🎙Capítulo 8🎙

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Ethel

Eu sabia que ele estava me evitando, o problema era que Ira era tão bom nisso quanto eu era boa em boliche...nunca fui boa em boliche. Sempre que eu não estava vendo, ou melhor, sempre que eu fingia que não estava vendo, lá estava ele, me encarando como se a resposta de uma pergunta muito importante estivesse entre o meu nariz e o meu queixo. Nenhum dos dois mencionou a minha crise da noite anterior, e como eu acabei me sentando ao lado da Vick no avião, não nos falamos até chegarmos na Filadélfia.

No camarim, uns dez minutos antes de anunciarem a gente, todo mundo estava meio nervoso. Dan não parava de fazer os joelhos de bateria e Tom batia os nós dos dedos na mesa de centro tão rápido que mal dava para acreditar. Sam estava fingindo que estava tranquilo.

Acho que eu não falo muito sobre os outros membros da banda, e por parte é porque ainda não éramos tão próximos no começo, mas tinha uma coisa com o Sam. Ele era boa pinta, tinha costeletas e nunca investiu na barba, o cabelo dele era ondulado e sem volume, e por algum motivo ele nunca abotoava a camisa toda, sempre exibia aquele peitoral peludo por aí e dizia que as garotas gostavam disso. Sam também era o membro mais próximo do Ira, e eles tinham uma sintonia que eu nunca consegui entender, mas eles simplesmente..."se sabiam". Se Ira estava com um problema, Sam não precisava perguntar para saber disso, e vice-versa. Com o passar dos anos eu me senti mal por ter sido uma irmã de merda para a Snow, e parte disso se deveu ao fato de que todo mundo dos Ethereals tinha escolhido um irmão para chamar de seu, e mesmo tendo a Vickie's...eu sabia que podia ter feito mais pela minha irmã.

Vick estava roendo as unhas, ela estava um arraso naquele show, com uma calça que deixava ela com quadris bem largos e uma blusa com o decote mais cavado da Pensilvânia. Já Ira, estava carrancudo e andando de um lado pro outro, me olhando de vez em quando e estalando tanto os dedos que eu jurei que ele acabaria quebrando alguns.

E então tinha chegado a hora, e em fila nós saímos, e quando eu me dei conta estávamos diante de uma plateia foda de novo.

As músicas que escolhemos eram boas, a maior parte eram composições do Ira, algumas da Vick e outras tinham dedo de todo mundo. Começamos com "Shipwreck", uma parada para agitar a galera, depois seguimos para "Stars in Hell" e "Carry On".

Antes da minha chegada na banda eles já tinham conquistado um espaço, o último show que fizeram antes do trabalho na festa do Greene tinha sido em Nova York, o lugar aonde você descobria se ia dar certo, e eles com certeza dariam certo, com ou sem mim. Eu estava pensando nisso quando Dan introduziu a bateria para a próxima música, o nome era "Embers in Winter". E acho que tem uma pessoa que pode contar melhor à partir daqui.

...

Ira

Sabe aquela coisa das fases do luto? Eu posso pensar em uma coisa parecida para encaixar nas fases que você passa quando tem uma banda. A primeira é a ascensão, quando tudo só tem uma direção possível: para cima. E não importa o que dizem sobre o sucesso, a ascensão ainda é a melhor fase. A segunda é o deslumbre, aquela fase em que tudo está tão bem que você nem pensa que pode ir mais além, mas não está nem começando a ficar bom. A terceira é o sucesso, o ponto alto, é como ter um orgasmo que dura anos, geralmente essa é a fase das turnês mundiais ou da produção de um álbum. A quarta é o declínio, o momento em que aquilo que você construiu começa a quebrar e você finge que não tem nada acontecendo porque simplesmente não pode jogar tudo fora. E a última é a despedida, o momento em que vocês fazem o último show sem nem saber que é isso que estão fazendo, então alguém é corajoso o bastante para dizer "Tá legal, foi ótimo até aqui mas a gente precisa parar", e no caso dos Ethereals, essa fase foi bem pior.

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