-Suponho que sim, Ubiratã. - Disse Roca, ao encarar o cervo com um olhar atento, mas não letal.
-Era você esse tempo todo?! Seu merda, não bastou nos espancar ano após ano, ainda teve que começar a nos curar também, né?!! Só para nos ver cair de novo!! - O pequeno cervo bradou, pegando outra lança que ele carregava a pondo em posição.
-... -Roca se ergueu.
-DIGA ALGO!!!! - o cervinho disse, a ira irradiando como a temperatura sufocante de um vulcão.
-Me desculpe. - Roca disse, ao se curvar, a cabeça indo um pouco para baixo.
-... - Ubiratã nada disse, parecendo realmente surpreso, mas regressando a si, o cervo menor jogou a lança para contra Roca com um grito.
O projétil de pedra riscou o ar na direção do lobo albino, que nem sequer se mexeu para desviar daquela arma, e nem sequer pretendia, creio eu... ao menos ele não pretendia.
Dante, com uma proeza digna de um mestre, pegou a lança em pleno ar, e se girando no ar, ele a lançou-a de volta, fazendo o projétil pontudo passar raspando pelo rosto do menor e se cravar nos degraus da escada.
-Não vai morrer tão fácil, Roca. - Disse Dante, calmamente, ao pousar com graça.
-Dante! Ele merece o meu sangue nas mãos, eu realmente... só os usei, não fui forte o suficiente para desafiar o vilarejo... e isso custou muitas vidas. - Roca disse irado, se erguendo da reverência.
-Mas eu não fiz nada para merecer isso, ne? Não preciso viver com o peso da sua perda. - Dante disse, sereno.
Roca arregalou os olhos, de repente percebendo o erro que ia cometer, então, com tal percepção, ele abraçou Dante, e com um tom que precedia um soluço de tristeza ele disse:
-Me desculpe.
-Sei que não for por mal. - Dante disse sereno ao acariciar a cabeça de Roca.
-CHEGA DESSA MERDA!!! - Ubiratã finalmente voltou a si do susto e bradou em desafio, pegando a lança que Dante jogou. - JA QUE NAO QUER AJUDAR, NAO ATRAPALHE!!!
O cervo deu um salto, erguendo a lança ao lado do corpo.
Mesmo em meio aquele abraço, Dante se virou e com a mão esquerda, desviou a trajetória da lança para o lado, em seguida, rotacionando a mão, fazendo a arma voar da mão de Ubiratã, que ao cair ao chão, avançou com as galhardas.
Dante se desviou para o lado de maneira elegante, como se dançasse valsa com Roca, mas foi surpreendido pela repentina parada de Ubiratã, que virou sua cabeça, arremessando suas galhardas para contra o casal.
Com tal movimento, Dante aproveitou o rodopio e chutou o pescoço do cervo, que junto da energia usada para jogar as galhardas, fez o cervo desmaiar.
-Não deveria ter sido tão bruto, acertar a cabeça teria o desnorteado o suficiente. - Comentou Roca, ao erguer um pouco a cabeça.
-Eu sei, mas precisamos amarra-lo. Acho que ele não deixará se não for assim. - Dante disse ao repousar a cabeça sobre a cabeça de Roca. - Não concorda?
-... creio que sim.
Os dois lobos então se desvencilharam e amarraram o cervo a uma cadeira com destreza e firmeza, algo bem notável, considerando o quanto o cervo pequeno se contorcia na cadeira depois que acordou.
-EU VOU TE MATAAAAAR!!! - O cervinho bradou, se movendo de um lado para o outro na cadeira colada ao chão.
-Não vai. - Dante disse, ao passar o braço pelo pescoço de Roca. - Ele já sofre o suficiente, a morte só vai ser um alívio.
-MENTIRAAAA!!!- O cervo disse, se jogando de um lado para o outro, as cordas o contendo com muita determinação.
-Eu só faço o que eu faço porque não tenho escolham e eu faço o mínimo de esforço nas caças, deixei muitos escaparem e curei vocês, além de lhes dar armas e...
- Espera. - Dante disse, de repente, seus olhos brilhando com uma compreensão repentina. -Roca... acho que sei como podemos compensar os cervos, nos livrar dos lobos e nos ver livres.
-Como? - Roca questionou, curioso.
Dante então começou a sussurar em seu ouvido, a cada frase, os olhos de Roca se abriam mais, e ao fim da explicação, um sorriso malévolo enfeitava sua face, sendo mal contido por um tick que Roca tinha adquirido, o de roer a garra do dedão.
-Sim... é perfeito, amor. - Roca disse, mudando ligeiramente o seu sorriso para algo menos ameaçador, e dando um beijo na bochecha do marrom, que corou.
-O que os dois pombinhos estão discutindo aí?! - Ubiratã disse, em desafio.
-Sabe... meu amor ali acabou de ter uma ideia das mais diabólicas... mas para a executar, precisaremos de sua ajuda. - Disse Roca, de maneira arrastada e com fundo de arrogância, os olhos brilhando com uma luz altiva e infindável, o andar quase assassino ao se dirigir ao cervo e se sentar em um dos braços da cadeira, cruzando as pernas e olhando as próprias garras de maneira desinteressada. - O que acha?
-Jamais!! Não vou me juntar a um exterminador! - Ele disse, firmemente.
-Não recuse tão fácil. - Roca disse, ainda mais arrastado. - Se aceitar, poderá ter sua vingança contra os lobos, tenho quase certeza que meu antecessor fez coisas ainda piores do que eu... além de que, se aceitar, poderá viver como quiser com o Piatã. O que acha, amore? - Roca disse, levemente movendo o queixo do cervo para que ambos se olhassem, o olhar de Roca sendo quase hipnótico.
-E se eu não quiser? - Disse o birrento Ubiratã, parecendo ligeiramente assustado ao encarar as orbes de puro inferno que eram os olhos de Roca.
-Vamos te soltar, e você continuará nessa rotina pela eternidade, sempre se escondendo em meio as árvores para poderem desfrutar do prazer de estarem juntos, o que prefere? - Roca disse, a lábia arrastada como um chicote que açoitava a vontade de Ubiratã.
-... os pais do Piatã... ele é muito apegado a eles, e vice versa, você salvou eles quando estavam doentes... acho que posso dar o meu voto de confiança, depois de tantos benefícios e por ter me feito esse favor. - Ubiratã disse, relutante.
-Pois bem. - Dante disse, ao bater uma palma. - Com isso resolvido, acho que posso lhe dizer o que planejo, e a partir disso, você guiará a vila.
-... para o que exatamente, se é que posso perguntar? - O pequeno cervo perguntou, desdenhoso.
Com tal pergunta, Roca novamente abriu um sorriso de orelha a orelha, um sorriso cheio de presas macabras, além de um brilho em seus olhos bicolores que pareciam refletir a própria loucura, e assim sendo, o lobo albino se levantou, calmamente se dirigindo a Dante, abraçando o seu pescoço enquanto o pardo envolvia sua cintura, fazendo a perna esquerda de Roca se dobrar, como se tivesse sentindo algo por sob aquela pata.
Ambos os lobos olharam para o cervo, um brilho assassino irradiando de ambos os pares de olhos e de dois pares de sorrisos cheios de presas, então, em uníssono, ambos disseram com uma alegria sem igual:
-Para a destruição da vila dos lobos.
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Conto de uma história longínqua. (Furry) (Yaoi) (Lemon)
AdventureEm um mundo onde existem animais que podem andar sob duas patas, usar as mãos e mais umas coisinhas (dependendo da espécie, claro), um lobinho-marrom chega a distante ilha de melville, e lá, ele encontra algo que não tinha desde os 5 anos: uma famíl...