Cap6: Mais uma pitada de malicia infantil.

136 14 30
                                    


-Da primeira parte, posso cuidar rapidamente. - Disse o pai, indo para a cama que partilhava com a esposa e olhando debaixo dela, que tinha um tipo de galpão, o pai abriu e retirou uma pele farta, a jogando ao lado do chefe. - A segunda, já não tenho tanta certeza.

-O menino pode sair? Não desejo abordar nada disso diante dele. - Disse o chefe, parecendo um tanto preocupad
-Querido, pode brincar lá fora? - Disse a mãe, dispensando o filho com um olhar preocupado.

O menino saiu e viu seu semelhante pardo, atento, se mantendo contra o vento, as orelhas voltadas para a parede, Roca saiu da porta e ficou ao lado dele, com a atenção tão grande quanto a de Dante.

-Pois bem, meu irmão me falou que encontrou com vocês hoje, durante a caça de treino do meu sobrinho, e me falou que você e seu filho tinham sido agressivos com eles, sei que não faria algo tão imprudente, mas nunca é demais perguntar, não? - Disse Tarhe, com o tom cansado apesar de sério, como se já tivesse passado por aquilo milhares de vezes.

-Não, posso não ter conseguido conter o meu tom depois de ele ter insultado meu filho, mas nada que poderia ter transgredido o nosso juramento. - Disse a voz do pai, impassivamente.

-Como imaginei. - Disse a voz de Tarhen, com uma clara maior calma em seu tom. -Só queria confirmar, mas não é disso que quero falar, creio que saiba dos nossos embates territoriais não?

-Sei, não é por nada que minha família foi uma das principais guerreiras da vila. Ainda possuo muitos contatos. - Disse o pai, ainda com a mesma seriedade.

-Bem, os cervos estão começando a entender melhor as próprias capacidades, estão fazendo ataques furtivos, perdi 5 bons soldados e 10 caçadores nesta maldita brincadeira de esconde-esconde.

-Ora, mas não somos melhores nesta brincadeira que eles? Esmague-os no jogo que eles mesmos propuseram. - Foi a mãe-loba quem disse com um tom irritado.

-E somos, mas algum aliados deles estão inebriando os soldados da fronteira.

-Como ex-protetor das fronteiras, eu diria que é melhor então focar em direcionar os inimigos para contra alguma clareira, temos que tomar vantagem total. - Disse o pai, analítico.

-Posso tentar, mas precisamos de recursos para algo tão elaborado.

-Na verdade, se usarmos o rio koda, poderemos diminuir em certo nível a vantagem deles em terra, precisamos os empurrar para a monta shillah, de onde eles vem, essa operação não deve necessitar de muitos guerreiros, na verdade, provavelmente dará mais lucro do que prejuízo. - Disse o pai, ainda mais analítico.

-Amo ver o meu pai assim, ele é tão inteligente e estrategista. - Disse roca, baixo, mas animadamente.

-De fato, ele seria considerado um gênio de onde eu vim, é uma estratégia válida. - Respondeu Dante, com admiração.

-É mais fácil falar do que fazer, Dason. - Disse o chefe, apesar de parecer ponderar a estratégia.

-Mais difícil do que manter seu irmão numa coleira? - Foi a resposta sagaz do pai, que apesar do tom de brincadeira, demonstrava um fundo de raiva.

-Sabe que ele, muito menos o filho dele, são de minha responsabilidade, não sou capaz de conter aquelas bestas. Na verdade, quem me dera, eu pudesse. - O chefe disse, novamente demonstrando cansaço.

-Sei disso chefe, mas ainda assim, não posso deixar de olhar para o seu rosto e... me lembrar daquele seu irmão. - A voz analítica de Dason se deformou em um tom irritado e áspero.

-Meus pêsames, sei o quanto o meu irmão e meu sobrinho o estão atormentando, temo pelo pior caso ele fosse o chefe. - Disse o chefe, com compaixão.

-Querido, por que não deixa as coisas aqui comigo e vai lá fora brincar com o Roca? Está precisando relaxar. - Disse a mãe de maneira calma, mas com um fundo de voz autoritário, demonstrando que a sugestão estava mais para ordem.

-A senhora conseguiria? - Disse Tarhe, com um tom interrogativo.

-Acredite, ela não passa todo o tempo lidando com os problemas da oca, ela, de algum jeito, consegue estudar, essa mulher é o bicho. Um bicho que tenho orgulho de amar. - Disse Dason, com um sorriso acalorado para a sua companheira de vida.

-Se tem tanta confiança nela, Dason. Vou ter tanta confiança quanto. - Disse o lobo-chefe, com um sorriso nos lábios.

-Agora, se me permite. - O pai se dirigiu a porta.

-Mas o que me intriga, é que você, Isamaia, falou somente de Roca, mas tem outro cheiro lá fora. - Disse o chefe, em tom leviano.

Somente esta fala, fez gelar o sangue de todos os outros quatro lobos, principalmente o do estrangeiro.

-Por que acha isso, chefe? - Disse o lobo-pai, se virando para o chefe.

-O cheiro, acabei de sentir o cheiro de rosas da essência de seu filho novamente, e imediatamente senti outra, uma de maçã, ambas distintas e constantes, além do cheiro natural misturado. - Disse o chefe, cheirando o ar novamente. - E não me recordo do cheiro desta outra criança, uma estrangeira, suponho.

A mãe suspirou de maneira cansada com a explicação e o pai, de maneira leviana, chamou os meninos:

-Meninos, estão aí, né? Entrem. - Disse o pai, sem nenhuma malícia.

-Ele vai me matar. - Disse o lobo pardo, começando a hiperventilar, as pupílas se abrindo em grandes discos negros, suando frio.

-Não vai. Ele ME ajudou, e tem nos ajudado a tempos, e nós retribuímos o favor, ele não fará nada com você, ele não é muito de preconceitos. - Disse Roca, pegando a mão do outro pequeno de maneira calma. - Vamos. - Um sorriso surgiu na face do pequeno heterocromático.

-Se vo-você confia nele, vou te-tentar também. - Disse o estrangeiro.

Entrando juntos e de mãos dadas, eles encararam o chefe, que estava virado para a porta, o pai estava ao lado da porta, com um sorriso calmante.

-É, nunca o vi por estas bandas... e seu pelo... nunca vi nada igual. - Disse o chefe, analítico.

-... - O menino continuava estático, o olhar baixo, a mão apertando a de Roca.

-De onde vem, estrangeiro? - O chefe perguntou formal, mas de maneira levemente gentil.

-... - Dante continuou estático, olhando para o chão.

-Dante? - O lobo branco sussurrou para o marrom.

Depois do empurrãozinho de Roca, o estrangeiro respirou fundo e disse:

-Sou de depois do mar, senhor. De uma terra distante. - Disse o lobinho, apertando ainda mais a mão do outro.

-Uma terra distante? - Disse o chefe, pegando algo dentro da sua jaqueta, e pos o negócio, um pedaço de papiro no chão entre eles, abrindo-o e mostrando aos garotos.

O papiro era um mapa, um mapa mundi muito atual, onde o chefe apontou para o nosso Canadá, a Ilha Melville.

-Estamos aqui, de acordo com a sua breve fala, você deve ter vindo, daqui. - O chefe disse, apontando para Portugal.

-O senhor tem um mapa-mundi?! - O lobo marrom veio um pouco a frente, puxando Roca consigo. - Achei que vocês não tivessem isso aqui.

-Não vai achar ninguém fora eu com isso, conversei com umas aves migratórias e consegui este mapa, duvido muito que alguém de qualquer povo vá querer fazer isso. - Disse Tarhe, com um esboço de sorriso. - Agora, de onde veio?

-Daqui. - O lobo-marrom apontou para a Itália. - Meus pais me mostraram quando eu tinha 4 anos.

-Entendo, então veio de muito longe, pequeno. Como conseguiu? Se é que posso perguntar.

-Bem... - O lobinho estrangeiro olhou para o outro lobinho e apertando a sua mão novamente.

“Eu nasci em um período conturbado na minha alcateia, estávamos muito fracos e com a constante competição por alimento que acontecia lá, nós ficamos com cada vez menos pessoas, até que com 50 integrantes, nós decidimos viajar, viajamos daqui até mais ou menos onde você apontou, muitos morreram durante esta viajem, inclusive os meus pais, eles morreram quando eu tinha 5 anos, eu fiquei perdido e vaguei por um ano neste local, até que enfim decidi viajar para o mar, onde passei um bom tempo até chegar aqui.”

-Uma história triste, de fato. Perdoe-me por fazê-lo se lembrar disso. - Disse o chefe, com um semblante tristonho.

-Não tem problema, eu... - Ele novamente apertou a mão do lobinho albino, sorrindo. - Achei uma outra família. - Os pais de Roca tinham os olhos brilhando com a declaração.

-Então acho que não preciso me preocupar... ao menos não com isso. -Disse o chefe, com um suspiro de alívio.

-Mas não pretendo ficar muito mais, não quero dar trabalho. - Disse o menino pardo.

-QUE?!! Não!! - Roca disse, ao abraçar Dante. - Não pode ir!

-Digo o mesmo, querido. Se sair daqui, o seu cheiro se destacará, é mais seguro aqui, conosco. - Disse a mãe, um tanto melancólica.

-Conhecendo meu irmão, ele te caçaria até na morte, não pode sair desta casa. - Disse o chefe. - Ao menos consegue construir uma oca sozinho?

-Consigo, mas eu não quero ir muito longe. - Disse o lobinho, com um sorriso acalorado direcionado ao menino que quase o sufocava com um abraço.

-Sério? - O menininho heterocromatico disse, já meio choroso.

-Sim. - Dante devolveu o abraço com mais um sorriso, Roca pareceu ainda mais radiante, agarrando o outro mais forte.

-Se quer isso e não vai tão longe... acho que não faz mal. - O pai disse, ao virar o rosto da cena, escondendo as narinas que ameaçavam ejacular o líquido escarlate da vida com tamanha fofura.

-Mas ao menos tente camuflar o seu cheiro. - Disse o chefe, agora claramente resistindo para manter a compostura.

-Vou seguir o seu conselho, senhor. Mas por precaução, vou fazer uma oca meio oculta na neve também. - Dante disse.

-Mas... hoje não. - Disse o pai, pegando nos braços, ambos os pequenos, que permaneceram de mãos dadas. - Que tal depois do torneio, Dante?

-Torneio? - Disse o menino estrangeiro, empolgado.

-Sim, aqui no nosso vilarejo, temos três torneios, o torneio dos pequenos, o torneio dos fortes e o torneio das lendas, o primeiro é feito para integrantes da vila que tem entre 7 a 12 anos, o torneio dos fortes é dos 13 até os 20, e o das lendas é dos 21 até qualquer um que ainda possa lutar. - Disse o chefe de prontidão, deixando o pai, que tinha aberto a boca para responder, com cara de idiota.

-E eu tenho um mês para me preparar. - Disse o lobinho heterocromático, de maneira desanimada.

-Mas o que exatamente vocês fazem neste torneio? - Perguntou o lobinho estrangeiro.

-Nestes torneios, nós fazemos dois testes para levar ao limite cada um dos participantes, além de mensurar as suas forças , e também servem para classificar os combatentes, isso de cada uma das idades. - Disse Dason, rapidamente, lançando um sorriso triunfante para o chefe, que agora estava com a boca aberta, feito um idiota.

-Aa, então você...

-Quero vencer o torneio para deixar de lado essa identidade de mais fraco, e conseguir o mínimo que seja de respeito. - Disse o pequeno albino em tom melancólico, acariciando com o dedão, a mão do estrangeiro que ainda segurava.

-Não fique desse jeito, filhão. - O pai disse, acariciando seu filho com a cabeça. - Você está evoluindo mais rápido do que qualquer um, tenho esperanças muito grande em você, filho.

-Dason disse tudo, Roca. Não se preocupe, você conseguirá vencer. - Disse a mãe, com um sorriso gentil.

-Sei disso, mas... - O lobinho ainda acariciou a mão do outro de maneira melancólica. - Não sei se consigo... não contra o Matto.

-O lobo filho do Aucaman? Por que? Não por falta de motivo, mas um específico. - Perguntou o chefe.

-Ele... me assusta... tem uma gangue que me persegue toda vez que vamos a vila. Tem anos... não sei se consigo.

-Querido... por que não disse nada? - Disse a mãe, horrorizada.

O lobo de olhos diferentes olhou nos olhos de quem ele estava segurando a mão, vendo a mesma questão nos olhos azuis do lobo marrom, ele então começou a soluçar, do fundo da garganta, aquele som foi crescendo, e quando estava audível o suficiente, seus olhos começaram a marejar, apertando a mão do outro como se fosse uma âncora.

-Roca. - O pai baixou ambos os meninos e abraçou o seu filho, não antes de Dante.

-Ele... tentou arrancar os meus olhos. - O menino disse, ainda aos prantos. - Disse que... se soubesse que eu disse algo sobre isso... arrancaria... de verdade. - Disse o menino, escondendo os olhos.

-Meu irmão só inflamou o maldito coração violento e sedento de sangue do meu sobrinho. - Disse o chefe, se levantando abruptamente, com um semblante irado.

-Vou matar aquele maldito pirralho. - A mãe disse, com um sorriso tranquilo e um tom sereno.

-Não precisa, Isamaia. - Disse Dante, ao se desvencilhar do abraço, os olhos marejados também, compartilhando arduamente de sua dor. - O próprio Roca vai fazer isso, eu vou garantir. - O lobo pegou na mão do outro levemente, se dirigindo a porta. - Voltamos em algumas horas.

Os pais não lutaram contra quando os meninos pegaram seus equipamentos e foram embora, de mãos dadas, eles correram no meio das árvores, e acharam um ponto plano, uma clareira, parando, Dante se virou para o albino envolto na manta marrom.

-Eu vou te treinar para você meter a mão na cara do Matto. - Disse Dante, convicto.

-Mas você...

-Sim, eu tenho a sua idade, mas estes anos na estrada e neste ano perdido em Castella, eu aprendi artes marciais, artes de armas, de caça, de comércio, tudo que pude aprender, creio também que minhas andanças desde cedo ajudaram nas minhas formações - Disse Dante, seriamente, levantando os braços a frente do corpo, como se fosse assustar Roca. - Agora, deixe-me ver o quanto você sabe.

-Isso é ridículo, Dante. - Disse o lobo albino, com certo medo.

-Não acho, você tem um mês, e o teme, não quero que fique parado e eu mesmo quero ajudar, esse é o único jeito que consigo pensar em como o ajudar, então por favor. - Disse Dante, ainda centrado.

-... tem certeza?

-Tenho.

-Tá bom. - Roca disse, ao tirar o casaco, o enrolar e deixar no chão, perto de uma árvore.

Voltando, ele ficou a um metro de seu recém conhecido amigo, ele levantou os punhos, como um boxeador, os olhos de ambos em concentração total.

Dante atacou primeiro, passando o metro que os separava em uma arrancada, jogando o braço de maneira a parecer um chicote na direção de seu oponente, acertando o antebraço de Roca com um estrondo violento, seguido disso, o lobo albino revidou, um soco de direita, na direção da boca de Dante, o lobo estrangeiro desviou, se abaixando de prontidão, sem nenhuma dificuldade, e junto do flúido movimento, ele deu uma rasteira no albino, que assim que tocou o chão, recebeu o peso todo do corpo do pardo sobre si, além de um ataque frontal da mão de Dante, o ataque parou a centímetros da testa do heterocromático, que tinha os olhos focados na garra do dedo médio , o desespero total refletido neles.

-Você não serve para este estilo de luta. - Disse Dante, sério. - É bruto demais para você.

-Meu pai já disse isso para mim uma vez, mas não sei nada fora isso.

-Eu sei. - O lobo pardo se levantou e deu a mão para o outro se levantar.

-Eu percebi, será que posso aprender este estilo?

-Claro que pode. - O pardo sorriu, deixando a seriedade de lado um pouco. - Ficará ainda mais forte do que eu se lutar usando este estilo, agora vamos, vou te reeducar.

Conto de uma história longínqua. (Furry) (Yaoi) (Lemon)Onde histórias criam vida. Descubra agora