#18

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pov's Nicole

Observo Sara se distanciar junto de Sarae, logo as duas somem atrás de alguns brinquedos e eu fico de longe observando.

— Com licença — Um atendente põe meu pedido sobre a mesa.

— Obrigado, pode deixar o mousse aí também — Oriento.

— Qualquer coisa pode chamar, com licença — Ele se afasta.

Dou um colherada no sorvete e me surpreendo, é simplesmente maravilhoso. Enquanto degusto meu sorvete escuto a voz das três crianças e a risada da babá se aproximando.

— Eu disse! — Luige afirmar já próximo o suficiente para que eu entenda.

— Nunca, nunca, não! — Siera diz firme.

— Vamos ver os doces — Sara os chama.

— Vamos! — Os três falam juntos.

— Podem escolher qualquer coisa? — Sara questiona e eu balanço a cabeça em positivo.

— Pede sempre dos menores, e um doce por vez — Explico para Sara.

— Escutaram, né? - Ela pergunta para os três que afirmam com a cabeça dando pequenos pulos animados em volta da babá.

Continuo tomando meu sorvete enquanto dou uma olhada no ambiente, então pego meu celular e tiro uma foto do local. Depois disso entro nas redes sociais e dou uma olhada no que alguns conhecidos e algumas celebridades que sigo postaram.

— Meu mousse vai derreter — A voz de Sara se faz presente.

Desvio o olhar do aparelho celular e olho para ela, dou uma olhada ao seu redor procurando algum sinal de pelo menos um de meus filhos.

— Cadê as crianças? — Questiono curiosa enquanto tomo minha última colherada do sorvete.

— Ainda estão escolhendo com a ajuda de uma atendente, eles já vem — Ela responde dando a primeira colherada em seu mousse.

Ficamos em silêncio por um tempo, meus olhos ficam passeando pelo ambiente e diversas vezes posam sobre a mulher negra em minha frente.

Eu te amava tanto... Meu cérebro sussurra derrepente e então percebo que estou a encarando, ela abre um sorriso assim que percebe.

— Eu sei que sou linda — Fala de forma convencida e tenho vontade de revirar os olhos e lhe dar um tapa na cara para deixar de ser tão convencida, no entanto me controlo.

— Tava só viajando — Respondo com um sorriso sem graça no rosto.

— Rússia? Paris? Canadá? Argélia? — Questiona brincando.

— Irlanda, já conheceu? — Questiono entrando na brincadeira.

— Nunca saí desse país — Responde rindo — Mas se quiser me levar, nem que seja para algum país vizinho, eu tô aceitando — Ela fala cobrindo a boca enquanto mastiga.

— Acho que não — Respondo e vejo as crianças voltando.

— Esse parece muito bom! — As gêmeas falam juntas.

— O que é? — Pergunto curiosa.

— De morango e chocolate — Sarae responde.

— O meu é uma torta de morango com leite — Luige responde pondo o prato sobre a mesa e se sentando.

— Vou pedir uma porção de cookies, vão querer também? — Pergunto me direcionando a meus filhos.

Os três balançam a cabeça em positivo e então olho para Sara que parece concentrada em sentir o sabor de seu mousse.

— Oi? — Ela pergunta quando percebe que estou a olhando.

— Vai querer cookie? Vou pedir uma porção.

— Aceito — Ela fala e então leva mais uma colherada do mousse a boca.

Depois dos cookies, as crianças foram brincar mais e nós continuamos sentadas, as vezes começava-mos uma conversa ou outra, porém algo sempre nos fazia voltar ao silêncio. Quando a noite começou a despontar no céu, vie-mos embora para casa.

Estou agora em minha cama, deitada de barriga para cima olhando para o nada, só consigo enchergar o breu e uma leve luz da rua que não não ilumina praticamente nada. Meus pensamentos vagam nos últimos acontecimentos, e todos eles tem uma coisa em comum, ou melhor, alguém em comum, Sara.

Ontem o dia foi tão estranho, parecia estar em um mundo idealizado por mim, acordar ao lado de Sara, ver ela cuidando das crianças, comemorar o aniversário das meninas somente nós cinco... Se fossemos um filme sem voz, certamente o telespectador diria que somos uma família.

E eu sinceramente não sei explicar nada do aconteceu, são anos seguindo o roteiro sem nunca sair e eu me preocupei tanto quando a uma semana atrás o passado bateu em minha porta, me entregou uma borracha e um lápis e disse "Escreva". Eu pensei que ia me sentir mal, culpada, mas eu só tenho vontade de escrever mais e mais e nunca parar...

pov's Sara

Depois que a abandonei, pensei que avia apagado qualquer possibilidade de ter uma família com Nicole e acho que realmente apaguei. Porém o que passamos hoje, desde acordar ao lado dela, ao cantar parabéns para as gêmeas sentadas na mesa de uma doceria... Tudo isso me fez querer ter a família que a anos atrás descartei.

Me encosto na parede fria e olho para o teto por alguns minutos, pego meu notebook e ligo em vídeo chamada para Âmbar.

— Hello — Ela atende com voz de sono.

Vejo que está deitada, a pouca luz que clareia sua face é a que o seu notebook emite.

— Oi, como você tá? — Pergunto.

— Com... Sono — Ela boceja — E você? Tá me ligando agora, aconteceu alguma coisa?

— Aconteceu — Confirmo — Aconteceu que eu quero ter uma família — Confesso.

— Pera, que? Acho que tô com sono demais pra entender o que você disse, espera — Ela pede e a vejo se sentar na cama e aceder alguma luz fraca — Fala de novo.

— Eu quero ter uma família Âmbar.

— Ok, agora me explique isso — Ela pede e pega algo atrás do notebook, que vejo ser uma garrafinha d'água.

— Eu estou sendo babá, isso você sabe... Só que eu tenho um filho — Falo e a vejo cuspir toda a água que estava em sua boca.

— Calma! Um filho? — Ela pergunta curiosa e surpresa.

— Ele morreu a anos, e hoje... O teste de gravidez, o aniversário das crianças...

— Você sente que falta algo? — Ela pergunta demonstrando solidariedade — Você quer ser mãe?

— Não, eu sinto que não falta nada e esse é o problema! A mãe das crianças é simplesmente a mulher mais incrível que existe, o sorriso dela, o jeito carinhoso que cuida das crianças...

— Caralho, por isso eu não esperava! Isso é um filme? Um livro? A fanfic da babá?

— O que é uma fanfic? — Questiono perdida.

— Deixa pra lá, você tá velha demais para isso!

— Obrigado por me chamar de velha na minha cara — Falo revirando os olhos.

— Tá bom, mas esquece! Deixa eu ver se entendi, você está apaixonada pela mãe das crianças? É isso?

— Não... — Respondo a verdade.

Eu não estou apaixonada por Nicole, a paixão acabou a muito tempo, eu amo Nicole! Eu sempre amei e a minha vontade é de pegar meu carro e dirigir até a casa dela, ficar gritando no portão e só parar quando ela me aceitar devolta.

— Sara, são quase duas da manhã, pode ser mais clara por favor.

— Você está cansanda e eu também, depois conversamos mais.

— Tchau — Ela fala e encerra a ligação sem cerimônia de despedida.

O PASSADO SEMPRE VOLTAOnde histórias criam vida. Descubra agora