Surpresa ruim.

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Marília estacionou o carro e desceu tirando o casaco. O dia tinha sido difícil, não tinha comido nada desde o café.

Os boatos e perguntas sobre o seu casamento não fizeram as coisas melhorarem, e sua paciência já tinha se esgotado. Pensou em ligar para saber como Maraisa estava durante o dia, mas como ela mesma havia dito aquilo era um casamento de mentira, e esse tipo de coisa só era feita em casamentos de verdade.

Abriu a porta e sentiu a casa perfumada. Logo reconheceu que era o cheiro de Carla.
Virou-se para trancar a porta e só então percebeu um vaso de flor. Um vaso que não estava ali antes, e que não era para estar ali.

Flores lembravam enterro, e enterro lembrava seus pais. Marília bufou sem um pingo de paciência. Ela definitivamente odiava flores.

- Lila? É você? - A voz animada dela vinha da cozinha. - Venha, preparei o jantar.

Ela respirou fundo caminhando em direção à cozinha. Pela primeira vez, depois de muito tempo alguém lhe esperava para jantar.

Maraisa, com o cabelo preso em um coque, estava vindo em sua direção, com os seus grandes olhos verdes brilhando de alegria.

- Espero que goste de panqueca. - Ela disse pegando sua mão, a puxando para a cozinha.

- Queria agradecer por ontem. Foi muito gentil. - Ela disse sorrindo. - Hoje, aproveitei o dia para me familiarizar com a casa e meio que tentei dar um pouco de vida a ela. Estava tão escura e fria. Espero que não se importe.

O que ela queria dizer com dar vida? - Marília se perguntou.

- Onde prefere se sentar? - Perguntou quando chegaram a cozinha.

Marília não respondeu, estava ocupada olhando para a "vida" de Maraisa.

- O que significa isso? - Ela perguntou franzindo o cenho.

A cozinha estava repleta de flores.
Uma na janela, outra em cima da geladeira, outra plantinha no chão...

- Isso o que?

- Esse mato todo na minha casa. - Marília disse séria sem alterar a voz.

Maraisa puxou a mão como se alguém tivesse lhe dado uma chibatada.

- Oh, a casa estava tão sem cor e eu não tinha nada para fazer. Espero que não se importe e...

- Eu me importo. - Ela a cortou.

- É que bom... eu as acho tão bonitas e delicadas, e pensei que... - Marília a cortou de novo. - Eu não gosto delas, só servem para atrair bichos.

- Oh, quanto a isso não se preocupe, eu posso cuidar para que isso não aconteça. Eu pensei que você... - Ela a cortou mais uma vez. - O que você não pensou é que a casa é minha e que antes de sair mudando as coisas, tem que falar comigo. Não gosto de flores. - Ela declarou.

Naquele momento Maraisa teve certeza de que se lhe tivessem arrancado um dedo, não doeria tanto. Até ontem a casa era nossa, Maraisa pensou. Sentia raiva e estava magoada, eram apenas flores, tudo bem, mas as intenções dela eram as melhores.

Alguns segundos de silêncio se passaram até ela se pronunciar.

- Você tem razão. - Ela disse olhando para todos os lados menos para os olhos de Marília. - Você está coberta de razão. Pode apostar que a partir de hoje, vou ficar no meu lugar. - Ela disse ressentida. - Amanhã mesmo retirarei todas as flores. - Prometeu. - O jantar esta pronto. Anunciou se retirando da cozinha.

- Escuta Maraisa... - Marília disse parando na frente dela e a olhando nos olhos, arrependida.

- Aproveite seu jantar, Marília. - Carla disse fazendo a volta nela e saindo quase correndo da cozinha.

Amor Por Contrato.Onde histórias criam vida. Descubra agora