Está tudo escuro, consigo escutar alguém gritando... é a voz de Saito? Saito, por favor, saia daqui, é muito perigoso. Quero gritar, quero que ele se proteja, mas também estou com medo.
Sai daqui Saito, por favor... vão te usar contra mim.... Saito, por favor... Saito...
Pouco a pouco fui retomando minha consciência, o sol batia tímido na minha pele e apesar da claridade sentia que estava bastante frio.
O que aconteceu? Eu estava sonhando? Por que eu sonharia com Saito? O pensamento fez com que eu invocasse sua imagem na cabeça e instantaneamente senti o coração acelerar.
– Parece que o sonho estava bom, ou talvez não... – eu escutei Tashiro falando e levei um pequeno susto. Ele estava ali, sentado próximo de onde eu estava deitada – Fico me perguntando... será que ele é tão bom assim? Saito, quero dizer.... Como um espadachim, ele com certeza é o melhor de todos nós, mas..., o que será que o faz ser tão popular? Sua aparência talvez? Ele não é muito de dar bola para ninguém, sabe? Então eu nunca tive a oportunidade de perguntar para alguma mulher sobre ele... nem sei se há alguma – ele colocou a mão no queixo como se estivesse pensando.
Senti o rosto ferver de vergonha, eu havia falado enquanto dormia?
– Você o tem chamado nesses últimos dias – ele seguiu se divertindo com a minha reação.
Cobri o rosto com as duas mãos, parte pela vergonha que eu estava sentindo e parte porque queria me concentrar em tentar lembrar o que exatamente havia acontecido e então, tudo me veio à mente de novo. O ataque do homem sem rosto, Saito me salvando. O homem disse que sabia que eu apareceria? Como? De repente, senti um choque inesperado. Era ele, o homem sem rosto dos meus sonhos, ou melhor, dos meus pesadelos.
Levantei o tronco rapidamente e senti uma dor súbita por todo o meu braço, como se algo me rasgasse, olhei para baixo e vi uma mancha de sangue se formando em meu ombro esquerdo.
– Ei, calma, seu ferimento não cicatrizou ainda, não se levante – a voz alarmada de Tashiro me pegou desprevenida, mas voltei a mim o mais rápido que pude.
Não cicatrizou? Por que eu não regenerei? Tentei lembrar de mais detalhes da luta e foi então que me dei conta, eu paralisei, ele era um nefilim.
Abri com cuidado a roupa para baixar a parte do ombro que estava ferido.
– Ei, para com isso – Tashiro parecia envergonhado – Espera, eu vou chamar a senhora Tanizake – ele levantou um pouco o corpo, mas eu fiz um pequeno sinal para que ele ficasse quieto.
Olhei a pequena bandagem dobrada e cuidadosamente colocada em cima da ferida e respirando fundo, arranquei o curativo sentindo novamente um dor terrível. Gemi baixinho e soltei novamente o ar. Coloquei minha mão direita sobre o ferimento, era fundo e eu tive sorte de não ter acertado o nervo do meu braço e mais sorte ainda por ele não ter mirado meu coração. Eu iria precisar me concentrar para curá-lo ou pelo menos curar o suficiente para que eu pudesse andar sem muita dor. Ele usava uma espada sagrada, igual a minha, o único tipo de espada que me feria sem me dar a chance de uma regeneração rápida.
Fechei os olhos e me concentrei, senti minha energia fluindo pelo meu corpo e a guiei até a palma da minha mão e pouco a pouco fui reconstruindo os músculos e pele danificados.
Voltei a subir a roupa ainda molhada de sangue e me levantei ainda com dor.
– Aonde você vai? – Tashiro me perguntou.
– Que horas são? – perguntei ignorando sua pergunta anterior.
– Hora do almoço. Espera, vou te ajudar a ir até lá.
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Fendas
Fantasi"Dizem que o universo é extenso, que não tem fim, mas eu discordo. Todo universo tem um fim, e onde um termina, começa outro." Era apenas uma prova, ela deveria passá-la e voltar para casa, mas algo não saiu como o planejado e a situação a forçou fa...