Capítulo 19

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Annie estava flutuando de alegria no momento em que deixou Chris por si mesmo na varanda abaixo da festa. Ele dissera que ficaria ali por mais algum tempo, observando enquanto todos finalmente se recolhiam para ir dormir, já que a maior parte dos convidados estavam indo embora no dia seguinte mesmo — com exceção dos Kittan, da mãe dele e Nana, que ficariam um dia mais.

Annie não podia dizer que estava particularmente animada para que os sócios de seu tio ficassem, principalmente por causa de Edward, mas estava mais do que disposta a aguentar a presença de Jeane e Nana, uma vez que isso faria Chris feliz e ela desenvolvera um carinho especial pelas duas mulheres.

Enquanto andava pelos corredores da mansão onde crescera e conhecera por toda a sua vida, uma consciência protetora, uma nostalgia dolorida, tomou conta do peito de Annie e ela desacelerou seus passos, observando a madeira escura, os tapetes levemente puídos por causa de sua idade, os retratos de pessoas que nem mesmo seus pais ou seu tio reconheceriam.

Ela conhecia aquelas paredes como ninguém, andara mil vezes em cima daqueles tapetes e olhara para aqueles retratos mil vezes mais. Aquele lugar fora sua casa desde sempre, como se Annie estivesse ligada ao lugar por algum poder anterior a ela e ao mundo por inteiro. Ela nunca acreditara em destino, mas em momentos como aqueles, era quase impossível não acreditar em alguma coisa.

Ela passou por Marjorie com um murmúrio de boa noite e a governanta a abraçou com o carinho de uma mãe antes de fazer um comentário para o vestido de Annie:

— Esse vestido podia ter sido um pouco menor decotado, minha querida. Luxúria é um pecado.

Annie piscou para a mulher, pega de surpresa por aquele comentário completamente desnecessário e estava prestes a repreender Marjorie por ele quando Edward se aproximou delas, provavelmente indo para a cama assim como ela.

— Ah, aí está você, passarinha. — Disse ele como se eles tivessem combinado alguma coisa e Annie lutou contra a careta que lutava para se formar em seu rosto enquanto Edward passava o braço ao redor do pescoço dela. — Eu estava te procurando.

— E por quê? — Annie perguntou, desinteressada em ser qualquer coisa perto de educada.

— Annie, não fale assim com o senhor Kittan. — Repreendeu Marjorie imediatamente, deixando um gosto amargo na boca da garota. —Ele é um garoto cristão muito bem apessoado, só estava querendo te fazer companhia.

Annie olhou para Marjorie como se ela tivesse dito que queria comer um rato, mas a governanta nem mesmo piscou diante da afronta escrita na expressão dela. Ela aparentemente preferia sorrir para Edward como se ele fosse exatamente a solução para os problemas do mundo porque ele era cristão.

Deus, Annie estava começando a soar — e pior, concordar — com Christian.

— Obrigada, Marjorie, você é maravilhosa. — Disse Edward como se ele realmente fosse educado desse jeito com alguém. A falsidade do garoto fez com que Annie revirasse os olhos. — Eu vou levá-la para o quarto dela, com licença.

Annie podia aguentar aquela palhaçada, mas falar dela como se ela fosse alguém que precisava de ajuda para ir para o próprio quarto era demais até mesmo para Annie.

— Ora, tenha a santa paciência. — Disse Annie, livrando-se do peso do braço de Edward, que ainda estava em seus ombros e se afastando enquanto Marjorie a chamava à distância.

Mas a verdade era que Annie estava brava com Marjorie. Como a mulher poderia ser tão cega a ponto de realmente acreditar que Edward Kittan era uma boa pessoa porque era cristão? Como se ser cristão fosse uma boa indicação de índole!

Não era como se os cristãos tivessem queimado mulheres nas fogueiras e usado métodos de tortura para manter o poder da igreja enquanto outras pessoas tentavam ser simplesmente livres para escolher seus próprios rumos, por exemplo.

Aos Poetas Decadentes - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora