Capítulo 22

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Durante o resto da noite, Noah sentiu como se não estivesse respirando o suficiente. O jantar inteiro, em que Chris permaneceu principalmente ao lado da mãe e de Nana, e Annie com a irmã mais velha, ambas parecendo discutir algo importante, foi uma completa tortura e tudo o que Noah conseguia pensar era em sair dali.

Ele só precisava sair dali para poder pensar, para poder ficar em silêncio e se distanciar daquela sinfonia desigual que parecia ter tomado sua mente como um exército tomava uma cidade — com sofrimento e dor e terrível crueldade. Mais do que tudo, ele queria fazer algo com suas próprias mãos, ele queria poder ocupá-las com algo que realmente o distrairia de tudo.

Mas, ao que parecia, aquela noite estava apenas começando — do pior jeito possível, é claro. Durante o jantar inteiro, Edward Kittan parecia incapaz de parar de encará-lo, o que só fez com que Noah se sentisse mais desconfortável e claustrofóbico naquele lugar. Quando ninguém estava olhando, Edward simulou um soco, como se para provocar Noah, como se ele soubesse de alguma coisa — o que provavelmente era verdade — e o gesto fez com que o estômago dele embrulhasse.

— Ei, você está bem? — Perguntou Oliver no meio da refeição ao perceber que Noah largara os próprios talheres, enquanto os outros conversavam.

Noah olhou para ele, a verdade lutando para pingar de seus lábios, mas ele não falaria daquilo tão perto de Elijah, não se pudesse evitar. Primeiro, porque ele não queria ter que mentir de novo, e segundo, porque não correria o risco de entregar sua primeira mentira.

Quando aquela tortura finalmente acabou, Noah foi um dos primeiros a se retirar. Sabendo que ele não poderia ir para a cozinha assar alguma coisa para se acalmar, uma vez que Ella acharia estranho, assim como o resto de seus amigos, Noah apenas subiu as escadas em direção ao seu próprio quarto.

Ele não tinha certeza do que pensar, do que fazer, principalmente porque Noah sequer sentia que tinha espaço para pensar. Ele abriu a janela do quarto, tentando fazer com aquele sentimento de aperto, de estar em um quarto que estava continuamente se encolhendo fosse embora, mas não teve muito sucesso. Como sempre, um jarro de água estava pousado em cima de cada uma de suas cômodas e beber água ajudou um pouco — a frieza do líquido pareceu um calmante em sua pele febril, ou pelo menos era assim que Noah sentia que ela estava.

Ele nem mesmo percebeu o tempo passando, muito concentrado no tumulto dentro de si mesmo para aquilo até que a porta se abriu com a entrada de Oliver, que imediatamente perguntou:

— Você tem certeza de que está bem?

Noah ergueu os olhos para o amigo. Ele poderia muito bem contar para Oliver o que acontecera — no final das contas, ele sabia da verdade e do que Noah precisava esconder contra a sua própria vontade, contra a sua própria moral. Oliver o entenderia como ninguém além de Annie e Chris entenderiam e ele poderia ajudá-lo.

Mas parecia errado compartilhar e discutir aquilo sem deixar que Annie e Chris soubessem também, por isso tudo o que Noah disse foi, no tom mais casual que pôde forçar:

— Sim, por quê?

Oliver o examinou de cima a baixo e Noah podia dizer que ele sabia que aquilo era uma mentira deslavada. Mesmo assim, no entanto, tudo o que Oliver fez foi assentir, deixando que Noah visse a mão dele se movendo antes de tocar seu ombro levemente. Eles estavam tentando fazer com que Noah se sentisse mais confortável com aqueles tipos de carinho e, até aquele momento, estava funcionando bem, algo pela qual ele estava muito orgulhoso até aquela conversa.

Agora, o toque de Oliver queimou e Noah não pôde deixar de se encolher. Reconhecendo a rejeição dele, Oliver afastou a mão, sem insistir e sem parecer desapontado ou bravo por Noah ter falhado em aceitar aquilo.

Aos Poetas Decadentes - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora