🎙Capítulo 16🎙

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Ethel

Os últimos três meses de 1973 foram agitados. Começou com a mudança repentina de Tom e Dan, que compraram uma casa não muito longe do estúdio no finalzinho de Outubro. A saída dos dois deixou um buraco na rotina, mas não tinha nada de errado entre a gente. Tom e Dan eram como Legolas e Gimli de LA, e nunca seria a mesma coisa sem eles. Em compensação, Sam estava claramente paquerando a minha irmã. Os dois arrumavam qualquer desculpa para ficarem sozinhos, mas eu tive que me lembrar de que não era da minha conta se ela tinha acabado de abandonar o marido e já estava partindo pra outra. Não era mesmo da minha conta. Para completar o pacote, Vick sumiu por duas semanas e voltou com um quê de sotaque ianque e uma porção de malas com roupas novas. Está aí um "hábito Ethereal" que você já deve ter notado: sempre que não conseguíamos lidar com alguma coisa nós entrávamos num carro ou num avião e sumíamos por um tempo. Fazia bem. Mas o problema de sempre fugir dos problemas é que você nunca os resolve de verdade, só varre pra debaixo do tapete e torce para ninguém erguer para dar uma olhada.

De modo geral, estávamos indo bem.

Destiny foi lançado no dia 12 de Dezembro de 1973, e em menos de duas semanas já estávamos liderando as paradas. Orange Dress estava na terceira posição da Billboard Hot 100 quando caímos na estrada. O primeiro show foi em Gaslow, acho, e teríamos uma dúzia de entrevistas depois da estreia, mas uma em especial deixou a banda toda com as pernas bambas. A Rolling Stone estava de olho na gente, éramos o assunto favorito das revistas musicais e dos programas de TV. Acho que o nome do cara era Jonah não sei das quantas, e fez uma pá de perguntas legais e que faziam a gente pensar à respeito, mas outras eram só puxação de saco e tentativas de extrair fofocas, e o pior de tudo era que, como qualquer jornalista, o cara grudou em mim e no Ira. Eu sei que é natural que a balança acabe pendendo quando se está numa banda, mas não é porque alguém vai ganhar mais atenção que isso precisa virar uma competição, e com a saída de Tom e Dan de casa, qualquer coisa que pudesse virar rivalidade estava sendo evitada. O jornalista era bom, mas eu era melhor.

A banda estava cansada do camarim e também queríamos passar uma boa impressão, então fomos para o bar e pagamos umas bebidas para ele, mas acho que só eu e a Vick percebemos que ele não deu um só gole a noite toda.

Eu me lembro do que eu estava vestindo, era uma calça apertada e que deixava o volume dos comprimidos bem aparentes nos meus bolsos de trás, eu andava com um monte daqueles para cima e para baixo na época. Jonah percebeu.

- Doces depois do Halloween, gata? - Eu me lembro de que ele disse isso com cara de quem pensa "Isso está começando a ficar interessante".

Eu devo ter dado de ombros e dito alguma coisa que soasse narcisista, porque depois disso o cara se virou para conversar com a Vick e o Dan. Eu não queria atrapalhar a banda nem nada, mas também queria deixar as coisas na linha. Ele não estava ali para fazer caso à respeito do que a gente fazia fora do palco, era pela música que ele estava ali, e era sobre aquilo que ele ia publicar, e mais nada.

...

Ira

Na manhã seguinte a nossa foto estava na capa, e a manchete foi cheia de elogios e, como a Ethel gostou de chamar, uma baita puxação de saco. Mas tudo bem, né? Eu não quero ser o cara que reclama de barriga cheia, e mesmo que aquelas horas conversando com o tal jornalista tenham sido menos interessantes do que eu esperava, eu estava na capa da melhor revista musical do mundo e com o meu disco decolando.

O que mais eu poderia querer?

E então depois dos shows eu voltava para o hotel onde o quarto não era mais meu e do Sam, nem o "quarto dos caras", mas o meu e da Ethel. E eu podia estar cansado e irritado, mas sempre arranjava um jeito de saber sobre o dia dela, e escutar o clássico:

The EtherealsOnde histórias criam vida. Descubra agora