Ethel
Quando voltamos, não era como se alguma coisa tivesse mudado, principalmente porque Ira tinha concordado em manter segredo se a Vick já não tivesse dado com a língua nos dentes. E não deu mesmo.
- Isso é problema de vocês - Ela disse quando eu perguntei se ela tinha contado para alguém - Não vou estragar o barato de ninguém.
Aquilo me fez aparecer no estúdio bem mais calma do que eu estaria se todo mundo ficasse sabendo. Acontece que o Ira nunca foi tão bom em se esconder quanto eu, e isso poderia ser um problema.
Mas no fim tudo correu bem, e em Abril de 1973 a banda começou a pegar firme no nosso segundo álbum. A coisa mais importante na construção de um álbum, pelo menos para mim, sempre vai ser o que você quer que as pessoas sintam com ele. No caso de Accident, acho que a gente queria que as pessoas se lembrassem daquilo, que se sentissem parte daquela atmosfera jovem e meio rebelde que a gente passava. Já em Destiny, acho que o que estava em jogo era uma transição de uma coisa mais maluca para uma parada mais séria, dava para ver isso nas músicas, tanto nas minhas letras quanto nas do Ira, mas principalmente nos instrumentos e na força e personalidade que o pessoal colocou neles. Foi um dos trabalhos mais legais que eu já fiz na vida.
Eu chegava mais cedo no estúdio, sempre levava o café da manhã já que Ira e Bob passavam a madrugada lá nos primeiros meses, como se dormir fosse deixar o álbum mais longe da ideia que os dois faziam de perfeição.
Todo mundo estava se dedicando ao máximo por aquele álbum, sempre mudando alguma coisa aqui e ali, sempre dando ideias e melhorando, melhorando muito. O problema disso era que perdíamos tanto tempo em uma mesma música que Maio chegou sem que a gente tivesse mais do que duas músicas prontas. Mas eu não me importava de forçar o Dan a repassar as mesmas batidas duzentas vezes, nem de mostrar para Vick como eu achava que as guitarras funcionariam melhor se a gente devolvesse à banda um pouco da rebeldia, nem de dizer ao Ira que eu não dedicava a minha vida ao rock n' roll para tocar música clássica, e que se ele quisesse me ter na banda, era melhor ir deixando aquela frescura de lado. Eu queria que aquele álbum fosse revolucionário, uma coisa que o mundo nunca esperaria de uma bandinha que saiu de um buraco da Califórnia. Eu queria o álbum da década.
Acontece que ameaçar sair da banda não estava mais funcionando, não com o que estava rolando entre o Ira e eu por baixo dos panos. Eu conseguia manter a pose e fingir que não tinha nada acontecendo, mas acho que todo mundo meio que sacou quando gravamos "Antipoision".
Aquela música é uma explosão de raiva e delicadeza, e gosto tanto da descrição do Bob sobre ela que vou usar as palavras dele:
- A voz da Ethel é rouca e suave, enquanto a sua - Ele estava falando com o Ira quando disse aquilo - É áspera e amarga, se essa letra foi feita para duas vozes, foi para a de vocês dois.
Fazia sentido, e resumia bem o que nós dois pensamos quando estávamos deitados no chão do meu quarto enquanto aquela música nascia.
Então eu entrei primeiro na cabine com isolamento acústico, ajustei o microfone para ficar em uma altura melhor para mim e esperei pelas ordens do Ira, que ficava do outro lado do vidro. Mas então ele e o Bob começaram a conversar e parecia que era sério, e aí o Ira entrou e disse:
- Bob acha que só vai funcionar se a gente fizer isso juntos.
- Não podem resolver isso depois? - Eu gostava de me sentir relaxada na cabine, e dividir ela com o Ira, alguém que não melhorava o meu foco à menos que estivesse com a boca na minha, não me parecia o jeito mais fácil de relaxar.
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The Ethereals
FanficNa Las Vegas dos anos 70, a jovem Ethel King encanta corações impuros com a sua voz espetacular, um desses corações pertence à Ira Blame, rapaz bonito de San Diego que desfruta de uma viagem breve na companhia dos amigos. Mal sabem eles que após doi...