelas e atraída até uma mesa misteriosa...