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pov Nicole

Pouco mais de um mês se passou depois do acidente, e minha vida se resume a trabalho, hospital e advocacia. Estou tentando convencer Algusto a me deixar em paz, para me atingir ele entrou na justiça com um pedido de guarda permanente das crianças, incluindo Luige, ele alega ter direito por ter registrado e "criado" o menino.

Sara ainda não deu nem um sinal de que irá acordar, segundo os médicos dois meses é muito tempo, os sinais cerebrais dela estão muito baixos, e se ela não acordar em poucos dias terei de ou liberar o desligamento dos aparelhos ou responder judicialmente, porquê parece que é crime manter uma pessoa sem expectativa de vida ocupando uma vaga em hospital.

- Mãe? - A voz de Luige me desperta dos pensamentos.

- Oi?

- Por que o Algusto disse que eu não devo chamar ele de papai? - Luige pergunta inocentemente.

Sinto meu coração doer, sim, Algusto é cruel e sei que é bem capaz de ter dito isso para a criança.

Eu ainda não tive tempo de ter a conversa com ele, acho que precisava me preparar antes. Respiro fundo e começo a falar sem parar para pensar muito, para não ter o risco de desistir.

- Sabe quando a mamãe era mais nova, alguns anos atrás, quando você nem tinha nascido ainda... - Começo a falar.

- Então faz muito tempo? - Ele pergunta surpreso.

- Um pouquinho. - Respondo - Bom, eu ainda tava na escola, e lá a mamãe conheceu uma garota linda!

Ele fica me olhando atento e fazendo caretas alegres e curiosas.

- Quem era? - Pergunta de supetão.

- Calma, deixa a mamãe contar, daí eu falo quem ela é, tá?

- Aham! - Ele balança a cabeça em positivo.

- Nós namoramos e casamos - Conto para ele e ele faz uma cara surpresa abrindo a boca.

- Igual com o papai? - Questiona.

- Parecido. Sabe o que aconteceu? Nós nos amávamos muito, e daí depois de um tempo descidimos dividir um pouquinho esse amor, então a gente foi atrás de um médico.

- Mas vocês tavam dodóis?

- Não, esse médico é diferente, ele é o médico da felicidade, ele ajuda as pessoas que querem dividir o amor. - Explico de maneira lúdica - Daí ele foi lá, pegou uma sementinha chamada óvolu da barriga dela, e ele colocou essa sementinha na minha barriga e então ela começou a crescer e virar um bebê.

- Um bebê? - Ele pergunta surpreso com os olhos arregalados.

- Sim! Só que um dia percebemos que o amor tinha mudado, então ela descidiu ir embora - Conto e ele faz uma cara tristonha - Então a mamãe com o bebê na barriga conheceu o papai e se casou com ele.

- E o que aconteceu com o bebê? - Ele pergunta.

Engulo em seco e agora é a hora mais difícil de explicar.

- O bebê cresceu e mamãe deu pra ele o nome de Luige - Conto.

Ele arregala os olhos e aponta para si mesmo.

- Eu?

- Sim, você! - Respondo receosa.

- Quem é a outra mamãe? - Questiona engatinhando até mim por cima do sofá e sentando no meu colo.

- Antes de te responder, você desculpa a mamãe por ter mentido? - Pergunto me sentindo culpada.

Ele me olha confuso e balança a cabeça em positivo, em seguida passa os bracinhos envolta do meu pescoço.

- A Sara. - Respondo com certo medo de sua reação.

- A Sara é minha mamãe? - Ele pergunta surpreso e tristonho - Por que ela, não me disse? Porque eu gosto muito dela, e ela, ela podia dizer pra mim.

- A mamãe fez algo errado. - Conto para ele, que me olha com os olhinhos brilhando de tristeza - A mamãe mentiu pra ela, disse que o bebezinho tinha virado um anjinho ainda na barriga da mamãe.

- Por que?

- Porque a mamãe não é perfeita filho - Meus olhos enchem de lágrimas - A mamãe foi egoísta, a mamãe te queria só pra ela, entende?

Ele balança a cabeça em positivo e passa a mãozinha na minha bochecha.

- Você tá chorando por quê? - Pergunta e vejo seus olhinhos já se enchendo de lágrimas.

- Não chora filho! - Falo para ele - A mamãe tá triste, você não precisa ficar triste também, tá? - Ele balança a cabeça em positivo e me abraça.

Desde pequeno sempre foi sensível aos sentimentos a sua volta, quando vê alguém estressado facilmente se estressa, ou feliz, ou triste, enfim e isso sempre me lembrou muito Sara.

Percebo depois de um tempo sua respiração pesada e compassada, com uma das mãos faço um leve carinho em suas costas e chamo seu nome baixinho, quando ele não responde tenho a certeza de que dormiu.

O PASSADO SEMPRE VOLTAOnde histórias criam vida. Descubra agora