🎙Capítulo 25🎙

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Vick

Setenta dias são muita coisa.

Depois da merda que a Leslie tinha aprontado comigo eu passei a...dar uma de Ethel, mas no sentido alcoólico. Eu acordava, ajudava Snow, fingia que estava tudo bem e saía antes de escurecer. Mas Sam ficou preocupado e ligou para o Ira, e logo em seguida ele retornou a ligação para mim e me disse com todas as letras que ele já tinha merda demais na cabeça, e que era pra eu arrastar o meu traseiro para casa e me reconstruir antes de tentar buscar diversão nas coisas erradas. Não sei se foi porque ele era o Ira e era o chefe ou só porque eu o respeitava muito, mas fiz exatamente o que ele disse.

Voltei para casa e parei um pouco com a farra, vendi minha casa em Roma e comprei uma moto, depois sosseguei.

Mas ainda não estava tudo bem.

Eu passava o dia inteiro preocupada com a Ethel, com o Ira, com o futuro da banda, e com o tempo isso passa a ser demais para a cabeça de qualquer um. Eu chorava o tempo todo, e Sam me disse para parar de agir como se a Ethel estivesse morta, e ele tinha razão, mas eu sentia muita falta dela. Ethel era esse tipo de pessoa, podia ser um pé no saco estar com ela, mas estar longe dela era insuportável, ainda mais com o Ira numa espécie de retiro espiritual.

Eu ia visitar ele no chalé sempre que estava entediada, o que significa que eu gastei mais gasolina naquele período do que na vida toda. Nós sentávamos no pátio ou na areia e abríamos uma cerveja, e conversávamos sobre tudo e sobre merda nenhuma ao mesmo tempo, e no final da tarde eu encostava a cabeça no ombro dele e dormia, e sempre acordava na cama e ele no sofá. Às vezes eu escutava os sonhos dele à noite, e eu sei que ele também escutava os meus, mas nenhum de nós dizia nada porque não era preciso dizer.

E isso é amor também, e transformamos isso em música.

Eu não era nem de longe a compositora que o Ira dizia que eu era, mas as nossas ideias combinavam, e as nossas dores também. E é disso que as melhores músicas são feitas.

Camps saiu disso, e Hell & Heaven saiu disso, e mais umas três ou quatro músicas que nunca entraram no último álbum saíram disso.

E Ethel também saiu.

...

Ira

Pedi para Snow ir comigo no dia da saída dela, o pessoal todo estava a fim de ir com a gente, mas eu achei melhor uma recepção menos exagerada porque sabia que quando ela saísse, se alguma coisa tivesse mesmo mudado, ela estaria com medo de nos decepcionar. Ela estaria se esforçando e precisaria de todo o nosso apoio e de toda a nossa fé, e nós íamos ficar do lado dela, mas...deixei ela respirar.

Snow estava fazendo gracinha para o Eric em cima de uma das mesas que ficavam do lado de fora da clínica, e ficou esperando enquanto eu entrava para resolver algumas coisas da papelada.

Alguns minutos depois ela apareceu.

Ethel sorriu e saltitou até chegar aonde eu estava paralisado, sem reação. E lá estava o short e a blusa cor de rosa estampada com flores, a transparência deixava visível os mamilos dela, e o comprimento deixava a barriga de fora. Ela parou na minha frente e esperou. Dava para ver as marcas de toda aquela destruição bem claras por toda parte. O cabelo não tinha mais a mesma vida, os olhos escureceram como se não morasse mais um pedaço da cor do céu dentro deles. A boca estava sem cor, sem aquele vermelho suave que costumava ter, e estava seca, rachada. O rosto estava encovado, vazio, mas tinha um orgulho brilhando ali dentro em algum lugar. Ela estava tão magra, tão frágil...senti vontade de chorar mas sabia que isso poderia afetar a confiança dela, então decidi que era a hora de dizer alguma coisa, mas parece que ela pensou o mesmo.

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