Capítulo 57

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Chris precisava que isso desse certo para que ele conseguisse respirar sem que seu peito doesse com a culpa que estava pensando dentro dele há algum tempo já. De todos os traumas que a ausência e os erros de seu pai deixara nele, a culpa por quase tudo o que havia de errado com outra pessoa que ele se importava era, provavelmente, a pior de todas as sensações.

Ela enchia a mente de Chris com uma dúvida insuportável: e se ele não fizera o suficiente? E se ele não prestou atenção o suficiente ou não inferiu quando precisava fazê-lo? A culpa era um demônio pesado a se carregar em seu peito, consumindo tudo dentro de Chris com uma fome e uma crueldade impossíveis de ignorar. E se fazer isso fosse piorar as coisas?

Os pensamentos paranóicos tinham se tornado uma constante na última semanae às vezes Chris não conseguia respirar com a ansiedade que eles lhe traziam. Racionalmente, ele sabia que precisava parar de puxar responsabilidades para si, principalmente quando não tinham nada a ver com ele. Mas, assim como a maior parte dos sentimentos mais complexos de sentir, era muito mais fácil saber daquilo do que realmente sentir o mesmo.

Ele odiava a sensação de estar desconectado de seu próprio coração, como se seus sentimentos e sua mente pertencessem a duas pessoas diferentes, mas não podia evitar se sentir assim quando seus traumas falavam mais alto que sua razão.

Chris odiava duvidar de cada passo que dava, duvidar de cada escolha que fazia e cada palavra que saía de sua boca, porque cada uma delas poderiam ser um passo mais perto de fazê-lo ser como Maxell. De fazer com que as pessoas a sua volta se sentissem com ele do mesmo jeito que Chris se sentia quando estava perto de seu pai — só o pensamento revirava seu estômago.

Ele morreria se algum dia fosse como Maxwell, apesar de saber que o pai se importava com eles — Jeanne e ele mesmo — de alguma forma estranha e dolorida. A possibilidade ainda fazia com que ele quisesse se enfiar em um buraco e morrer.

E era por isso, sua cabeça ficara repetindo naquela semana inteira, que você não deveria estar em um relacionamento.

Diferente da dúvida que o consumia, no entanto, aquela vozinha era muito mais fácil de silenciar, porque Chris sabia — de coração e alma — que aquelas palavras não eram verdade, que aquilo era apenas o eco de suas inseguranças. Era mais fácil ignorá-la porque ela não carregava verdades especialmente difíceis de encarar, como o fato de que Chris era um tanto parecido com Maxwell quando queria.

Suspirando, ele esfregou o rosto, tentando espantar todas aquelas dúvidas sobre si mesmo junto com o sono, sem muito sucesso. Noah, que estava ao seu lado, olhou para Chris com atenção, mas não perguntou sobre o que estava passando na mente dele, algo pela qual ele ficou grato — Chris não queria ter que começar pensar sobre tudo aquilo de novo.

— Você acha que ela vai gostar? — A voz de Noah, como sempre, era baixa o suficiente para fazer cócegas nos ouvidos de Chris.

— Não sei. — Ele respondeu honestamente, respirando fundo para recuperar o fôlego que parecia ter lhe escapado.

Eles estavam na entrada do labirinto — do lado da Casa Secreta —, esperando por Annie e Oliver, que já tinham sido medicamente liberados de seus dias de cama. A restrição médica mais nova, no entanto, era que eles não deveriam ficar expostos à friagem, o que acabou por adiar os planos de Chris e Noah até aquele dia, em que finalmente parou de chover e ventar, e o céu deu lugar ao sol.

Quando eles acordaram naquela manhã quente, Chris e Noah souberam imediatamente que seus planos seriam perfeitos para aquela tarde, o que obviamente os levou até a Casa Secreta naquele mesmo momento.

Mesmo de longe, Chris ainda podia ver que a grama não havia secado completamente da chuva da noite anterior em algumas partes do jardim, o verde da grama brilhando como cristais verdes sob a luz dourada do sol que se derramava sobre ela. A casa parecia pequena dali, como um sonho que nunca poderia ser alcançado.

Aos Poetas Decadentes - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora