Capítulo 54

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Levou uma semana inteira para que Chris finalmente criasse coragem para bater à porta de Marjorie. Àquela altura, a governanta já estava um pouco mais comunicativa e, no dia em que Chris escolhera ir falar com ela, ele acabou vendo Caroline saindo do quarto da irmã com as bochechas molhadas de lágrimas, soluçando baixinho.

A mulher sequer notou Chris enquanto se afastava, parecendo perturbada por quaisquer que tivessem sido as palavras que Marjorie tivesse disparado contra ela. Aquela visão endureceu um pouquinho o coração depois que ele ouviu toda a história de Leah e lhe deu a coragem que Chris precisava para bater à porta da governanta.

Ela não atendeu na primeira vez, mas isso não o deteve: ele simplesmente continuou a bater enquanto sua conversa anterior com Annie voltava a sua mente:

— Sinceramente, eu nem mesmo percebi que você tinha dado a entender que ela gostava de mulheres. — Dissera a garota com a testa franzida ao levantar os olhos para Chris, uma expressão grave em seu belo rosto. — Peça desculpas a ela, Chris.

E ele estava ali para fazer exatamente aquilo — mas isso não queri dizer que Chris estaria se permitindo virar o saco de pancadas de Marjorie, alguém em quem ela sentia que poderia descarregar suas frustrações e seu ódio contra si mesma.

Ele passara a última semana inteira digerindo a história que Leah contara, muito impactado por todo o conhecimento que tinha adquirido em tão pouco tempo, mas a verdade era que aquilo tudo mudava muito pouco no cenário atual das coisas: o passado de Marjorie — assim como seus demônios — não tinham o direito de assombrar todos eles.

E, ainda assim, o que a história da vida de Marjorie mudava — por menor que fosse — ainda tinha um poder imenso que Chris não podia negar: o poder de fazer com que o coração de todos eles doessem pela governanta, de fazer com que eles se sentissem mal por ela, não por causa dela.

Como Chris poderia ser firme na mensagem que precisava passar quando seu coração doía?

De repente, era claro como o dia para ele o motivo de alguns pais serem permissivos demais. Como ele poderia fazer com que Marjorie percebesse suas ações pelo mal que elas eram se isso quebraria seu coração junto com o dela?

Só se desculpe, ele lembrou a si mesmo duramente, você não pode forçá-la a ver algo que ela não quer ver, você não tem qualquer controle sobre os demônios dela. Você não pode consertar tudo, especialmente os problemas que não pertencem a você.

Respirando fundo, Chris bateu à porta uma quinta vez, determinado a fazer aquilo naquele mesmo momento.

— Caroline, eu já disse... — A porta se abriu para revelar Marjorie com seu costumeiro vestido de matrona e uma expressão severa no rosto, mas Chris já estava mais do que acostumado com aquilo. — O que você quer aqui?

A hostilidade rolava em ondas de Marjorie enquanto ela olhava para ele como se Chris fosse um inseto. Ele suspirou internamente, engolindo a inimizade que ameaçou brilhar em seu tom quando ele respondeu:

— Conversar. — Marjorie bufou, desdenhosa. — Eu realmente gostaria de falar com você, Marjorie.

Por um momento, a mulher não falou uma palavra sequer — Chris realmente achou que ela fecharia a porta na cara dele, algo pela qual ele não a culparia, para variar —, mas então Marjorie abriu caminho para que ele entrasse no quarto dela.

— Bem? — Marjorie parecia impaciente ao encará-lo, os braços cruzados em seu peito em um sinal defensivo e nada aberto para a conversa com a qual ela tinha concordado. Chris achou, porém, que seria contraprodutivo apontar aquilo, por isso ficou em silêncio. — Você quer falar, então fale.

Aos Poetas Decadentes - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora