Capítulo 71

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O peso da saudade começou antes mesmo que Annie deixasse sua casa no primeiro dia de agosto. Como eles tinham combinado após o final da guerra, todos eles iriam para Londres antes de se estabelecerem em Oxford, principalmente para que seus garotos pudessem visitar suas famílias — Chris queria rever Jeane e Nana, enquanto Oliver queria rever o pai depois de tanto tempo e até mesmo Noah estava indo para a cidade para conhecer um pouco mais os irmãos, Isaac e Jacob.

Annie, é claro, tivera a chance de ficar em Taigh Hill com Ellen e seus tios, mas o pensamento de ficar lá sem seus garotos — principalmente com seu pai ainda rodeando e se aproveitando de todas as oportunidades que podia para falar com ela, sem respeitar seu espaço ou seus limites — deixava um gosto amargo na boca de Annie, o que a convenceu a ir para Londre com eles um mês antes de suas aulas começarem.

Como estavam sendo financiados por Elijah e Caroline, os dois estavam sendo responsáveis por achar acomodações adequadas e em um preço bom para eles, assim como a mobília, o que deixava Annie e os outros basicamente de folga durante aquele mês de agosto inteiro em Londres. Por um lado, aquilo era muito bom, porque daria aos seus garotos tempo para se reajustarem às próprias famílias. Por outro, no entanto, também significava que Annie teria bem mais tempo para sentir falta de sua casa, como ela logo descobriu.

No dia primeiro de agosto, eles se despediram de Taigh Hill e Annie acabou percebendo que aquela seria a primeira vez que ela estava se despedindo do lugar onde crescera por um tempo completamente indeterminado. Porque agora ela chamaria outro lugar, outras paredes, outra construção, de casa por quase cinco anos. A sensação na boca do seu estômago que Annie tentara ignorar desde a noite anterior ficou mais pesada com essa realização, mas tudo o que ela fez foi respirar fundo e erguer o queixo, determinada a fazer o melhor que podia da situação.

O problema era que, quanto mais eles se aproximavam do horário de dizer adeus definitivo na estação de trem, menos Annie tinha controle sobre as próprias lágrimas. Quando o trem finalmente apitou pela penúltima vez, avisando que logo iriam sair da estação, eles não puderam enrolar mais e começaram a se despedir: ao abraçar Ellen, Annie precisou esconder o rosto no pescoço dela por um segundo a mais do que o normal para conseguir se recompor.

O fato de que Ellen também estava tentando segurar o choro não ajudou em nada, é claro.

Foi só quando eles entraram juntos no trem, saindo do campo de visão de tio Elijah, Caroline, Ellen e Jeremy, que Annie finalmente se rendeu ao choro, sem conseguir mais segurar. Chris, que se sentara ao seu lado, puxara-a para seu colo em um abraço consolador enquanto ela soluçava com uma saudade que não cabia em seu peito, e Annie também viu os olhos razos de lágrimas de seus rapazes, mesmo que eles estivessem tentando ser fortes por ela.

De todos ali, no entanto, quem mais a entendia era Noah, que estava deixando Leah para trás — ele já se despedira da mãe antes de irem até a estação, sem querer ter que sujeitá-la à viagem desconfortável até a cidade, que não estava preparada para acomodar alguém em uma cadeira de rodas (ou qualquer outro tipo de deficiência, na verdade) —, mas nem isso traduzia o luto que havia no coração de Annie: ela não estava deixando apenas sua família para trás, mas sua vida inteira.

Tudo o que Annie vira e conhecera como sua casa estava em Taigh Hill e naquela cidade. Sim, ela viajara muito desde que era criança e apreciara a beleza de outros lugares, mas havia uma diferença intrínseca entre viajar e se mudar: quando Annie viajava, seu ponto de partida e de volta eram os mesmos, reconfortante como apenas um lar poderia ser. Agora, no entanto, ela seria obrigada a chamar paredes que não conhecia de casa, seria forçada a dividir espaço com garotas que não conhecia e com quem não tinha nenhuma intimidade.

Apesar de saber que iria conhecer suas colegas de quarto passando quatro a cinco anos inteiros com elas, Annie não podia deixar de se sentir um tanto quanto deprimida com aquilo. Antes mesmo de começar a faculdade, ela começou a sentir falta da familiaridade dos corredores de sua mansão, do cheiro de café da manhã e mingual de Marjorie, do jeito como sua vida lhe parecia tão mais simples do que todas aquelas preocupações que insistiam em rodear seu coração como vespas furiosas.

Aos Poetas Decadentes - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora