30 - JULHO 1865 - Parte 2

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Encontramos Takashi no caminho e seguimos para o complexo, mas já era tarde, estava tudo em chamas e não havia qualquer vestígio de vida no local. O cheiro de madeira queimando era muito forte no ar. Os homens que eu havia deixado para trás estavam desaparecidos, assim como aqueles que lutaram do lado de fora. O terreno estava tomado por cadáveres de agmas. Não havia como ver o que poderia ter acontecido ali. Saito decidiu nos levar ao monte Hachiman junto com os poucos homens que restavam. Mal chegamos à base da montanha, quando encontramos mais uma leva de agmas.

– Sigam em frente, eu encontro vocês depois – Saito falou já se preparando para a luta enquanto eu e Takashi seguíamos caminho.

Eu e Takashi seguimos em um ritmo razoavelmente rápido para nos juntar ao resto dos homens que eu rezava para que estivessem nos esperando. Lágrimas brotaram dos meus olhos e as enxuguei com força. Não era hora de desperdiçar lágrimas com emoções.

– Não se preocupe, Ambar – Takashi falou com sua voz paternal – Tenho certeza de que Yukio vai bolar um plano incrível e mudar tudo isso.

Ele colocou a mão no meu ombro e deu um aperto suave e reconfortante. Concentrei-me no calor de sua mão e comecei a me acalmar.

– Sua mão está quente – falei com um sorriso fraco – Isso me lembra de quando meu pai costumava me dar tapinhas na cabeça quando eu era uma garotinha.

O rosto de Takashi se enrugou enquanto ele ria.

– Pai, hein? Eu acho que se eu tivesse uma filha, ela teria a sua idade mais ou menos.

– Isso seria um pouco difícil – ri tristemente – Creio que, apesar da minha aparência, sou bem mais velha do que você.

– Talvez – ele disse com um sorriso – talvez os números mostrem isso. É difícil imaginar você como uma garota de muitos anos. No entanto, seria uma honra ter uma filha como você. Agora precisamos continuar. Os homens que nos esperam à frente certamente se preocuparão se demorarmos a chegar.

O caminho era longo, eu sabia disso, mas algo parecia estranho. Um cheiro já conhecido invadiu minhas narinas, estremeci e então, quando viramos a esquina notei um corpo caído.

– Fique em silêncio – Takashi falou tenso – Não queremos nos denunciar.

Eu concordei. Se havia agmas ali, eles estavam se escondendo muito bem, não podíamos sentir ninguém por perto.

Seguimos o mais silenciosamente possível e contornamos outra curva. Tive uma sensação conhecida, mas não sabia de onde vinha, quase me engasguei com a cena que se desenrolou na minha frente. Vários guerreiros Koasenshi estavam empilhados ao longo da estrada, mortos instantaneamente, haviam caído no mesmo lugar que foram atacados e, parado no meio desta carnificina estava Kai de costas para nós.

– Eu pensei ter sentido uma presença familiar – ele falou sem ao menos se virar – Você está aqui.

Mesmo de costas, eu senti o sorriso de Kai cruel e zombeteiro. Fechei os punhos, mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa ele seguiu.

– Acho que você não vai querer fazer isso princesa – ele apontou para uma árvore próxima e notei 2 crianças amarradas. Elas choravam baixo e estavam encolhidas uma grudada na outra pelo medo.

Eu estava furiosa, mas se eu fizesse qualquer coisa, as crianças morreriam.

– Depois que você fugiu do complexo achei que nunca mais te encontraria.

Ele se virou e eu pude sentir seus olhos em mim, como os de uma cobra olhando para sua presa, e logo ele voltou a olhar para os homens mortos que se espalhavam pelo chão ao seu redor.

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