Capítulo 30 - Flores Brancas

10 2 0
                                    

Quando o sol nasceu me alegrei com a imagem da cordilheira, do meu ponto de vista as montanhas eram pequenos relevos no horizonte, mas estavam lá, esperando por nós para atravessá-las.

Sendo uma sereia meu corpo era mais forte, mais resistente a fome, sede, calor, frio e cansaço, poderia viver mais anos do que um ser humano normal e poderia aguentar situações extremas por mais tempo, no entanto, mesmo como sereia eu tinha um limite, precisava comer e beber água, não conhecia o limite de Rudi e ele parecia não querer demonstrar, mas dava pra perceber o quanto estava cada vez mais lento. Apressei o passo para andar ao lado dele.

- Está vendo? A cordilheira já aparece no horizonte.

Ele abaixou a orelha branca, sem olhar para mim.

Um longo tempo de silêncio se passou, e eu não aguentava mais o silêncio.

- Quer mesmo invadir o castelo pelas minas?

Ele abaixou a orelha branca.

- Não acha arriscado demais?

Ele abaixou a orelha branca.

- O que faremos com elas depois disso? - perguntei por impulso. - Digo, as crianças vão continuar morando no castelo?

Ele abaixou a orelha preta.

- Podemos encontrar uma família para os gêmeos? Como as sereias fazendo com seus filhos.

Ele abaixou a orelha branca.

- Acha que o rei de Silvaqui será uma ameaça?

Ele abaixou a orelha branca, duas vezes.

- E o rei de Iely?

Ele abaixou a orelha branca.

- Acha que algum dia viveremos em paz?

Ele inclinou a cabeça sem olhar para mim, não abaixou nenhuma das orelhas.

Mais horas se passaram e o sol chegou ao meio do céu, as montanhas estavam mais próximas e eu sentia que a areia parecia menos seca, sentia saudade da minha bota, desejava que a estivesse usando, mas depois de usá-la todos os dias por tanto tempo, o material ficou frágil e eu decidi que a pouparia para quando precisasse ir até a feira, lá o chão era sujo, lama misturada com restos de frutas e legumes, vidros, pedaços de madeira e sem falar nas muitas patas de centauros e faunos passando para todos os lados, eu não queria nem pensar no estrago que um pisão no meu pé faria.

Olhei para o céu e vi o fenômeno que esperava para ver há algumas semanas, os pássaros de fogo... eles voavam livremente pelo céu azul, um grupo grande fazia movimentos sincronizados e deixava um rastro de fogo vermelho e laranja, cada pássaro era como uma pequena fênix, com chamas curtas saindo das penas das asas e do rabo. Parecia que cada membro da revoada sabia em qual direção voar, eles se dividiam e se juntavam, voavam pra cima e pra baixo, todos juntos em linha reta perfeitamente alinhados e depois se misturavam numa bagunça coreografada de asas, penas e fogo. Era lindo, hipnotizante, um espetáculo produzido pela maravilha que era o mundo com magia.

Fiquei aliviada quando em vez de me puxar para andar mais, Rudi se sentou ao meu lado e também admirou o show de chamas que acontecia no céu.

Quando as pequenas criaturas magníficas foram embora e nós voltamos a andar, muitos passos à frente eu percebi que não seria tão fácil chegar à cordilheira, muitas árvores, baixas e retorcidas, ocupavam o final do deserto e o pé da montanha, mais a cima pinheiros altos, como as árvores que rodeavam a aldeia, ocupavam até a metade da montanha e subindo mais com meus olhos enxerguei o pedaço branco do topo da montanha, o local onde a neve nunca parava de cair.

A Mesa E O MarOnde histórias criam vida. Descubra agora