4 - AGOSTO DE 1864 - parte 1

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Deslizei a porta e senti o vento matinal gelado. Suspirei lentamente. Já haviam se passado cinco meses desde que eu havia chegado ali e pouca coisa havia mudado.

Ficou decidido que eu seguiria ordens de Saito poucos dias após a minha chegada, mas ele mal falava e manter qualquer tipo de relação com ele era extremamente complicado e por conta disso, eu passava a maior parte do tempo sozinha ou com a senhora Tanizake.

Eu sabia que seguia sendo vigiada o tempo todo, mas era só pedir para ser levada até a senhora Tanizake que o faziam felizes por não precisarem me vigiar.

Apesar de poder comer com todos, todas as vezes eu pedi para comer sozinha no meu quarto.

Recebia visitas frequentes de Mikah e falávamos sempre mais e mais, ou jogávamos algo, mas em geral, eu não saía de lá.

Aparentemente, Mikah havia se esquecido do dia em que nos conhecemos e eu agradecia por isso, pois achava a companhia dele muito agradável. Eu não o queria como inimigo.

Eles me deram uma certa liberdade para caminhar pelo complexo por perto da casa, contanto que eu não saísse de vista.

Nesse meio tempo me falaram que estávamos na cidade de Kyoto e que esta estava constantemente sofrendo por conta de guerras e fome. Durante dia e noite os rapazes saíam para vigiar as ruas em turnos. Não houve mais ataques de wendigo até então.

Vesti o quimono que a Senhora Tanizake me deixou. Eu já havia aprendido a vesti-lo sozinha e já me sentia menos desconfortável com ele, isso não significava que eu gostasse.

Todos os dias eu a ajudava com os deveres do complexo. Arrumava tudo o que estava ao meu alcance, ajudava com a comida, limpava e atendia os pequenos pedidos dos capitães. Fazer essas pequenas tarefas era sem dúvidas muito melhor do que não fazer nada.

Mais ou menos um mês depois da minha chegada, me devolveram a espada para o caso de sermos atacados, o que só me reforçou a ideia de que confiavam muito em seu próprio poder.

Olhei novamente a minha espada, tão diferente das katanas deles, lembrei de Ari e suspirei novamente antes de colocá-la na cintura.

Olhei para o canto do quarto onde ainda continha a água do meu último banho e suspirei. Sentia a necessidade de um banho decente e isso piorava ainda mais o meu humor.

Todos os dias, no início da manhã eu ia para um campo aberto próximo da casa. Era o horário que os capitães estavam mais ocupados e dificilmente notavam minhas saídas, ou isso era o que eu imaginava.

Treinava com a espada sempre que não tinha ninguém me vigiando e fazia exercícios para manter meu corpo em forma. E tentava, uma e outra vez, sentir minha manipulação.

Era difícil fazer tudo isso quando não tinha ninguém olhando, mas eu tomava o máximo de cuidado possível. Eu não queria admitir que eu sabia algo de luta, mesmo porque me sentia um fracasso sem a minha manipulação.

A senhora Tanizake havia me garantido que os rapazes estavam muito ocupados nesse dia e que eu podia ficar tranquila. Eu dizia a ela que gostava de passear sem ser vigiada, se ela acreditava ou não, eu não poderia dizer.

Saí do quarto sentindo o vento brincar com o meu rosto e sorri tristemente. Eu tinha saudades de casa, saudades do Lucca. Saudades das nossas brigas. Saudades do papai comendo exageradamente ou me assustando quando eu estava perdida em pensamentos. Mas sentia, especialmente, saudades do carinho da minha mãe e de seu olhar doce e acolhedor.

– Eu vou voltar... – sussurrei para mim mesma, e com as forças renovadas segui para um lugar afastado da casa, havia algumas árvores ali perto e um grande campo.

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