Capítulo 18

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Cada parte do corpo de Noah estava queimando, o que não era necessariamente uma coisa boa ou ruim, mas as duas ao mesmo tempo. Ele não conseguia pensar direito com a proximidade de Oliver de seu corpo e sentia como se não conseguisse sequer respirar com o toque de suas mãos juntas de um lado e a mão de Oliver em sua cintura de outro.

Sinceramente, Noah nem mesmo conseguia sentir alguma coisa ao observar as pessoas saindo da pista de dança enquanto os encaravam com estranheza, e mal conseguiu se sentir grato quando Caroline e Elijah começaram a dançar com eles em claro apoio ao que ele e Oliver estavam fazendo.

Para conseguir se firmar em terra, Noah se forçou a colocar as palavras para fora, todas elas organizadas em uma pergunta coerente, algo da qual ele estava especialmente orgulhoso naquele momento:

— Você quer conversar sobre o que aconteceu?

Oliver respirou fundo e o peito dele raspou no de Noah, que se sentiu rachando por dentro com aquele pequeno toque. Estranhamente, ele não classificaria aquilo como algo ruim — nem mesmo de longe: o toque de Oliver era a única coisa que existia no mundo naquele momento.

— Eu não sei por onde começar. — Ele disse por fim, encarando Noah como se ele tivesse as respostas nas lágrimas dos olhos. — Eu não tenho certeza de qual fio puxar primeiro.

Aquelas palavras eram uma confissão e um pedido, os dois juntos reverberando em Noah como sinos. Ele entender perfeitamente o que o amigo queria dizer, entendeu o que ele precisava sem que Oliver precisasse colocar aquilo em palavras.

— Vamos começar por ordem, então. — Disse ele em um murmúrio, muito mais focado agora. — Você ficou com raiva quando Byers te chamou daquilo.

O aperto de Oliver ficou pior e aquilo, sim, incomodou. Noah se sentiu ficando tenso e cutucou o ombro de Oliver em sinal de aviso, falando no mesmo tom:

— Oli...

Oliver afrouxou o aperto imediatamente, sem precisar de qualquer explicação e soltou uma longa expiração, os olhos apertados denunciando o quanto o amigo de Noah estava se sentindo frustrado com aquele acontecimento em especial. Ele piscou, desviando o rosto para evitar o olhar paciente de Noah, que suspirou, sabendo exatamente do que aquilo se tratava.

— Eu sei que você não quer se lembrar do que passou, eu sei que dá vontade de fugir disso para sempre e nunca mais lembrar de nada. — Disse Noah na voz mais suave que pôde, olhando para Oliver enquanto seu coração parecia quebrar em milhões de pedacinho só por causa da vulnerabilidade crua que brilhava naqueles lindos olhos azuis. — E se não quiser me contar, se não estiver pronto para fazer isso, tudo bem. Eu nunca vou te fazer reviver aquilo, porque eu sei o quanto dói. Se você quer ou não quer, a escolha é sua e eu vou estar aqui seja qual for essa escolha.

Oliver estremeceu, como se Noah estivesse lhe dando uma facada com aquelas palavras, como se elas doessem de um jeito fundamental e ele podia entender, porque era assim que se sentia com o toque de Oliver — como se o amigo estivesse tocando sua carne viva e ferida, não camadas e mais camadas de roupas ou apenas sua pele.

— Minha mãe e meu irmão foram mortos por nazistas bem na minha frente enquanto eu me escondia, Noah. — Disse Oliver por fim, como se lhe custasse muito caro falar aquelas palavras. — Ser chamado disso é como... é como confirmar toda a culpa que eu sinto por não ter feito nada, é como se Byers estivesse concordando com cada pesadelo que eu já tive na minha vida.

Noah teve que entrar em guerra com as lágrimas que teimavam em subir para seus olhos, tentando não fazer com que Oliver sentisse que o estava machucando com essa história — apesar de tudo, Noah estava aliviado que ele estava falando, mesmo que um pouco, sobre tudo o que acontecera.

Aos Poetas Decadentes - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora