Capítulo 17 - Sentimentos Fortes E Embaralhados

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Acordei em uma cama confortável e com um cheiro maravilhoso, o cheiro de Rudi, abri os olhos e percebi que estava sozinha no quarto dele, as cortinas impediam a luz do sol de entrar e uma bandeja com flores comestíveis esperava no criado-mudo. Eu poderia passar o resto do dia na cama dele, com o cheiro dele, no território pertencente a ele...

Não! Não! Eu tenho que sair daqui, não deveria nem estar aqui, quem mandou aquele enxerido me tirar do meu sono na floresta? Quem foi que disse que eu queria trocar o chão de folhas por esta cama... confortável? Que droga!

Levantei e saí da cabana irritada pela intromissão dele, fui para a minha, que para a minha sorte estava vazia, tomei um banho e fui procurar as pessoas que eu talvez devesse alguma explicação. Primeiro Derek, precisava que ele soubesse que eu não havia seduzido o alfa dele, talvez tenha até sido ao contrário, não sei dizer...

Encontrei-o fazendo a manutenção dos arcos e das flechas.

- Bom dia. - falei.

- Bom dia. - foi educado.

- Acho que precisamos conversar. Posso?

- Também acho...

- Eu e Rudi tivemos alguns encontros, mas quero que saiba que não usei magia para isso, - comecei a falar mais rápido – eu não o seduzi, ele quis e eu quis, e a noite passada eu não sabia como parar o...

- Calma, Ayra. - ele se aproximou me olhando com gentileza – eu já conversei com Rudi, sei que você não o seduziu. Só não machuca ele, não magoe o homem que faz de tudo pelo meu povo.

Não soube o que responder.

- E sobre a noite passada – ele continuou – a corrente estava danificada e todas as outras que guardamos para ocasiões como aquela também estavam. Se você não o tivesse matado, Rudi teria. Não toleramos traição.

Fiquei sem palavras, e senti um grande alívio em pensar que de qualquer forma ele teria morrido e talvez tenha sido melhor que tivesse acontecido pelas minhas mãos do que pelas mãos de Rudi, que compartilhou a infância com ele.

- Onde posso encontrar Rudi? - perguntei.

- Há uma clareira à esquerda da cabana afastada, ele deve estar lá.

Já conhecia o lugar, foi onde lancei o primeiro feitiço de proteção sobre o território da aldeia, à luz do dia o lugar era melhor, dois troncos formando um L serviam para sentar e as árvores possuíam buracos ocupados por bolsas de pano, imaginei que os lobos usavam os buracos como eu usava a rocha da praia, como armário de roupas.

Sentei em um dos bancos e esperei que Rudi voltasse da caçada. Muitos minutos depois ele voltou em forma de lobo branco, se transformou na minha frente em um homem pelado espetacular de pele, osso e músculos bem trabalhados, tentei não olhar muito quando ele virou de costas, tirou as roupas de dentro de uma árvore e as vestiu.

- Não sabia que sereias tinham o costume de dormir no meio da floresta, ainda mais usando livros como travesseiro. - ele riu.

- Não me lembro de ter pedido para alguém me salvar do meu sono no meio da floresta! - respondi irritada.

- Você teve sorte de ter sido eu e não alguma criatura macabra do topo da montanha! Só agradeça! - ele perdeu o ar brincalhão e me enfrentou.

- Devo agradecer por não ter sido devorada hoje ou por você não ter me devorado na floresta do penhasco há mais de um ano? - Levantei para encará-lo de frente, apesar da diferença de altura.

Ele recuou. Fico pensativo. Olhou para longe. Olhou para mim, como um cachorro culpado.

- Era eu...

A Mesa E O MarOnde histórias criam vida. Descubra agora