16 - FEVEREIRO DE 1865 - parte 1

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Quase três meses se passaram desde a última vez que vi meu irmão. Não recebemos mais notícias dos nefilins e, com o passar dos dias, a normalidade foi sendo restaurada no complexo.

Apesar da minha força ter voltado, eu ainda passava meu dia ajudando a senhora Tanizake, que, por sua vez, não me deixava fazer quase nada. Também insistia com o treinamento de espada e meus exercícios rotineiros.

A fórmula havia ficado comigo, caso algum deles mudasse de ideia, mas ninguém mais tocou no assunto. Tudo o que eu fazia em relação a isso era observar qualquer comportamento incomum do Isao.

Isao estava sentado em uma sombra no pátio, próximo a uma árvore.

– Aí está você – falei indo em sua direção – Trouxe sua comida, você não foi comer com os outros hoje.

– Oh – ele sorriu ao me ver – Obrigado. Não notei a hora passando.

– Você não está com frio? – olhei a neve ao redor cruzando os braços para esquentá-los.

– Está um clima bastante agradável para mim – ele sorriu ao me responder.

– Acho que entendo o que você quer dizer – sorri e me sentei ao lado dele – Você ainda vai aprender muitas coisas sobre os seres noturnos.

– É muito gratificante me sentir útil novamente – seu sorriso era sincero.

– Você nunca deixou de ser útil Isao.

– Tem algo que eu gostaria de te perguntar.

– Vá em frente – lhe ofereci um sorriso para encorajá-lo.

– As divindades não são seres das trevas pelo que eu entendi. Esses seres, como é a vida para eles?

– Os seres da luz não batalham durante a noite, durante a noite eles ficam mais vulneráveis. As divindades podem se adaptar aos dois, como os seres humanos. Acredito que seja assim por serem criação dos ceifeiros.

Respondi olhando para o céu, da mesma maneira que ele.

– Você sente que não é humana? – ele me olhou fixamente.

– Entendo o que você quer dizer, Isao, mas não tenho uma resposta – disse com sinceridade – Você não sente seu corpo como antes, percebe a mudança, mas eu... eu nunca fui humana.

– Eu me sinto bem com essas mudanças – ele falou dando de ombros – mas as vezes, tenho medo de me esquecer como é ser um humano. Fiquei com medo também de ter meus olhos sempre vermelhos – ele riu baixinho.

– Ter olhos vermelhos não é tão ruim – eu disse sorrindo – De qualquer jeito, seus olhos voltaram ao normal. Sabe, você é bem forte, estou feliz que esteja se adaptando bem.

– Obrigado pela confiança – ele seguiu sorrindo – Acho que irei entrar e descansar, o dia realmente me esgota. Ficar aqui também pode ser prejudicial para os outros.

– Imagina, sempre que precisar ou quiser conversar, pode me chamar. Se quiser saber mais coisas, posso te contar.

– Vou lembrar disso.

Fiquei ali parada olhando para o céu por alguns minutos, sozinha ainda, até que escutei Tatsuo me chamando.

– Finalmente te achei – ele disse com um sorriso que preenchia quase todo o seu rosto.

– Aconteceu alguma coisa? – perguntei sem conseguir evitar sorrir com ele.

– Hoje, você vai fazer a ronda diária comigo.

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