🎙Capítulo 10🎙

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Ethel

Estávamos entrando em uma nova fase, mas agora eu quero falar um pouco sobre a antiga.

Sabe o que eu mais admirava na banda? O fato de que eles comemoravam cada show como se fosse o primeiro, deve ser por isso que as pessoas tem a impressão de que eles não eram ninguém quando eu entrei, o que não é nem um pouco verdade. Em 1970, quando nos encontramos no Falcon, a Atomics já existia, e não era tão desconhecida como eu imaginava. As pessoas sabiam quem eles eram, as músicas eram bem recebidas aonde quer que eles se apresentassem, e tudo cresceu porque eles trabalharam duro para isso. O lance com o show em Vegas na festa do Greene, quando todos comemoraram, foi por...

...

Ira

Por ela, e eu nunca fiz muita questão de esconder isso. Mas, sério, porque estamos voltando à isso?

Ah, imagino que seja por causa da história do suborno com o Georgie...olha, eu sei que eu mesmo disse isso mas não passava de uma piada interna, embora muita gente tenha usado isso contra nós nos anos seguintes, Ethel não fez nada que eu ou qualquer um teria feito para dar um empurrãozinho na direção certa.

Mas vamos ao que interessa.

A banda acabou se instalando numa casa alugada perto do Sound City, um estúdio de gravação em Van Nuys onde Bob e a equipe técnica estavam preparando as coisas para o lançamento do álbum. Não era nenhuma S.G's e acho que ninguém sentiu muito por isso, pelo menos tínhamos quartos espaçosos e um ambiente bacana que não parecesse ter saído de um daqueles filmes pós-apocalípticos. Era uma casa legal.

A gravação de um álbum de estreia consome muita energia, e isso gera estresse e estresse gera conflito. Mas não foi bem assim com a gente, nos dávamos bem demais para nos deixar abalar por esse tipo de coisa.

De manhã, lá pelas oito, Bob aparecia com aquela voz de trovão e umas seis sacolas de hambúrgueres. E só quando todo mundo já estava cheio era que ele nos colocava na Van e íamos para o estúdio. Foi assim todos os dias, de Março à Novembro. Hambúrgueres, amigos, drogas e música. Era a porra da vida que eu sonhei para mim.

...

Ethel

Eu é que não vou fazer vocês pensarem que aqueles meses foram mil maravilhas, mesmo que eu tenha me divertido e construído memórias ali que nunca saíram da minha cabeça...acho que sempre fui mais realista do que o Ira.

Tudo começou pelo mau hábito do Bob de aparecer às seis da manhã todos os dias. Ele chegava berrando e trazendo aquele cheiro de fritura que Dan e eu lutávamos para tirar da casa nos dias de faxina. Me lembro do que Tom disse numa manhã, devia ser bem no começo das gravações porque ninguém parecia confiante para questionar o cara, mas ele disse mesmo assim:

- Cara, aqui não é o jardim de infância e não acabou a hora da sonequinha. Deixa a gente dormir.

Eu achei engraçado, mas concordava que não tinha mexido o meu rabo de Las Vegas até San Diego e depois até Los Angeles para dormir até mais tarde. Por isso eu acordava a Vick e tomava um banho antes de sair. O Caddy do Tom tinha sido descartado, agora a banda andava para cima e para baixo na Van da Putnam's, que com certeza era mais segura do que enfiar seis pessoas num carro pequeno mas eu ainda sentia falta daquelas viagens sem espaço. Quando chegávamos em Sound City tinha uma mesa cheia esperando pela gente, mas ninguém chegava com muita fome por causa dos hambúrgueres do Bob então aquilo acabava virando o nosso almoço.

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