38 - DEZEMBRO DE 1865

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Após a decisão de partir, as atividades no complexo aumentaram. A pequena quantidade de homens que seguiam ali foram transferidos para outros locais, onde seus serviços ainda seriam aceitos. Yukio trabalhou duro para que todos eles tivessem como seguir atuando em suas áreas, e para isso buscou contatos em praticamente todo o Japão e apesar de demorar um pouco, restava tão poucas pessoas ali, que mal era necessário tanto esforço.

– Saito, você está bem? – perguntei quando o vi novamente trabalhando sem descanso nenhum para não deixar nenhum trabalho pendente – Talvez você devesse descansar um pouco. Você trabalhou até muito tarde na noite passada.

– Temos muito o que fazer e não temos muito tempo. Não tenho tempo para descansar.

Parecia que ele ia desmaiar a qualquer momento, mas isso não o impedia de manter sempre o ritmo.

– Mas se você se cansar muito antes de entrar na batalha, então tudo o que você fez será desperdiçado. Vamos, não sairei daqui até que vocês estejam prontos, então, não se preocupe com o tempo. Você realmente deveria descansar. Se você não consegue dormir durante o dia, então pelo menos durma à noite, como todo mundo.

– Sinto-me especialmente cansado durante o dia, mas estou muito mais forte e mais rápido do que quando era humano.

– Essa não é a questão... – falei tentando abordar aquilo de outra maneira.

A saúde de Saito ainda estava claramente baixa em sua lista de prioridades, se é que estava mesmo na sua lista. Ele podia até ser mais poderoso do que um humano, mas isso não significava que ele poderia simplesmente ignorar a condição de seu corpo. Do jeito que ele falava, parecia que ele se via como nada mais do que outra ferramenta, como uma espada ou uma armadura.

– Além disso, se eu fosse parar, então os Koasenshi... – ele não terminou a frase.

– O quê? – perguntei.

– Nada...

Ele permaneceu em silêncio por um instante e, em seguida, cambaleou, como se tivesse perdido o equilíbrio de súbito.

– Saito? Algo errado? – eu estendi o braço para apoiá-lo, mas ele mal parecia perceber.

Seus lábios estavam pálidos e sua respiração parecia dolorosa.

– Saito, tudo bem. Aguenta só um pouco – falei quando entendi o problema. – Se deite um pouco enquanto isso, por favor.

– Não, eu estou bem – apesar de falar isso, ele claramente não estava – Se eu der um momento, isso vai passar.

Ele tentou se afastar de mim, mas mal conseguia se mover. Andar estava fora de questão. Eu queria que ele se deitasse e descansasse, mesmo que fosse apenas por alguns momentos até eu dar um pouco do meu sangue, mas estava claro que ele não iria me ouvir. Ele gritou de agonia. Isso estava acontecendo porque a parte agma dele estava ansiando por mais sangue, diferente dos outros que tomavam a capsula, ele passava dias e dias sem falar nada sobre o assunto. Não era um assunto agradável nem para aqueles que já estavam acostumados, mas quando realmente precisavam, eles pediam as capsulas, já Saito, eu não podia imaginar quantas vezes ele agonizou sozinho. Se ele não aceitava da maneira mais fácil, então tudo o que eu poderia fazer, era forçá-lo quando as crises apareciam.

– Saito, por favor... – falar isso foi o suficiente para ele estremecer – É uma emergência, certo? Você tem que recuperar sua força.

Ele ainda estava apoiado pesadamente no meu braço e sentia quando ele tremia de dor a cada vez que respirava. Saquei a faca com a mão direita enquanto a esquerda seguia apoiando o corpo de Saito e fiz um pequeno corte no meu pescoço, próximo da orelha, no mesmo lugar que ele havia feito da última vez. Senti o sangue quente escorrer após a lâmina fria passar pela pele, me esforcei para não dar o menor sinal de dor.

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