Capítulo 39

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Não demorou muito para que a hora do jantar chegasse quase sem que Noah percebesse a passagem do tempo, muito distraído conversando com Leah sobre todos os assuntos que não poderiam evitar por muito tempo, não importava o quanto os evitassem. Um deles era, é claro, o fato de sua mãe estar em uma cadeira de rodas, muito diferente da pessoa sem deficiência que Noah deixara em casa há quase cinco anos.

— Foi ele, não foi? — Noah perguntara ao introduzir o assunto, sem qualquer necessidade de usar nomes ou qualquer outra explicação sobre o que estava perguntando.

Leah respirou fundo, hesitando antes de responder, provavelmente pensando em como responderia àquela questão. Ela costumava fazer isso quando ele era apenas uma criança, Noah se lembrou subitamente: Leah sempre tentava amenizar o que lhe acontecia em uma tentativa inútil de poupá-lo da verdade — e, ele suspeitava, de se convencer de que tudo o que estava vivendo não era grande coisa.

— Você pode me contar agora. — Disse Noah antes que Leah pudesse enfeitar a verdade para ele, ligeiramente frustrado ao olhar nos olhos da mãe. — Eu não sou mais criança, mamãe.

Leah investigou a expressão dele com cuidado e Noah tentou manter a própria expressão o mais sóbria que conseguia, temendo que sua mãe realmente visse o quanto Noah definitivamente não se sentia nem um pouco como um adulto, apesar de sua idade.

Ele passara quase cinco dos anos mais cruciais da formação de sua vida adulta isolado do resto de um mundo que estava em guerra — Noah não sabia explicar como, para ele, o tempo parecia ter congelado quando ele tinha quatorze anos no momento em que Noah pisou em Taigh Hill, como todas as responsabilidade de uma vida adulta pareciam intimidadoras demais para ele, que ainda se sentia como um adolescente.

Mas, apesar de todos aqueles sentimentos, ele sabia que não podia mais falar com Leah como se ele ainda fosse uma criança que precisava ser protegida. Pelo menos não quando o assunto era seu pai — isso seria um desrespeito a si mesmo e a tudo o que ele e Leah tinham sofrido por anos a fio.

A mãe de Noah pareceu compreender aquela parte, porque ela voltou a suspirar e disse:

— Sim, você realmente cresceu. — Os olhos de Leah marejaram com emoção, embora Noah não soubesse dizer se era emoção por perceber que ele já estava crescido ou por todo o resto. — Sim, foi seu pai que fez isso depois que descobriu que eu tinha autorizado você a pedir ajuda de Elijah para conseguir o meu divórcio.

Noah estremeceu com todas as lembranças que aquilo evocou, mas disse mesmo assim:

— Eu teria pedido a Elijah que te ajudasse independentemente da sua permissão. — Leah apertou a mão dele na sua, mas Noah quase nem percebeu aquilo, muito fundo nas próprias lembranças. — Eu nunca teria te deixado nas mãos do meu pai se tivesse qualquer chance de te tirar de lá.

— Eu sei, meu menino corajoso. — Disse Leah em um murmúrio, afastando algumas mexas de seu cabelo da testa dele. — Eu sinto muito que eu não tenha conseguido te proteger como deveria ter feito a sua vida inteira, Noah.

O primeiro instinto de Noah foi negar aquilo, rejeitando a ideia de que sua mãe fosse qualquer coisa além de uma mãe perfeita. Leah o segurara quando Noah chorava, ela soprara seus machucados quando ele caía e estava lá para levantá-lo sempre que ele caía — que maior prova de que ela era a melhor das mães do que tudo aquilo?

Mas havia uma parte dele, uma parte sobre a qual Noah não gostava de pensar, que concordava com o que Leah estava falando. Que a culpava, mesmo que ele soubesse racionalmente que não era culpa da mãe dele. Sua raiva mal dirigida era irracional, embora tivesse um fundo de lógica, mas dificilmente era justa para qualquer um deles.

Aos Poetas Decadentes - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora