Capítulo 49

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Não demorou muito mais do que a morte daquela conversa para que Noah deslizou para fora da biblioteca quietamente, deixando Annie e Chris para sua investigação na Bíblia de Marjorie, sem realmente se interessar pelo que poderiam encontrar ali. Ele se encaminhou para o terraço que, depois de todo aquele tempo, passara a chamar de seu, e, como na maior parte de suas noites repletas de insônia, Oliver o seguiu até lá, mantendo-se à distância e em silêncio.

Ele se limitou a observar enquanto Noah se sentava no chão empoeirado de concreto, sem se importar com a sujeira ou sua própria roupa enquanto tentava achar algum tipo de equilíbrio para sua mente perturbada.

Agora que as conversas tinham morrido e sua concentração no que precisava ser feito havia se esvaído para outros cantos de sua mente, a tensão que Noah havia ignorado até aquele momento finalmente conseguira enfiar suas garras no coração dele, forçando Noah a processar de uma só vez toda as emoções que ele ignorara por causa da nova carta de Isaac, do que descobrira sobre Marjorie e Leah, do que ouvira entre Loren e Elliot e a preocupação sobre o que deveria fazer sobre todos aqueles assuntos.

— Eu estou conversando com meus irmãos. — Disparou Noah por entre seus lábios quando o barulho em sua cabeça pareceu ser demais.

Ele não olhou para Oliver ao falar aquilo, permanecendo em uma espera tensa enquanto o amigo se sentava ao seu lado, sabendo que o amigo o encarava com uma certa hesitação. O leve raspar dos dedos de Oliver nos seus, ambos apoiados no chão, fez com que relâmpagos rastejassem por baixo de sua pele, lançando trovões e trovoadas sobre o coração de Noah com tanta força que ele perdeu o ar por um segundo — antes que ele puxasse a mão de volta para si.

Não era uma sensação ruim — longe disso —, mas Noah se afastou mesmo assim, sem saber o que fazer com o próprio corpo, como se tivesse se esquecido de como existir.

— Você nunca falou muito sobre eles. — Oliver finalmente afirmou quietamente, sua voz tão suave que foi praticamente carregada pela brisa até fazer cócegas no ouvido dele.

Noah estremeceu, mas manteve seus olhos para frente — na grama verde demais dos jardins de Taigh Hill e além, no lago que parecia espelhar um pedaço de Paraíso na Terra, e também nas nuvens de tempestade acinzentadas que manchavam o horizonte de um céu completamente branco. Ele encolheu os ombros antes de responder à afirmação anterior de Oliver:

— Eu sou o filho mais novo; Isaac e Jacob, os gêmeos, são os do meio e os mais legais; Levi é o mais velho e é exatamente como o nosso pai, então eu não falo com ele. — Noah mordeu o lábio, hesitando, mas completou: — Quando eu disse que estou falando com eles, eu quis dizer que eu estou conversando com eles sobre esses... sentimentos sobre os quais nós conversamos antes. Sobre... todo o medo que eu não consigo deixar no passado.

Apesar da clara hesitação no tom e nos gestos de Noah, Oliver nem mesmo piscou ao ouvir aquilo, limitando-se a assentir, seus olhos de céu invernal, pálidos como sempre, se suavizando imediatamente ao encontrarem os olhos de Noah.

— Eu fico feliz em ouvir que você tem alguém com quem compartilhar isso, liebling. — Disse ele suavemente, parecendo verdadeiro, algo que surpreendeu Noah.

— Mas você não gostaria de que eu tivesse falado com vocês sobre isso primeiro? — Perguntou ele antes que pudesse se impedir, encarando Oliver com a testa franzida.

O rapaz, por sua vez, reprimiu um sorriso ao se ajeitar no chão e responder suavemente:

— Noah, eu não me importo se você está falando com o maldito rei sobre seus traumas, contanto que você esteja enfrentando esses demônios, contanto que você não esteja afundando sob o peso de todos os fardos que você foi obrigado a carregar. — Disse Oliver carinhosamente, seu tom abertamente caloroso. — A única coisa com a qual eu me importo é que você esteja conversando com alguém que se importa com o seu bem estar e que isso esteja te fazendo bem.

Aos Poetas Decadentes - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora