44 - A ÚLTIMA LUTA

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SAITO

Saímos o mais rápido que pudemos, fui sendo apoiado por Natsu e Satoru. Quando chegamos do lado de fora, a mansão desabou em sua lateral inteira.

Ambar estava parada de pé na frente de Kai, eu não via nenhum traço da Nyx nela, nenhum dos dois se moviam. Olhei uma claridade no céu e junto com a claridade do dia que já havia caído também havia os dois símbolos de suas casas. Tudo estava em um silêncio sepulcral, o silêncio que antecipa a morte. Mesmo assim, várias pessoas chegavam devagar próximo aos dois, todas as lutas haviam acabado ou parado, eu não sabia dizer.

Em algum determinado momento, todos fizeram o mesmo sinal que Ambar havia feito quando matou Isao. Todos levantaram seus dedos e acima deles surgia um símbolo, de várias cores distintas, aquilo poderia ser lindo se eu não sentisse que era extremamente trágico.

Acima de nossas cabeças, observei inúmeros ceifeiros aparecendo, e aos poucos, percebi várias pequenas luzes formando diversas barreiras protetoras ao redor de todos.

Ambar começou a andar lentamente pela estrada, Kai tentou atacá-la, mas ela simplesmente desviou e continuou andando até que de repente ela sumiu, sumiu junto com Kai. Busquei desesperadamente os dois com os olhos e não os encontrei.

A multidão que havia aparecido começou a andar, como em uma procissão.

- Saito - Selina falou ao meu lado - Não adianta procurá-la, ela não está aqui. Vamos para a praça principal, levarei vocês por uma fenda, infelizmente minhas fendas demoram mais que as de Ambar para se estabilizarem, então te levarei primeiro.

Olhei com desespero para ela, não conseguia controlar a sensação trágica que oprimia meu peito. Satoru e Natsu novamente me puxaram pelo braço para que a seguíssemos.

Chegamos em uma praça lotada, todos olhavam para o céu, mas eu não sabia exatamente o que viam. Achei Yukio ao lado de Lidy.

- Lidy - perguntei controlando a voz - O que está acontecendo? Cadê a Ambar?

Ela me olhou e em seus olhos havia algo que eu não conseguia decifrar o que era.

- Não sei o que aconteceu no castelo, Saito. Mas aparentemente o único meio de Saikhan manter sua honra seria em um duelo aberto. Lorde Kai a desafiou para um duelo, ela aceitou. O duelo termina somente quando um dos dois estiver morto - ela falou levando novamente seus olhos para o céu. A escutei suspirar antes de continuar - Ela aceitou. Pela quantidade de ceifeiros, na luta deles, aparentemente a única regra é que ninguém mais lute até o duelo acabar.

- E onde está sendo esse duelo? - perguntei olhando para os lados sentindo a necessidade de ir para perto dela.

- Você não vai encontrá-la, Saito - ela falou com um pequeno sorriso melancólico - Sabe por que ela aceitou o duelo?

Eu a olhei confuso, Ambar tinha motivos de sobra para odiar Kai, então essa pergunta não deveria estar sendo feita. Ela me olhou e sorriu novamente, Yukio e os outros rapazes não perdiam uma única palavra dela.

- Sabe - vi os olhos de Lidy encherem de água, mas ela respirou fundo antes de seguir - Ambar não é uma guerreira, nunca foi. Ela gostava de aventuras e viver perigosamente, mas não era esse tipo de perigo que ela gostava. Quando éramos pequenas - quando ela falou isso uma lágrima finalmente rolou em seu rosto - ela dizia que queria conhecer todos os universos, mas que se fosse para ela escolher como ela queria viver, ela escolheria ser humana. Perguntei para ela o porquê ela queria isso, afinal, sabíamos de toda a miséria que um ser humano podia viver... ela disse que os seres humanos são dedicados e apaixonados e muitos deles, apesar das dificuldades, simplesmente escolhem seguir em frente. Mesmo quando tinham seus corações quebrados em mil pedaços, eles eram capazes de sorrir em meio as lágrimas. Ela queria poder viver isso de perto. Ela não queria ser uma guerreira, ela não queria ser rainha, ela não queria ser um nefilim e algo me diz que não queria ser uma divindade também. Ela só queria ter um propósito para viver, como qualquer humano - ela fungou, mas não limpou as lágrimas que agora vinham em abundância - Quando ela voltou aqui, com vocês, eu notei que ela havia conseguido isso. Ela havia conseguido viver entre humanos que não a trataram como um monstro e sim como uma mulher qualquer. Ela tinha um brilho nos olhos, que mostrava que apesar de toda a dor que ela sofreu com vocês, ela não estava arrependida. Sabe o que ela fez no dia que chegou aqui? Varreu o quarto... Varrer um quarto... ninguém faz isso aqui. Eu ri  dela, falando que ela não precisava fazer essas coisas mais, que isso era coisa de humanos. Ela sorriu e disse que sim, que era coisa de humanos, mas que algum dia, ela queria poder varrer sua casa e fazer o chá da tarde para sua família, mesmo sabendo que isso era apenas uma utopia, afinal, a rainha dos nefilins jamais poderia ter um sonho tão simples.

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