21 - ABRIL 1865 - parte 1

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Eu estava varrendo o pátio quando ele apareceu novamente.

– Então eles fazem uma princesa trabalhar para eles? – sua voz era fria, mas mostrava um certo divertimento, a voz tão conhecida veio de trás de mim.

"Inferno, não pude notar ele chegando". Antes de me virar para ele eu olhei ao redor para ver quantas pessoas estavam ali. Havia muitos soldados treinando próximo e os únicos que eu sabia que aguentavam minha manipulação até agora eram os capitães. Não poderia arriscar.

– O que você quer? – perguntei friamente enfim olhando-o nos olhos.

– Você tem o sangue da família real, é herdeira de Erebus e ainda assim você faz trabalho de limpeza para um bando de humanos? – ele perguntou com a voz desdenhosa.

Seu rosto era uma mistura de surpresa e desprezo sarcástico enquanto mantinha seus olhos frios fixos em mim. Levei minha mão até a minha espada e suspirei, não podia fazer muito mais que isso.

– O que você quer aqui? – gritei já perdendo a paciência.

– Hum – ele fez um som entre uma risada desdenhosa e divertida – Você realmente quer lutar aqui? Talvez você seja menos inteligente do que eu imaginava.

Seu tom era zombeteiro, mas seus olhos eram como duas lascas de gelo mostrando todo o perigo que ele carregava consigo. Eu sabia que dificilmente poderia enfrentá-lo sozinha somente com a espada.

– Calma. Não vim aqui para lutar. Não hoje, pelo menos – ele seguiu com sua voz moderada.

Ele podia ser muitas coisas, mas pelo seu tom atual, ele não estava mentindo. Mesmo assim, abaixei a espada somente até um certo ponto antes que ele seguisse:

– O que você tem a ver com a transformação do seu soldado? Você o transformou?

– Por que você quer saber?

– Então, ele tem o sangue de Erebus, certo? – ele já não estava mais se divertindo – Entendo.

Vi um lampejo de surpresa em seu rosto no início, mas agora parecia que ele havia entendido algo.

– Comece a explicar – falei novamente apertando o punho da espada com as duas mãos.

– Ele não enlouqueceu ainda, o que significa que o sangue de Erebus é realmente poderoso e só funciona com algumas pessoas. Preciso que você me dê seu sangue com a intenção de transformar.

– Sinto muito, pode tirar gota por gota, jamais o terá com essa intenção.

– Tentando entrar no acampamento inimigo sozinho? – Yukio falou chegando calmamente com a espada já na mão – Ótimo, temos contas a acertar.

Ele assumiu uma postura de luta um pouco frouxa, mas mesmo assim se colocou entre mim e Kai.

– O que você está fazendo aqui em plena luz do dia? Um pouco cedo para pegar garotas, amigo – Satoru chegou também armado.

– Afaste-se dela! – Tatsuo gritou se aproximando também.

Olhei-os surpresa por todos terem chegado de uma vez.

– Eu ouvi você gritar. Tinha certeza de que não era com a sujeira do pátio – Satoru brincou notando minha confusão, mas seu rosto estava realmente sério.

– Você está bem, Ambar? – Tatsuo perguntou alarmado – Está machucada?

Apenas acenei com a cabeça para mostrar que eu estava bem.

– Parece que vocês sempre atacam em bando, hein? – Kai falou seriamente.

– Cuidado – Yukio falou calmamente – Uma alcateia tem mais força que um lobo sozinho.

A tensão que já estava grande quando Kai chegou só aumentava a cada segundo e Kai seguiu sem se movimentar apesar de todas as espadas apontadas para ele.

– Se você quiser continuar o jogo, terei todo o prazer em ajudá-lo, mas estou aqui simplesmente para cuidar de alguns negócios com a princesa. Mas especificadamente, para emitir um aviso.

– O que te faz pensar que vamos ouvir um desprezível que atacaria uma garota em plena luz do dia? – Satoru indagou.

– Idiotas – o sorriso maldoso voltou a brotar no rosto de Kai – Você é cego demais para ver que estou lhe fazendo um favor?

– Este é o nosso território – Tatsuo continuou gritando – É melhor você fechar a sua armadilha antes que façamos isso por você!

– Quanto menor o cachorro, mais alto o latido – ele disse voltando a se divertir com o seu jogo distorcido.

Kai desviou o olhar dos capitães, como se de repente se desinteressasse totalmente deles, e me fitou com seu olhar frio.

– Seu pai está conosco agora, Ambar. Você entende o que significa? – ele me olhou com um lampejo de sorriso no rosto – Por que você está aqui? Eu sugiro que você pense nisso com muito cuidado.

– Desgraçado! – eu falei avançando contra ele, mas em um movimento suave ele desviou e riu.

– Esperarei a sua resposta. Mas lembre-se, ele tem pouco tempo até a loucura total.

E então ele desapareceu e eu finalmente pude entender o porquê ele me queria viva. O que eu faria agora? Meu pai estava vivo, mas ele havia forçado a transformação e essa era minha única chance de salvá-lo e sabia disso. Mas, se eu o fizesse, trairia Himura e colocaria a vida de muitos inocentes em risco. "Pai, o que você faria em meu lugar?", senti meus olhos enchendo de lágrimas. Yukio cruzou os braços, o rosto estava sombrio. Sabia que ele me perguntaria algo e eu não teria como responder daquele jeito.

Meu ânimo novamente havia caído e eu me via completamente sem esperança. Eu sofreria independente do caminho que eu escolhesse.

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