Capítulo 74

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Noah engoliu em seco, passando os olhos pelo café abarrotado de pessoas ao seu redor. Ele não tinha certeza do que estivera pensando quando marcara de se encontrar com os irmãos — Isaac e Jacob — no meio de um dos lugares mais movimentados de Londres e pior, sozinho. Mas na época aquilo parecera como uma boa ideia. Segundo a sua própria ansiedade, isso não poderia estar mais longe da verdade.

Ele sabia que Oliver provavelmente estava super preocupado com ele naquele exato momento, não porque ele achava que Noah não onseguia fazer aquilo, mas porque ele sabiao quanto seria difícil para o namorado. Além disso, Chris e Annie ainda não sabia que Noah marcara aquele encontro, isso principalmente porque Noah não quisera preocupá-los: Chris já o suficiente para lidar sem ter que se preocupar com Noah conhecendo os próprios irmãos e Annie, apesar de ela sempre lutar para esconder, ainda estava processando a falta que ela sentia de Taigh Hill e do resto de sua família.

Claro, todos eles sentiam falta de seu porto seguro — eles tinham deixado a Casa Secreta aos cuidados de Ellen e Jeremy sob estritas ordens de nunca deixarem o lugar se deteriorar —, mas Annie estava sofrendo porque toda a sua vida estava mudando de uma vez sem que ela tivesse qualquer controle sobre o assunto. Embora fosse a garota quem escolhera aquele caminho, Noah entendia que a confusão, a saudade e a preocupação pelo futuro poderiam ser pesado demais a princípio.

Quanto a ele mesmo, Noah estava fazendo o possível para não se sentir muito culpado por deixar Leah sozinha em Taigh Hill, por mais que sua mãe tivesse lhe garantido que iria ficar bem ali e que ele deveria ir — com palavras bem mais contundentes e bruscas que essas, é claro, mas aquela era a ideia geral. Ele não queria ter deixado Leah, mesmo que a mulher estivesse bem melhor depois de mais de um ano e meio fora da casa e de seu casamento com Ben Ami.

O pensamento intruso de Noah sobre seu pai fez com que o garoto estremecesse, olhando em volta quando a sensação de estar sendo observado apertou sua garganta. Noah sabia muito bem que o sentimento não era real, mas isso não fez com que ele se acalmasse, olhando de um lado para o outro enquanto os ruídos da multidão pareciam ficar mais altos e insuportáveis.

Sem quase perceber, Noah começou a se balançar ligeiramente, encolhendo-se na cadeira de madeira em que estivera sentado durante os últimos cinco minutos. Ele se forçou a fechar os olhos, bloqueando um pouco de tudo o que o estava sobrecarregando naquele momento, e respirou fundo, ainda se balançando, antes de soltar todo o ar pela boca, imaginando uma vela acessa a sua frente. Com a repetição do exercício de respiração e o movimento reconfortante, o barulho e as coisas que estavam incomodando Noah diminuíram enquanto ele se auto-regulava.

Respirando fundo uma vez mais, Noah abriu os olhos, rezando para que as pessoas ao seu redor estivessem ocupadas demais com suas próprias vidas para ficar cuidando do que ele estivera fazendo, sabendo muito bem que ninguém além de seus amigos e de sua família em Taigh Hill considerava aquele comportamento completamente normal. Felizmente, ao que parecia, Noah tinha escolhido o luar certo daquele café, escondido o suficiente para que a única pessoa que o estivesse olhando estranho fosse uma mulher de capa de chuva amarelo brilhante e seu chiuaua, o que já era uma visão estranha o suficiente para que Noah parecesse o auge da simplicidade de comportamentos.

Ele sorriu, baixando as mãos para sua xícara ainda fumegante, então para o relógio na parede do café. Era quase quatro da tarde, a hora que Noah marcara de se encontrar com seus irmãos. Ele mordeu o lábio, olhando em volta mais uma vez.

Todas as pessoas ali presentes pareciam mais ricas, todas elas falando com familiaridade umas com as outras. Noah sabia que o preço de uma guerra era o sofrimento, o sangu e o dinheiro das classes mais baixas, por isso não estava realmente surpreso que as pessoas que tivessem dinheiro para estar naquele café fossem pessoas com poder aquisitivo maior do que o que ele estava acostumado a ver antes da guerra.

Aos Poetas Decadentes - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora