No dia seguinte, ambos fizeram exatamente o que fariam normalmente, e Roca pôs a sua roupa e sua cesta cheia de remédios e ao sair, Roca disse:
-Vou dar uma última olhada nos lobos, e cedarei eles mais um pouquinho, assim que eu voltar, a gente vai embora, nos encontramos com os dois cervos e vamos para longe... esse era o plano, né?
-Sim. Quando você voltar, estarei te esperando lá na casa de seu pais. - Dante disse, com um sorriso.
-Não precisa, eu mesmo falo para eles da fuga, mor.
-Disso eu tenho certeza, só quero estar lá para quando formos falar... disso, sabe? Acho que não vai conseguir falar isso tudo sozinho, não?
-Ah... é... acho que vou precisar de ajuda nisso. - Roca falou sem graça e com um sorriso. - Mas... não vamos pensar nisso agora, só vou lá para por o plano em prática, até.
-Até. - O pardo disse com um sorriso.
Roca, lenta e vagarosamente, novamente saiu da oca que fora a sua casa, mas desta vez, esperando não voltar mais.
Chegando na divisão novamente, o menino dos olhos diferentes observou os lobos se organizando naquela bela manhã, e de sua cesta, retirou um saco de couro, o deixando ali, uma bolsa de couro, que exalava uma substância, que viria a se espalhar por aquela aldeia devido ao vento oportuno, mas... Roca não contaria somente com isso.
Se dirigindo a vila, ele calmamente fez a inspeção diária, vez ou outra, pondo um ou outro saquinho em lugares escondidos em meio as árvores e as casas, vendo que os lobos já pareciam ligeiramente afetados pelo remédio.
Quando aquilo enfim estava acabando, ele passou por um grupo de crianças, que lhe saudaram agradavelmente, o que ele retribuiu agradavelmente, e entre elas, Roca viu a filha de Tarhe, uma garotinha alegre e extremamente energética, envolta pelos outros lobinhos.
-Aiyra, pode vir aqui? - Roca chamou a menina levianamente.
A garotinha falou com as outras crianças que a rodeavam, e foi com Roca, se afastando daquele grupinho, se vendo sozinhos, Roca pôs a mão no ombro da menina e sussurrou em sua orelha:
-Diga ao seu pai, para levar você, sua mãe e o máximo de crianças o possível para o templo ainda hoje, diga também, para fazerem um jejum de 14 dias. - Roca disse sereno e sorridente.
-Mas, senhor Xamã, lá é muito chato e jejum, senhor? Não gosto de passar fome! - A menina disse, ligeiramente deprimida.
-Eu sei, mas peça mesmo assim, tá bom? Diga que fui eu quem pediu, tá?
-Mas, por que, senhor?
-Bem querida... digamos que eu quero fazer uma coisa aqui na vila, e pode acabar sendo mortal para quem não precisa, como você e seus pais. - Roca respondeu se abaixando e pondo a mão na cabeça da menina. - Então, por favor querida, se puder fazer esse favor para mim, posso te dar um pouco mais daquele doce que você gostou.
-SÉRIO?! - A menina disse com um brilho nos olhos.
Roca abriu a cesta novamente e de lá, retirou um enrolado e deu a menina, que o pegou rapidamente e cheirou, como quem sentia o aroma de uma flor, ela arfou, extasiada, e disse:
-Costeleta de javali com mel, não tem coisa melhor.
-Tem mais se você fizer o que eu pedi.
-Claro, senhor Xamã! - A menina disse, se voltando sorridente para a sua pequena, tanto em tamanho quando em número, matilha.
E assim sendo, o Xamã, se ergueu e seguiu em frente... na verdade, não tão em frente assim.
-SEU ANORMAL!!! - Uma voz grossa ecoou pela vila, essa, extremamente comum de ecoar naquele vilarejo, tanto, que ninguém prestou atenção ao grito de uma voz que convenhamos, todo mundo já reconheceu e cuja o detentor fez Roca revirar os olhos.
-Ai, Matto, que foi agora? - Roca disse irritado, enquanto se virava ao girar sobre os próprios pés, encarando o lobo ensandecido de maneira debochada. - Vai dizer DE NOVO que meu gingado é "de fêmea demais para o ser mais forte"? Ou será que vai ser aquilo de eu ser um covarde? Eu juro que se for isso de novo, eu vou...
-NADA DISSO, EU VI, VI VOCÊ SER CARREGADO POR UM MACHO COMO SE FOSSE UMA FÊMEA!!! APOSTO QUE SE "ENTROSARAM" TAMBÉM!! - Esse grito chamou atenção de algumas pessoas que passavam por ali. - PARA PIORAR, ESSE SUPOSTO MACHO ERA MARROM!! A COR DO TRAIDOR!!! - ISSO despertou ainda mais a curiosidade dos ouvintes.
-...eeeee? -Roca pergunta ao girar o pulso. - Quem disse que fui eu? Como poderia ser eu? Quem seria esse outro lobo? Como diabos você sequer sabe que viu isso? Como chegou a essa conclusão de que eu e esse lobo marrom imaginário nos "entrosamos"? E acima de tudo, tem sequer uma prova disso? Fora o seu testemunho, claro? - Roca perguntou desdenhoso enquanto levantava um dedo a cada pergunta.
-COMO OUSA ACHAR QUE NÃO TENHO PROVAS SE VOCÊ ESTÁ COM UM CHEIRO MUITO FORTE DE OUTRO LOBO EM VOCÊ?! - Matto apontou acusatoriamente para Roca ao dizer tal frase, fazendo muitos olhares e narizes se voltarem para o menino dos olhos diferentes.
Roca levantou uma das axilas e se cheirou, sentindo que o seu perfume de rosas era levemente cortado pelo cheiro natural de Dante, imediatamente, o menino soltou um suspiro cansado e disse, tão cansado quanto:
-Deve ter ser o cheiro do sangue de alguns pacientes misturados, se é que me entendem.
-MAS ISSO É CHEIRO DE LOBO!!
-... tem certeza? -Roca perguntou desdenhoso, enquanto revirava os olhos.
-SEU...
-Eu vi uma coisa suspeita também!! - Um lobo veio da multidão, erguendo o braço, portando um arco nas mãos. - Eu vi sombras na floresta algumas vezes, e pude distinguir pelo branco e marrom vez ou outra, mas achei que fosse coisa da minha cabeça.
-VIU?!! NÃO SOU O ÚNICO!! - Matto disse, triunfante.
-Não foi o único que VIU UM LOBO MARROM COM UM LOBO BRANCO, agora, diga-me, oque te diz, além das suas suposições, que sou eu ali? - Roca disse desdenhoso.
-Na verdade... - Um lobo de no máximo 1,60 saio do meio da multidão ali formada. - Eu vi uma vez você indo coletar folhas medicinais ao lado de um lobo marrom... talvez possa ser o mesmo. - Shilah disse, abrindo um sorrisinho.
-Três pessoas, "xamã", junto do cheiro desconhecido, acho que podemos supor que você realmente é ainda mais ABOMINÁVEL do que já sabíamos que você era. - O lobo maluco disse abrindo um sorriso assassino.
-...ahhh, minha única lamúria é que sejam vocês a descobrirem isso primeiro. - Roca disse, mudando de humor novamente, agora, falando serenamente.
-ENTÃO ADMITE QUE VOCÊ ACOBERTOU UM FORASTEIRO E AINDA SE DEITOU COM ELE, MESMO SENDO UM MACHO?! - Matto disse ao se pôr em quatro patas.
-Sim, sim, eu o acobertei por anos, tive e tenho uma relação com ele, apesar de nossos gêneros, e além de tudo... não me arrependo de nada, até porque foi ele quem permitiu que tudo o que fiz por vocês fosse verdade. - Roca disse sereno, ao deixar sua cesta no chão e abraçar os cotovelos. - E aí, o que farão agora que sabem?
Shilah foi para o lado de Matto, abrindo um sorriso cheio de presas e se pondo em posição, inclusive dando ticks nos lábios de ambos, Roca só ficou ali parado, até que ambos atacaram juntos e Roca, em um só movimento fluído, abriu seu casaco e tirou dois frascos, e, exatamente no momento em que ambos os lobos saltaram para lhe abocanhar, ele jogou os frascos nos rostos dos dois, que ao irem ao chão, começaram a se contorcer e a segurar a garganta, parecendo sufocar, suas peles começando a ter erupções e a se avermelharem na mesma medida.
-Olhem... tenho nessa cesta, o suficiente dessa substância para deixar a vila toda assim, então, a menos que fiquem de boca fechada sobre esse assunto... garantirei que fiquem do mesmo jeito. - Roca disse, sereno e sorridente, com nenhum respingo de intenção assassina. - Agora... se me permitem, irei me retirar para nunca mais voltar... já que pelo que percebi, não gostam da pessoa que meu coração decidiu escolher, até. - Roca disse, ainda sorridente e acenando com a pata direita enquanto com a esquerda pegava sua cesta e se via em um caminho feito por furrys assustados, mas principalmente indignados.
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Conto de uma história longínqua. (Furry) (Yaoi) (Lemon)
AdventureEm um mundo onde existem animais que podem andar sob duas patas, usar as mãos e mais umas coisinhas (dependendo da espécie, claro), um lobinho-marrom chega a distante ilha de melville, e lá, ele encontra algo que não tinha desde os 5 anos: uma famíl...