🎙Capítulo 24🎙

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Ethel

Sabe o que acontece quando uma pessoa tem uma overdose de seconal? Ela morre. E eu quase descobri isso na segunda semana de retorno da turnê. Vocês já devem estar cansados de saber como a minha rotina funcionava quando eu estava na estrada, e que eu andava com uma galera não muito legal naquele tempo. Encontrei Stuart Dawson no Kansas no final de Agosto, ele era bem uns dez anos mais velho do que eu e mascava maconha no café da manhã, e não estou nem brincando. Acho que eu tinha uma espécie de imã para aquele tipo de gente, e não parou no Dawson. Ele me apresentou uma fulana, que me apresentou para um sicrano que me apresentou para um beltrano e todas essas apresentações eram desnecessárias porque eles já sabiam quem eu era. E de repente toda a turminha das drogas estava na minha cola, e foi mais ou menos por aí que eu percebi que toda aquela merda saía do meu bolso, nunca tinha visto nenhum daqueles caras tirarem uma moeda sequer para pagar pelo que usavam. Mas se eu acendia, então todo mundo fumava, e se eu cheirava uma carreira, todos cheiravam uma carreira, e se eu tivesse um frasco cheio de comprimidos, então eu teria um frasco pela metade num piscar de olhos.

Eu pensei: "Isso está perdendo a graça".

Foi a primeira vez que aquele pensamento me ocorreu, e foi como se eu tivesse despertado de um coma que parecia infinito. Eu ficava repetindo sem parar à cada dose que eu tomava: "Essa é a última. Essa é a última. Essa é a última" e por alguns momentos eu me convenci de que aquela briga interna podia funcionar. Eu acreditei que fosse conseguir sozinha.

Mas quando recusei a primeira vez foi como se eu tivesse cometido um crime.

Eu tinha me apresentado no palco a menos de vinte minutos e já estava num bar em uma mesa em que era preciso levantar para ver as pessoas sentadas do outro lado por cima das garrafas que pareciam brotar ali. Tinha um cara, ele estava muito perto de mim, perto mesmo, e ele me ofereceu mescalina. Eu tinha que dar no pé às seis do dia seguinte e estava tentando achar um jeito de não voltar para o hotel em uma ambulância, então recusei, até me lembro de sorrir quando disse não, coisa que eu nunca fazia. Eu não desperdiçava meu sorriso com qualquer um.

- Ah, para com isso, gata - Ele disse e colocou aquilo na minha cara, e eu tomei.

Acordei no banheiro, espremida dentro de uma das cabines com o meu cabelo enfiado na privada e vômito no meu vestido. Eu levantei, bati as mãos no vestido e voltei para a festa como se nada tivesse acontecido. E enquanto eu estava dançando uma menina muito mais nova do que eu veio berrando que eu estava com vômito no vestido. Eu estava doidona. Tirei o vestido e na manhã seguinte o meu corpo estava estampado até nas caixas de leite, exagerando um pouquinho. Ira ficou puto e mexeu os pauzinhos para que aquilo não fosse mais divulgado...mas era tarde demais.

Depois disso tiveram mais duas vezes, duas decisivas vezes.

Dan e Tom tinham reservado o salão de festas do hotel para uma confraternizaçãozinha de gente famosa. O pessoal da banda comprou a ideia e de repente eu estava tendo que bancar a anfitriã. Conversei com gente da música, do cinema, até com uma ou duas modelos e uns cinco atletas. A coisa estava indo bem até que as bandejas de bebidas viraram bandejas de drogas num piscar de olhos. Eu não estava vendo o Ira ou a Vick no pedaço, então prometi para mim mesma que seria só um pouquinho, só uma coisinha para me entreter no meio de tanta gente desinteressante.

A festa acabou quando eu fiquei tão chapada que subestimei a profundidade da piscina e acabei com sete pontos na cabeça.

Na última vez eu estava no bar com o pessoal como em qualquer outra noite, e acabei cometendo o mesmo erro de sempre. De repente eu estava voltando para o hotel de táxi. Estava me agarrando com um guitarrista qualquer, e para você ter uma ideia, eu não me lembro do nome dele até hoje. Ele pegou a chave do meu quarto no bolso da minha calça e trancou por dentro quando entramos. Eu tinha cheirado, me embebedado e tomado Deus sabe quantos comprimidos. Não foi a primeira trepada da minha vida em que eu não gozei, mas foi a primeira em que eu estava tão doidona que não senti absolutamente nada. Às vezes ainda me pergunto se fiquei acordada o tempo inteiro, e às vezes acho que não, às vezes tenho a certeza de que ele não parou mesmo que eu tenha apagado.

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