pov's Nicole
Observo Sara se distanciar junto de Sarae, logo as duas somem atrás de alguns brinquedos e eu fico de longe observando.
— Com licença — Um atendente põe meu pedido sobre a mesa.
— Obrigado, pode deixar o mousse aí também — Oriento.
— Qualquer coisa pode chamar, com licença — Ele se afasta.
Dou um colherada no sorvete e me surpreendo, é simplesmente maravilhoso. Enquanto degusto meu sorvete escuto a voz das três crianças e a risada da babá se aproximando.
— Eu disse! — Luige afirmar já próximo o suficiente para que eu entenda.
— Nunca, nunca, não! — Siera diz firme.
— Vamos ver os doces — Sara os chama.
— Vamos! — Os três falam juntos.
— Podem escolher qualquer coisa? — Sara questiona e eu balanço a cabeça em positivo.
— Pede sempre dos menores, e um doce por vez — Explico para Sara.
— Escutaram, né? - Ela pergunta para os três que afirmam com a cabeça dando pequenos pulos animados em volta da babá.
Continuo tomando meu sorvete enquanto dou uma olhada no ambiente, então pego meu celular e tiro uma foto do local. Depois disso entro nas redes sociais e dou uma olhada no que alguns conhecidos e algumas celebridades que sigo postaram.
— Meu mousse vai derreter — A voz de Sara se faz presente.
Desvio o olhar do aparelho celular e olho para ela, dou uma olhada ao seu redor procurando algum sinal de pelo menos um de meus filhos.
— Cadê as crianças? — Questiono curiosa enquanto tomo minha última colherada do sorvete.
— Ainda estão escolhendo com a ajuda de uma atendente, eles já vem — Ela responde dando a primeira colherada em seu mousse.
Ficamos em silêncio por um tempo, meus olhos ficam passeando pelo ambiente e diversas vezes posam sobre a mulher negra em minha frente.
Eu te amava tanto... Meu cérebro sussurra derrepente e então percebo que estou a encarando, ela abre um sorriso assim que percebe.
— Eu sei que sou linda — Fala de forma convencida e tenho vontade de revirar os olhos e lhe dar um tapa na cara para deixar de ser tão convencida, no entanto me controlo.
— Tava só viajando — Respondo com um sorriso sem graça no rosto.
— Rússia? Paris? Canadá? Argélia? — Questiona brincando.
— Irlanda, já conheceu? — Questiono entrando na brincadeira.
— Nunca saí desse país — Responde rindo — Mas se quiser me levar, nem que seja para algum país vizinho, eu tô aceitando — Ela fala cobrindo a boca enquanto mastiga.
— Acho que não — Respondo e vejo as crianças voltando.
— Esse parece muito bom! — As gêmeas falam juntas.
— O que é? — Pergunto curiosa.
— De morango e chocolate — Sarae responde.
— O meu é uma torta de morango com leite — Luige responde pondo o prato sobre a mesa e se sentando.
— Vou pedir uma porção de cookies, vão querer também? — Pergunto me direcionando a meus filhos.
Os três balançam a cabeça em positivo e então olho para Sara que parece concentrada em sentir o sabor de seu mousse.
— Oi? — Ela pergunta quando percebe que estou a olhando.
— Vai querer cookie? Vou pedir uma porção.
— Aceito — Ela fala e então leva mais uma colherada do mousse a boca.
Depois dos cookies, as crianças foram brincar mais e nós continuamos sentadas, as vezes começava-mos uma conversa ou outra, porém algo sempre nos fazia voltar ao silêncio. Quando a noite começou a despontar no céu, vie-mos embora para casa.
Estou agora em minha cama, deitada de barriga para cima olhando para o nada, só consigo enchergar o breu e uma leve luz da rua que não não ilumina praticamente nada. Meus pensamentos vagam nos últimos acontecimentos, e todos eles tem uma coisa em comum, ou melhor, alguém em comum, Sara.
Ontem o dia foi tão estranho, parecia estar em um mundo idealizado por mim, acordar ao lado de Sara, ver ela cuidando das crianças, comemorar o aniversário das meninas somente nós cinco... Se fossemos um filme sem voz, certamente o telespectador diria que somos uma família.
E eu sinceramente não sei explicar nada do aconteceu, são anos seguindo o roteiro sem nunca sair e eu me preocupei tanto quando a uma semana atrás o passado bateu em minha porta, me entregou uma borracha e um lápis e disse "Escreva". Eu pensei que ia me sentir mal, culpada, mas eu só tenho vontade de escrever mais e mais e nunca parar...
pov's Sara
Depois que a abandonei, pensei que avia apagado qualquer possibilidade de ter uma família com Nicole e acho que realmente apaguei. Porém o que passamos hoje, desde acordar ao lado dela, ao cantar parabéns para as gêmeas sentadas na mesa de uma doceria... Tudo isso me fez querer ter a família que a anos atrás descartei.
Me encosto na parede fria e olho para o teto por alguns minutos, pego meu notebook e ligo em vídeo chamada para Âmbar.
— Hello — Ela atende com voz de sono.
Vejo que está deitada, a pouca luz que clareia sua face é a que o seu notebook emite.
— Oi, como você tá? — Pergunto.
— Com... Sono — Ela boceja — E você? Tá me ligando agora, aconteceu alguma coisa?
— Aconteceu — Confirmo — Aconteceu que eu quero ter uma família — Confesso.
— Pera, que? Acho que tô com sono demais pra entender o que você disse, espera — Ela pede e a vejo se sentar na cama e aceder alguma luz fraca — Fala de novo.
— Eu quero ter uma família Âmbar.
— Ok, agora me explique isso — Ela pede e pega algo atrás do notebook, que vejo ser uma garrafinha d'água.
— Eu estou sendo babá, isso você sabe... Só que eu tenho um filho — Falo e a vejo cuspir toda a água que estava em sua boca.
— Calma! Um filho? — Ela pergunta curiosa e surpresa.
— Ele morreu a anos, e hoje... O teste de gravidez, o aniversário das crianças...
— Você sente que falta algo? — Ela pergunta demonstrando solidariedade — Você quer ser mãe?
— Não, eu sinto que não falta nada e esse é o problema! A mãe das crianças é simplesmente a mulher mais incrível que existe, o sorriso dela, o jeito carinhoso que cuida das crianças...
— Caralho, por isso eu não esperava! Isso é um filme? Um livro? A fanfic da babá?
— O que é uma fanfic? — Questiono perdida.
— Deixa pra lá, você tá velha demais para isso!
— Obrigado por me chamar de velha na minha cara — Falo revirando os olhos.
— Tá bom, mas esquece! Deixa eu ver se entendi, você está apaixonada pela mãe das crianças? É isso?
— Não... — Respondo a verdade.
Eu não estou apaixonada por Nicole, a paixão acabou a muito tempo, eu amo Nicole! Eu sempre amei e a minha vontade é de pegar meu carro e dirigir até a casa dela, ficar gritando no portão e só parar quando ela me aceitar devolta.
— Sara, são quase duas da manhã, pode ser mais clara por favor.
— Você está cansanda e eu também, depois conversamos mais.
— Tchau — Ela fala e encerra a ligação sem cerimônia de despedida.
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O PASSADO SEMPRE VOLTA
RomanceApós uma briga, Sara abondana sua esposa. Anos depois ela volta e descobre que Nicole está casada e vive feliz com uma família perfeita. Não se sabe se foi o universo, os deuses ou somente coincidência. Sara procurava por emprego e Nicole por uma ba...