Ira
Eric nasceu no dia 20 de Junho de 1976, um menininho forte e saudável. Sam se orgulhava de dizer que o garoto era a cara dele, mas eu tenho propriedade como padrinho para dizer que aquela criança era pura Snow King. Eu estava do lado de fora do hospital quando ele nasceu, olhando para o céu e fingindo não ver que as pessoas estavam me reconhecendo mas estavam envergonhadas demais para chegar em mim para pedir um autógrafo. Eu devo ter ficado lá de pé por umas quatro horas até Sam aparecer com um sorriso de orelha à orelha e se atirar no meu abraço. Nossa, como ele estava feliz, acho que apaixonado é a palavra certa...talvez não tenham inventado uma palavra forte o suficiente para descrever um sentimento daqueles, é uma daquelas coisas que talvez nem valha à pena nomear porque a melhor parte é sentir.
- Parabéns, cara. Você merece uma vida boa.
- Deixa disso, Ira. Se tá pensando que vai se livrar de mim agora, você está muito enganado.
- Estou contando com isso, Sammy.
- É bom mesmo. Aliás, Snow disse que se você e Ethel não aparecerem amanhã ela vai chutar os traseiros de vocês para fora do estado na primeira oportunidade.
- Vou ver o que posso fazer.
- Traz ela de volta, tá?
Aquele não era um pedido momentâneo. Eu sabia que ele estava me pedindo mais do que uma simples visita, ele queria que eu a trouxesse mesmo de volta. Mas onde ela estava? Onde é que a Ethel de verdade estava?
...
Ethel
Naquele exato momento eu estava acordando num quarto de hotel do outro lado da cidade. Eu me lembro de sair procurando as minhas roupas no meio da zona que aquele quarto estava, e também de ter me vestido ainda meio inconsciente. Eu devo ter chamado um táxi ou alguma coisa assim, sei que quando cheguei em casa estava totalmente sozinha. Acho que a Ethel que eu era antes daquela época teria arranjado alguma coisa para fazer, algum passatempo para me sentir útil até o pessoal voltar, mas eu estava tão doidona que simplesmente me joguei numa das camas e apaguei.
...
Ira
Quando voltei ela estava estirada no tapete da sala, e dá pra imaginar a minha reação. Ela acordou uns cinco segundos antes de eu pegar o telefone e chamar uma ambulância. Estava toda molhada, tinha feito xixi nas calças, e explicar isso pra ela foi como ter que tranquilizar uma criança que teve um pesadelo. A diferença era que uma criança demonstra medo depois de um sonho ruim, e Ethel não demonstrou nada, nada além de um rosto vazio, nada de nada.
- Eu não senti. Eu deveria ter sentido?
- É o que acontece com a maioria - Me lembro de suspirar e fazer o mesmo de sempre, levar ela pro chuveiro, trocar as roupas, verificar os sinais e deixar dormir. Eu não devia ter escolhido o maior espelho da casa para fazer isso.
- Nossa, eu estou um trapo.
Ela disse e deu uma risadinha, mas eu não achei graça nenhuma. O cabelo estava cheio de nós porque ela não se lembrava mais de pentear, ela tinha hematomas por todo o lado, por causa das drogas e por causa dos tombos, os piores, pelo menos para mim, eram os que ficavam nas dobras dos braços onde ela injetava. O nariz sempre tinha a mesma manchinha vermelha onde ela vivia limpando o sangue seco. As mãos estavam sempre parecendo meio roxas e geladas, mas apesar disso as roupas dela ficavam cada vez menores por causa do calor que ela estava sempre sentindo. Eu tinha medo de tocar nela, medo de que se apertasse demais ela começaria a esfarelar.
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The Ethereals
FanfictionNa Las Vegas dos anos 70, a jovem Ethel King encanta corações impuros com a sua voz espetacular, um desses corações pertence à Ira Blame, rapaz bonito de San Diego que desfruta de uma viagem breve na companhia dos amigos. Mal sabem eles que após doi...