10 - OUTUBRO DE 1864 - parte 3

212 42 445
                                    

Acordei e escutei o engatilhar de uma pistola. Abri os olhos e vi o cano da arma apontando para a minha cabeça.

– Acordar com uma arma apontada para a cabeça não é uma das melhores maneiras de despertar, tenho que admitir – falei para Lucca que ao me escutar sorriu, soltou o gatilho e levantou as duas mãos.

– Bem-vinda de volta, Ambar. Sabe como é, né? Não sabia com quem eu teria que lidar – ele falou carinhosamente.

Eu estava deitada em um futon largo e grosso, um luxo que eu não havia tido durante todo o tempo em que estive no complexo.

Olhei ao meu redor e notei que Saito estava ali, folheando um livro, encostado em um canto do quarto, que sem dúvidas, não era o meu.

Era um quarto modesto, mas tinha muitos livros e uma mesinha no estilo horigotatsu em um dos cantos cheia de folhas espalhadas. Supus que ali era o quarto de Saito pois, além dele ser o único ali presente além de mim e meu irmão, ele parecia bem à vontade.

– Quanto tempo eu... – eu ia perguntar, mas Lucca se adiantou.

– Poucas horas, não se preocupe. Foi apenas o tempo suficiente para seu corpo se recuperar.

– Saito – o chamei – sinto muito incomodá-lo, irei sair daqui agora... – falei com uma certa vergonha por estar ali.

– Apenas se recupere, não precisa ter pressa – ele respondeu sem olhar para mim.

– Lucca – passando minha primeira impressão e segurando a emoção de ver meu irmão que era grande, perguntei quase gritando – Por que você não me matou, idiota!?

Tanto ele quanto Saito me olharam com uma leve surpresa.

– Isso deveria estar claro – Lucca respondeu seriamente – Eu te amo. Como poderia matar alguém que eu amo?

– Idiota – meus olhos se encheram de lágrimas e o abracei – Senti muito a sua falta. Eu também te amo muito, você é realmente um idiota, sabia?

Enterrei meu rosto no ombro do meu irmão. Saito estalou a língua e saiu do quarto.

– Venha – Lucca me deu a mão e me ajudou a levantar – Acho que você tem o direito de se despedir.

Senti o peito apertar.

– Acho que não é uma boa ideia – falei abaixando os olhos, constrangida com o que eu tinha feito.

– Você pode se controlar. Treinou sua vida inteira para isso. O controle está dentro de você, nunca mais se esqueça disso – ele falou seriamente olhando direto nos meus olhos.

Fomos de mãos dadas até o local onde depositaram o corpo de Mikah, sobre uma mesa improvisada. Ele jazia sereno, com a aparência de quem apenas dorme, como se a qualquer momento fosse despertar e me pregar mais uma de suas travessuras.

Todos estavam ali para homenagear o menino que apareceu de repente na vida deles.

– Compreendo o porquê de tamanha estima por ele – Lucca murmurou com um sorriso melancólico – Ele se parecia muito com o Ari, não é?

– Sim – respondi com um sorriso triste – Ele tinha o dom de me importunar.

Lucca passou o braço por cima dos meus ombros e acariciou a minha cabeça, e eu passei meus braços por sua cintura.

– Ok – Lucca disse finalmente me soltando – Tempo suficiente, ele voltará para casa agora – ele se virou – Marcus, vem aqui.

Olhei surpresa ao ver Marcus um pouco atrás de nós, Marcus era um dos servos do meu irmão. Era uma divindade como toda a minha família. Era branco, usava o cabelo praticamente raspado e nunca deixava a barba crescer. Tinha os olhos castanhos e era muito atencioso sempre, nunca deixava nenhum trabalho pela metade.

FendasOnde histórias criam vida. Descubra agora