Reclamada Por Um Lobo

Sombras do Passado

Melina

Abro meus olhos em uma tentativa de situar-me aonde estou. Minha cabeça doe, meu corpo está pesado, e minha boca está seca, a minha única vontade é voltar a dormir, mas preciso saber o que está acontecendo.

Sento-me na cama, que por sinal está extremamente dura, minha cabeça gira, mas mesmo assim olho ao redor, me deparando com paredes brancas, um único guarda roupa pequeno em um marrom fosco, uma janela com grades? Fico completamente confusa com isso, porém, continuo analisando o ambiente, e por último encaro o teto, vendo constelações, fazendo com que memórias sejam desbloqueadas.

Uma coisa me define, pânico.

Meu sangue gela, minhas mãos soam e tremem incontrolavelmente, meu coração dispara batendo com força contra as costelas, meu estômago embrulha e por pouco não sinto a bile subir. Lágrimas brotam em meus olhos ao lembrar de tudo, me sinto desamparada, sozinha e sem saída, porque é assim que eu me encontro, não preciso ser um gênio pra saber o quão vigiada estou sendo, não depois de todo o trabalho que tiveram para me ter de volta nesse maldito lugar.

Volto a deitar na cama, me encolhendo em posição fetal, abraçando o meu corpo em um tentativa de autoproteção, porque em todo esse tempo eu nunca me senti tão sem chão, usada, traída, dilacerada, como agora.

A traição do Gustavo foi algo que me quebrou, eu não imaginei que ele fosse tão cruel e baixo. Ter se aproximado de mim, fingir uma amizade, oferecer ótimos conselhos, tentar alegrar os meus dias, ser meu ombro amigo sempre que eu precisava dele em todo esse tempo que nos conhecemos. E apesar dele ter se aproximado de mim com a intenção de me trazer de volta pra seita, acredito que ele poderia ter mudado de ideia após todos esses tempos convivendo comigo, me conhecendo de verdade, mas pelo visto seus princípios são mais fortes que qualquer outra coisa.

Me sinto tão idiota por ter confiado cegamente em alguém, tão tonta, e agora eu estou vendo as consequências. Aqui, sozinha prestes a enfrentar um destino cruel, e sabendo que o meu namorado pode está morto.

Pensar que neste momento Erick pode está morto ou machucado por minha culpa é insuportável, me doe tanto que acabo me encolhendo mais um pouco, fazendo soluços altos saírem do meu peito. Ainda tenho esperança de que o tiro possa ter sido de raspão, e se foi grave que alguém tenha conseguido chegar a ele a tempo e o salvo. Eu não conseguiria viver comigo mesma se soubesse que ele está morto por tentar me salvar, foi exatamente para ninguém sair machucado que resolvi me entregar, o meu sacrifício não pode gerar outros para com a minha família.

Esse é outro ponto que me doe muito, minha família, todas as pessoas que me amam e me ensinaram a amar. Pessoas que fizeram eu me sentir querida, me fizeram sentir importante, independente, o que é a verdadeira felicidade. E é por causa dos princípios que essa família me ensinou que eu tenho que ser forte, não deixar me abater, ou perder a esperança.

Eu conheço todos eles, sei pelo que lutam e acima de tudo é pela família, e eu faço parte dela, sei que eles não vão descansar enquanto não me encontrar, enquanto não destruir essa seita. Se não descansaram ainda quando eu estava no meio deles, imagina agora que esses doentes me teem, e vai ser essa certeza que eu tenho em que vou tirar força, não vou abaixar a cabeça venha o que vier.

E no exato momento que estou sentada enxugando as minhas lágrimas que a porta se abre, e por ela passa uma mulher baixa, robusta com um rosto duro que eu conheço muito bem. Lourdes, minha antiga tutora, que me encara com os olhos frios e com desgosto, posso dizer até que com nojo.

Ela me encara dos pés a cabeça, me analisando minuciosamente, e sua cara de desgosto aumenta quando finaliza. Sei que não estou das pessoas mais apresentáveis, ainda estou com a roupa do leilão, completamente suja, meu cabelo está um caos e não quero nem imaginar o meu rosto, provavelmente borrado devido a maquiagem e inchado devido ao choro.