Capítulo 65

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Duas semanas mais se passaram desde o dia em que Annie conversara com Elliot para que Loren finalmente decidisse se mudar de Taigh Hill de forma definitiva: a princípio, ela moraria no hotel enquanto procurava por um local mais adequado para permanecer, sem querer impor sua presença na mansão por mais tempo do que o necessário. Isso era tudo o que Loren contara a Annie e Ellen quando as três tiveram sua conversa final, que terminara cinco minutos atrás.

Anestesiada com tudo o que tinha ouvido, Annie ignorava terminantemente os olhares preocupados de relance que Ellen lhe lançava a cada passo que davam. Nenhuma delas estava esperando escutar o que Loren tinha a dizer para as duas, aquilo estava claro para Annie, mas ela sentia que podia vomitar sempre que se lembrava das palavras de Loren, do que a mãe lhes revelara.

Ela não falara mal de Elliot para elas — muito diferente do homem quem falavam —, mas era claro como água quem era o responsável pela miséria que Loren sentia há anos. E o mais doloroso de tudo era que, durante toda a conversa — em que Loren contou sua visão de tudo o que acontecera —, Annie sentiu como se as palavras que sua mãe usava fossem as mesmas gravadas no espaço que seu pai ocupava em seu próprio coração.

Annie estivera ignorando aqueles sentimentos há muito tempo, sem realmente saber o que fazer com eles, mas a história de Loren fizera com que fosse impossível para Annie ignorá-los por sequer mais um segundo. Ela precisava reconhecer aquele desespero, a ansiedade, a tristeza e desapontamento profundos pelo que eram: resultados do comportamento inadmissível de Elliot para com ela.

— Ele é um filho da puta, não é? — Annie perguntou suavemente para Ellen ao seu lado.

Elas estavam chegando à entrada da mansão agora, Loren com suas malas de mão andando a frente delas, mais do que pronta para ir embora. Ellen, diante de sua pergunta, suspirou pesadamente e disse com simplicidade:

— Sim, ele é. — Depois de um tempo, ela também acrescentou: — Eu sinto muito, Annie.

Em resposta, Annie balançou a cabeça, negando. Ela não queria a simpatia ou as desculpas de sua irmã mais velha, não queria ser alvo da pena de ninguém, embora estivesse se sentindo como uma completa idiota. Como era possível que Annie não tivesse visto antes o tipo de pessoa horrível que seu pai era? Como era possível que ela tivesse sido tão cega? E mais, como Annie deixara aquilo chegar ao ponto em que ela estava mais ansiosa do que feliz na maior parte dos dias? Em que parte de sua vida ela simplesmente se esquecera de olhar para si mesma?

Ela observou sem realmente ver enquanto Loren se despedia de Caroline, Elijah e Leah, agradecendo cada um deles por seu suporte incondicional. Ela sabia que Jamie estava esperando do lado de fora com o carro já carregado com as outras malas e, se Elliot sabia que Loren partiria naquele dia, ele não estava lá — algo que fez o aperto da ansiedade ficar um pouco mais solto ao redor do coração de Annie.

— Como é que eu não notei como ele realmente era? — Ela perguntou em um murmúrio, sem conseguir calar aquela única questão incessante dentro de si.

Ellen respondeu sem hesitar:

— Lembre-se de ser gentil consigo mesma, Annie. Esse é o primeiro passo da cura. — Disse ela com um semblante preocupado na visão periférica de Annie. Então, Ellen acrescentou em um tom de voz muito mais duro: — Para a sua própria saúde mental, Annie, você nunca viu porque ele sempre te manipulou, desde criança.

Annie piscou na direção de Ellen, que se limitou a observar enquanto Loren pegava suas malas novamente e saía da mansão com um sorriso esperançoso em seu rosto. Ela já havia se despedido cordialmente das duas depois de conversarem — das irmãs, a única que manteria contato com a mãe delas era Ellen, embora Loren tivesse pedido desculpas a Annie pelos anos de abuso e mencionara a possibilidade de elas tentarem construir algo agora que estavam melhores.

Aos Poetas Decadentes - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora