Capítulo 58

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Meses depois daquele dia em que eles presentearam Annie novamente com seu estúdio reconstruído, a neve cobriu o chão, fazendo com que fosse impossível voltar à Casa Secreta, como sempre acontecia durante o inverno. Nenhum deles sentia particularmente desejosos, afinal de contas, de congelarem em uma casa que nem tinha aquecedor, nem janelas para protegê-los do frio e impedir que a lareira se apagasse.

Por isso, durante aqueles últimos dois meses do ano, eles ficaram presos na mansão com o resto dos residentes, todos eles sempre agradecendo silenciosamente que Edward Kittan não estava mais entre eles para transformar aquele confinamento relutante em uma sessão caprichada de tortura psicológica.

Tão rápido quanto a primeira nevasca, no entanto, o Natal não demorou a chegar, trazendo consigo o super baile que Elijah e Caroline tinham planejado como loucos desde o meio do verão — até onde Oliver estava ciente, eles deveriam ter começado antes mesmo do último inverno ter acabado. Ele não podia dizer que a perspectiva de estar em um salão abarrotado de pessoas era particularmente apelativa para si — a quantidade de pessoas e de conversas sem propósito deixavam Oliver nervoso.

Esse foi um dos motivos que o levou para o lado de fora da mansão logo no começo do baile na noite de véspera de Natal. Já acostumados com os sentimentos de Oliver e Noah sobre multidões, Annie e Chris nem sequer piscaram quando ele anunciara que iria sumir por um tempo depois de passar alguns minutos no salão, já ansioso para sair dali. E também, Noah nem sequer tinha aparecido, então não fazia diferença se ele estava lá ou não.

De qualquer modo, quando fez caminho até o estacionamento improvisado na parte da frente da mansão, Oliver não esperava encontrar Noah, todo engasalhado, com um copo na mão enluvada — mas foi isso mesmo que ele encontrou.

— Eu não sabia que você tenha ido para a festa. — Disse ele, fazendo Noah suspirar pesadamente, voltando seu rosto pálido para o céu.

— Eu só levei minha mãe até lá e saí. Ela queria ir, então... — Noah deu de ombros como se aquilo não fosse nada, mas Oliver podia ver que eles estava tenso.

Com uma ideia nascendo em sua mente, Oliver não adentrou muito no assunto com Noah, preferindo puxar o amigo pela mão enluvada em direção à casa novamente.

— Vem comigo.

O tecido puído pelo uso era áspero contra sua mão desnuda — muito como a maior parte das roupas de Noah, que fazia de tudo para não se destacar —, mas Oliver não comentou aquilo enquanto o guiava de volta para o átrio, onde ambos passaram por Elliot e Loren discutindo sem comentar nada, e subiam as escadas em direção ao terraço.

Oliver podia sentir o ar gelado de meio de inverno contra sua pele, mas a sensação não tinha poder de anular a quentura da mão de Noah através do tecido da luva dele contra a sua ou o arrepio que tomava conta do corpo de Oliver todas as vezes que eles se tocavam.

Noah e ele permaneceram em silêncio durante todo o caminho, um silêncio que nenhum dos dois se esforçou para quebrar, ambos confortáveis com ele. Quando eles finalmente saíram para o terraço de concreto, entrando na noite fria e estrelada, os dois se sentaram na mureta que os separava da queda de três andares.

A noite estava calma, o exato oposto do clima festivo que permeava o lado de dentro da mansão — muito diferente da mente de Noah também, Oliver podia apostar. Ali, do lado do rapaz, tão perto dele que Oliver só teria que se esticar um pouco para que seus lábios roçassem a bochecha dele, corada pelo frio, ele observou o amigo som cautela, como normalmente o fazia quando o encontrava sem dormir em algumas noites.

Os cílios de Noah eram impossivelmente longos e escuros, raspando as pálpebras do garoto suavemente. Os lábios dele estavam avermelhados e levemente machucados pelas mordidinhas que Noah sempre dava quando estava muito concentrado em algo, nervoso ou ansioso. Dali, Oliver também podia ver um traço de barba escura começando a nascer na mandíbula reta de Noah e teve que respirar fundo ao imaginar como seria arranhar a palma de sua mão ali. Como seria se ela raspasse seus lábios.

Aos Poetas Decadentes - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora