Capítulo 3

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Alguns meses depois, no meio de todos os preparativos para o casamento de Elijah e Caroline, que aconteceria no final de julho, uma feira chegou à cidade, o que fez com que todos os integrantes da mansão — com exceção de Loren, o que surpreendia absolutamente ninguém —, decidissem parar todos os seus esforços e tirar um dia de folga para conhecerem a mais nova atração artística de sua cidade.

Felizmente, o dia que eles escolheram amanheceu com um sol tímido, mas insistente, o que fez com que ninguém precisasse de casacos pesados e a brisa gelada não incomodava tanto. Annie estava praticamente pulando em seu assento de tão animada que estava enquanto Jamie dirigia o carro com os mais novos, o que englobava Chris, Oliver, Noah, Annie e Ellen, todos eles espremidos no banco de couro branco.

Por uma sorte do destino, Chris também não acordara mau humorado, algo que fez com que Oliver declarasse que um milagre estava acontecendo. Enquanto o carro balançava na estrada desnivelada de terra, no entanto, Chris fez questão de deitar a cabeça no banco e fechar os olhos, registrando levemente a algazarra da animação de seus amigos, sentados ao seu lado.

Foi apenas quando ele sentiu o corpo inteiro sacudiu que Chris voltou a si, olhando em volta enquanto seu coração se acelerava e então se acalmava quando ele percebeu que o carro havia parado e Annie estava tentando acordá-lo.

— Nós já chegamos. — Ela disse, mas Chris mal conseguiu registrar as palavras, muito ocupado se encantando pelo efeito que a suave luz do sol de começo da manhã tinha no rosto cheio de sardas.

Intensa como apenas o fogo e a brasa poderiam ser, não havia um momento em que Annie não parecesse brilhar como um sol. E ver o efeito da luz daquele mesmo astro no rosto dela, iluminando apenas um dos olhos castanhos a ponto de Chris ver a pupila dela, a pele sedosa da ponta arrebitada e delicada da ponta de seu nariz e, finalmente, os lábios rosados de Annie. Lábios que pareciam tão suaves que Chris engoliu em seco, sentindo o próprio coração perder uma batida.

Atordoada, sua mente o levou para o último aniversário de Annie, em que ela lhe pedira seu primeiro beijo. Em que Chris lhe dera aquele primeiro — e último — beijo.

— Vamos logo, Chris. — Disse Annie, despertando-o dos pensamentos que ele evitara como a praga pelos últimos meses. — Eu quero ver o que eles têm aqui.

Concordando e finalmente se movendo, Chris desceu do carro, observando o seus arredores: a feira havia se instalado no campo que havia ao lado esquerdo da cidade, onde os sons dos trens que chegavam e partiam ficavam bem menos audíveis, uma vez que a ferroviária era do outro lado do lugar.

A feira era colorida, alegre, algo que pertencia a um sonho, não a um mundo em guerra como aquele em que estavam. Ele podia ouvir, mesmo estando a distância, as risadas das crianças menores e músicas que evocavam infância. Se fechasse os olhos e se concentrasse, Chris estava certo de que poderia provar a pipoca e o algodão doce na ponta da língua, gostos e sabores que não provava a tempo demais.

Às vezes, a perda de sua infância para as cobranças e as exigências de Maxwell cobravam um preço alto demais. Chris queria não ter esquecido aqueles sabores, ele queria ter tido espaço para provar os açúcares que apenas uma criança poderia.

Os pensamentos sombrios de Chris foram varridos da mente dele com a aproximação de Marjorie, Elijah, Caroline e Elliot, que chegaram apenas alguns minutos depois deles, tendo vindo no segundo carro dos Wood.

— Eu vou tentar achar o Jeremy. — Disse Ellen, referindo-se ao namorado. — Ele disse que tiraria folga da loja para nos acompanhar hoje.

Aquilo fez com que Chris sorrisse, satisfeito: ainda que não fosse tão próximo de Jeremy quanto sempre seria de Oliver e Noah, o namorado de Ellen havia se provado um amigo constante e sensível, que não tinha nenhum problema com honestidade ou sentimentos, algo pelo quando Chris era inteiramente grato.

Aos Poetas Decadentes - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora