Capítulo 38

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Assim que eles conseguiram desgrudar Noah de Leah, Elijah moveu a cadeira de rodas para fora do caminho escorregadio da neve e colocou todos para dentro de casa. Não que Noah sentisse qualquer mera indicação de frio em seus ossos, tamanha era a empolgação que corria uma maratona dentro de suas veias.

Ele passara a última semana em pura agonia e ver o rosto de sua mãe foi a única coisa que finalmente fez com que o peso que substituíra seu coração dentro do peito se dissolvesse como açúcar na boca. Como sempre, Leah era simplesmente a pessoa mais linda que Noah já vira na vida, pouco importava a visão familiar dos hematomas que ela sempre parecia carregar com ela como uma mancha de tinta em uma obra de arte.

Ao entrarem no átrio da mansão, no entanto, começaram os problemas: a primeira coisa que Noah notou foi o olhar de Edward sobre eles e precisou segurar para não falar absolutamente nada para o rapaz, ou talvez lhe dar o soco que ele merecia. Sua mãe, no entanto, logo puxou a atenção de Noah de volta para ela.

Ele observou em silêncio enquanto Leah cumprimentava seus amigos, mantendo sempre o sorriso doce no rosto, mesmo com sua obvia vergonha da mancha perfeitamente visível em seu rosto. O coração de Noah apertou-se quando viu Leah abraçar cada um de seus amigos, mas de uma forma boa, tão boa que era quase impossível respirar. Quantas vezes ele não sonhara com aquilo, sua mãe em segurança e rodeada de pessoas que se importavam com eles? Noah nunca poderia pagar tudo o que devia para Elijah e os outros.

Um por um, todos os seus amigos cumprimentaram a mãe de Noah com sorrisos quentes e carinhosos, nem mesmo relanceando os olhos pelo machucado no rosto dela, algo pela qual seria eternamente grato. Então, Ellen e Jeremy também a cumprimentaram, então Loren — Caroline foi a última deles.

— Você deve estar cansada da viagem, quer comer algo enquanto Marjorie prepara seu quarto? — Perguntou Caroline após cumprimentar Leah, uma vez que as duas já se conheciam da infância que tinham passado juntas em Taigh Hill.

Noah observou a mãe relancear um olhar de reconhecimento educado para Marjorie, que apenas assentiu, sem sequer olhar nos olhos de Leah. Ele comprimiu os lábios em uma linha fina, incapaz de reprimir seu instinto protetor quando o assunto era sua mãe, mas não criou caso — não era hora de perturbar Leah com as maluquices da governanta de Taigh Hill: eles teriam bastante tempo para isso em outra ocasião.

— Isso seria maravilhoso, obrigada, Caroline. — Disse Leah e então, timidamente, olhou por cima do ombro para Elijah. — Será que vocês podiam me ajudar com a cadeira? Eu não estou mais acostumada...

Noah suspirou enquanto Elijah assentiu, seguindo de perto quando Leah o procurou com os olhos e estendeu a mão, que o garoto não hesitou em pegar.

— Jamie, venha comer alguma coisa também, você saiu sem tomar café. — Disse Elliot atrás deles, mas Noah não ouviu a resposta do outro homem enquanto eles andavam pela estreita passagem entre os dois degraus de madeira que cortavam o átrio em dois níveis ovalados de piso.

A menção de Leah à cadeira de rodas, no entanto, fez com que Noah suspirasse internamente. A mãe já tivera que usá-la uma vez, quando perdera parcialmente o movimento das pernas por causa de um inchaço na região da lombar quando ele era menor, alguns anos antes de Noah partir para Taigh Hill.

De algum jeito, ele sabia que aquela vez era mais permanente, mas não comentou aquilo, preferindo esperar que a mãe se sentisse mais confortável com tudo o que estava acontecendo e todas aquelas pessoas ao redor dela. Noah se virou ligeiramente para os amigos então, grato pela presença deles, ainda que um pouco exasperado também.

Ele não sabia se Leah estava confortável com aquilo, mas, pelo sorriso no rosto dela — um dos poucos sorrisos verdadeiros que ele vira a mãe dar na vida —, a aglomeração era algo que a deixava feliz, por isso Noah não falou nada.

Aos Poetas Decadentes - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora