Capítulo 48

13 0 0
                                    

Os três amigos olharam para a Bíblia nas mãos de Noah com expressões em branco por um segundo, sem entender o que era aquilo, mas eles não demoraram muito para entender: Noah observou com satisfação enquanto os semblantes de Chris, Annie e Oliver se iluminavam com entendimento chocado que ele já esperava ver.

— Onde você conseguiu isso?! — Perguntou Annie, estendendo a mão para pegar o livro sagrado das mãos de Noah com um entusiasmo quase impressionante.

Ele permitiu que a amiga pegasse a Bíblia, o sorriso divertido que tomara seu semblante segundos antes dando lugar a um franzir de testa diante da resposta para a pergunta de Annie.

— Eu achei ela nas coisas da minha mãe, na verdade. — Disse ele e seu tom seco não deixou dúvidas para o resto do grupo sobre o que Noah acreditava sobre os motivos que tinham levado Marjorie a fazer algo como aquilo.

Annie suspirou profundamente, seus ombros caindo quando ela entendeu o que havia acontecido sem que Noah precisasse sequer explicar qualquer coisa.

— Eu sinceramente não sei o que está acontecendo com ela. — Disse a garota, balançando a cabeça. — Ela nunca foi assim quando eu e Ellen éramos pequenas.

Eles observaram em silêncio enquanto Annie pousava a Bíblia sobre uma das mesas de estudo da biblioteca e se sentava em um dos banquinhos de madeira quietamente. Nenhum deles queria chatear ainda mais a amiga ao falar o que realmente pensavam sobre os atos e as palavras de Marjorie, apesar de terem muitos pensamentos na ponta da língua.

Noah sabia que, em qualquer outra circunstância, ele não se incomodaria com o comportamento da governanta o suficiente para falar qualquer coisa, mas um limite muito claro dentro da mente dele havia sido ultrapassado no momento em que Marjorie tentara usar Leah como alvo de sua religiosidade exacerbada, e isso o impulsionava a falar, mesmo que em um tom mais brando pelo bem de Annie:

— Annie, eu sei que você adora Marjorie e sempre a viu como uma figura materna, eu sei disso, mas ela está mexendo com a minha mãe. — As palavras quase o fizeram engasgar, mas Noah apenas continuou, ignorando terminantemente os olhares surpresos de Chris e Oliver para ele ao sustentar o olhar de Annie em vez disso. — Eu não posso deixar que outras pessoas façam com que ela se sinta errada pelo que fez ao deixar meu pai, ou mesmo indesejada dentro de Taigh Hill. Eu a queria aqui porque sempre considerei esse lugar um lar, um dos lugares mais curativos que eu já vi, eu não posso deixar que seja uma nova censura para ela.

Noah engoliu em seco, sentindo seu coração disparado com a adrenalina que parecia se injetada em suas veias com o modo como ele estava se impondo naquele momento, mas não voltou atrás — ele não podia, não quando a felicidade de sua mãe estava em jogo naquela situação toda. Então ele simplesmente continuou:

— Eu sei que minha mãe parece estar bem, bem demais para ser verdade, mas isso é só porque ela está mais do que acostumada a mentir sobre o assunto. Ela não está realmente bem e eu preciso ajudar ela do jeito que eu puder. — Noah engoliu o choro que queimou em seus olhos. — Eu preciso apoiar minha mãe, se não pelo bem dela, então pela paz na minha consciência e na preocupação que eu sinto pelas pessoas que eu amo. E, se não é da minha conta ser o confidente dela, então eu pelo menos preciso fazer com que a vida dela seja mais fácil aqui.

Noah não havia percebido até aquele momento o quanto aquelas palavras eram verdadeiras, mas agora que ele as havia colocado no ar, o poder e a realidade contida nelas ameaçou derrubar Noah, pesando em seus ombros de uma só vez.

Tentando não pensar sobre isso, ele voltou a sustentar o olhar de Annie, que não demorou para se para se suavizar completamente enquanto ela concordava com a cabeça.

Aos Poetas Decadentes - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora