Aos Poetas Decadentes - Volume 2

Capítulo 42

Com o começo de março, a neve começou a derreter, mas não foi até o fim do mesmo mês que Annie e seus garotos conseguiram finalmente voltar à Casa Secreta — algo que foi um alívio para todos eles. Chris, é claro, ficara especialmente aliviado, uma vez que nenhum deles estava aguentando mais ficar presos na mansão com Edward Kittan enquanto esperavam que os pais do rapaz o buscassem de Taigh Hill.

Depois que voltara de Londres com Leah, tio Elijah ficara sabendo dos avanços de Edward sobre Annie e concordara que a estadia dele na mansão dos Wood não deveria se estender. Assim, ele despachara uma carta para os pais de Edward, que tinham fugido para os Estados Unidos meses antes.

A guerra, no entanto, estava atrasando as comunicações entre o Reino Unido e outros países, então eles só ouviram dos Kittan meses depois, numa carta que apenas incluía um pedido de desculpas pelo comportamento do filho e o pedido contundente de que os Wood reavaliassem sua decisão sobre a estada de Edward.

Sobre o assunto, Annie não conseguia decidir de quem ela deveria ter mais pena: dos Kittan, por terem que lidar com os constantes problemas de comportamento do único filho; de Edward, por ter pais que o deixaram no meio de uma guerra para ir para um lugar seguro; ou de si mesma e dos outros habitantes de Taigh Hill, que teriam de aguentar Edward por mais alguns meses enquanto tio Elijah esperava a resposta de sua segunda carta, reforçando seu posicionamento.

Algo dizia a Annie que aquela espera não iria ser fácil para nenhum deles: ao saber que eles estavam tentando se livrar dele, Edward jogara qualquer pretensão de educação pelo buraco para se revelar completamente insuportável para todos eles — com exceção de Elijah, Elliot, Loren e os outros adultos da casa. O rapaz havia dobrado seus esforços para ser desagradável, tanto que Ella ameaçara pedir demissão se ele não fosse expulso da cozinha dela definitivamente.

Tio Elijah ficara furioso com Edward quando a empregada deles reclamara do assédio constante, independentemente das afirmações de Edward de que Ella estava mentindo e, apesar da proteção de Marjorie, banira o garoto de pisar nas cozinhas novamente. Principalmente considerando que única defesa da governanta era de que Edward era cristão e Ella era pagã — ao que parecia, aquilo fazia com que a empregada fosse a única culpada de toda a situação e Edward fosse completamente inocente.

A tensão de todos sobre o fanatismo de Marjorie pareceu sufocar todos eles ainda mais dentro da mansão naqueles últimos dias de inverno, principalmente Chris, que estava fazendo o possível para se conter perto da governanta. Então, quando eles finalmente decidiram que poderiam finalmente voltar à Casa Secreta — seu refúgio do resto do mundo — tudo dentro deles pareceu se acalmar.

Durante as primeiras semanas, tudo correra perfeitamente bem: Annie se ocupara de revistar seu depósito e checar se seu material de pintura havia permanecido intocado pelo inverno escocês; Oliver, por sua vez, se ocupara da tarefa de afinar seus instrumentos — que incluíam o piano, o violino e um violoncelo velho de Ellen que a garota lhe dera de presente de Natal — e de separar suas partituras inacabadas esquecidas ali; e Chris ficara com a tarefa de checar se os livros da biblioteca ainda estavam em bom estado depois do inverno, um trabalho que duraria meses e que ainda teria que ser feito por todos eles.

Mesmo Noah parecia mais leve quando eles estavam na Casa Secreta, mais animado para estudar seus idiomas, embora Annie, Chris e Oliver ainda estivessem falhando em convencê-lo a voltar a cozinhar — o rapaz sequer queria fazer o chocolate quente deles, o que não era um problema em si, já que qualquer um deles poderia fazê-lo, mas era a falta de interesse de Noah em algo que fora tão importante para ele que os preocupava. Como Chris e Oliver tinham explicado a ela, Noah continuava a se distanciar deles, mesmo nas tarde que eles todos passavam na Casa Secreta.