Capítulo 56

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— Eu odeio quando vocês estão certos. — Oliver forçou as palavras através de sua garganta, que sem dúvida deveria estar seca e dolorida.

Noah sequer se deu o trabalho de esconder o sorriso convencido que se formou em seu rosto enquanto pousava o prato cheio de sopa na bandeja aberta diante de Oliver, que, por ordens médicas, estava de cama com a garganta inflamada e um resfriado que viera com um combo terrível de coriza e febre extra.

E, claro, tudo aquilo era culpa daquela ideia estúpida de nadarem no lago na noite mais fria daquela primavera até aquele momento e ainda por cima bêbados — algo sobre a qual Noah havia avisado seu mais novo paciente, para o desespero do orgulho de Oliver e Annie, que eram terríveis em ficar doentes.

Noah nem sequer sabia que era possível ser tão ruim em algo tão normal, mas Oliver se revelara um verdadeiro pé do saco nos últimos dois dias, em que ele fora obrigado a ficar de cama. Claro que Noah não iria reclamar de boca cheia — ele preferia Oliver a qualquer dia em comparação a ter que cuidar de Annie e obrigá-la a ficar na cama, como Chris estava tendo que fazer.

— Como você está se sentindo? — Ele perguntou quietamente, sem olhar para Oliver ao afofar os travesseiros ao redor do garoto enquanto ele se ajeitava na cama e pegava a colher de prata.

— Como se eu estivesse morrendo. — Foi a resposta categórica de Oliver e Noah precisou dar tudo dentro de si para não revirar os olhos, limitando-se então a um suspiro exasperado.

— Pare de ser dramático. — Ele censurou carinhosamente enquanto observava Oliver engolir uma colherada de sopa. Ele não pareceu estremecer ao engolir como estivera fazendo, então Noah ficou um pouco mais aliviado. — Eu falei com a minha mãe ontem.

Aquilo chamou a atenção de Oliver imediatamente e Noah apenas observou o amigo enquanto ele perguntava cautelosamente, a voz fanha e os olhos brilhantes demais por causa de seu estado febril:

— E como foi? Primeiro, você quer conversar sobre isso?

— Não, eu... eu quero falar.

Noha suspirou novamente, baixando os olhos para sua própria mão, as pontas de seus dedos estavam entrelaçados com as pontas dos dedos de Oliver. O toque do rapaz agora era como o primeiro raio de sol de uma manhã de inverno ao tocar a pele — uma sensação que Noah buscava sempre que podia, a total desprezo de como ele se sentia com toque há alguns anos atrás.

Estremecendo com o rumo de seus pensamentos, Noah se concentrou em continuar a conversa: desde que Leah revelara a eles que se apaixonara por Marjorie quando elas eram mais novas quase duas semanas atrás, ela não tocara mais no assunto, principalmente com Noah. Preferindo respeitar os aparentes desejos da mãe, ele também não mencionara nada sobre o assunto quando a visitava, por mais que quisesse.

Até que Leah tomara coragem de finalmente abordar o assunto com ele no dia anterior.

— A primeira coisa que ela me falou era que entenderia se eu estivesse com raiva dela. Por não me contar nada sobre o assunto, eu quero dizer. — Noah riu sem humor balançando a cabea negativamente para nada em particular.

— E você está? — Foi a pergunta sensível de Oliver enquanto ele assoava o nariz.

Não muito gracioso, Noah tinha que admitir.

— Não. — Ele respondeu de imediato, no entanto, assim como fizera quando Leah dissera aquilo. — Não. Como eu poderia com o tanto que eu também não contei a ela?

Aquelas palavras pareceram aflorar o interesse de Oliver, mas ele não pressionou Noah sobre o assunto, preferindo deixar que ele escolhesse sobre o que continuariam a falar — sobre seus próprios segredos ou sua conversa com sua mãe —, algo pela qual ele era grato ao amigo. Ironicamente, foi exatamente aquilo que fez com que Noah tomasse fôlego e falasse:

Aos Poetas Decadentes - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora