Aos Poetas Decadentes - Volume 2

Capítulo 62

Chris decidira ficar e passar a noite com Annie apesar dos perigos que isso trazia — um olhar de aviso fuzilante de Ellen sendo o menor deles, por exemplo —, então Noah e Oliver se esgueiraram de volta para seu quarto, torcendo para não serem pegos em sua escapada, algo que não era nada fácil quando Oliver continuava a puxá-lo para cantos escuros e beijando Noah até que a cabeça dele girasse.

Já no meio do caminho, eles eram um par de crianças felizes demais, incapazes de conter suas risadinhas — e, não tão inocentemente quanto a primeira imagem mental, suas mãos.

— Você é uma má influência, Krause. — Disse Noah, tentando conter um sorriso que estava começando a fazer suas bochechas doerem.

— Ah, eu sou a má influência aqui, Kurtz? — Oliver provocou, fazendo cócegas nele com as pontas de seus dedos indicadores. Quando Noah se desemaranhou dele, rindo, Oliver disse: — Que eu me lembre, quem me puxou para um corredor escuro primeiro foi você.

Tudo bem, Noah podia ter sido o primeiro a agir, ele confessaria para si mesmo — mas nunca para Oliver, recusando-se a dar ao namorado a satisfação de estar certo. Por isso Noah simplesmente ficou em silêncio, mas aquilo foi concordância mais do que o suficiente para o rapaz.

Noah revirou os olhos ao ouvir a risadinha convencida do garoto, apesar de seu coração retumbante no peito. Segundo aquele órgão ridículo, tudo o que Oliver fazia e falava era adorável e irresistível, então, se Noah agisse do modo como ele queria, ele seria reduzido a um tolo apaixonado cujos olhos de cachorrinho seguiriam Oliver para todo lado.

Eles estavam juntos desde o Natal, mas nenhum dos dois queria enfrentar a realidade palpável de um relacionamento ainda, como tinham conversado naquela mesma noite. Por isso, Noah e Oliver estavam tentando manter as coisas em sigilo, ainda que estivesse ficando cada vez mais difícil — não porque era particularmente complicado esconder o relacionamento deles, mas porque quanto mais tempo ele passava com Oliver, menos ele tinha vontade de esconder seus sentimentos sobre o rapaz.

Mas Noah sabia muito bem que as coisas eram muito mais complicadas do que aquilo: Oliver queria poder contar para seu pai quando eles decidissem tornar seu relacionamento algo oficial para o resto das pessoas em sua vida, assim como também havia os outros moradores em Taigh Hill, é claro. Não era que eles pensavam que alguma daquelas pessoas não fossem aceitá-los, porque nada poderia estar mais longe da verdade — Noah e Oliver sabia que podiam confiar em sua família. Qualquer dúvida sobre o assunto que ainda pudesse existir fora extinta com o jeito com que eles trataram Marjorie depois de saberem sobre a verdade.

Era apenas que eles queriam contar em seu próprio tempo, enfrentar a realidade daquilo — o perigo — de se amarem depois, como se os dois sentissem que podiam transformar seu romance em um sonho ao se prenderem em uma bolha de segurança antes de tudo mudar e se tornar mais difícil. Então, eles continuariam a se esconder de todo o mundo — por um tempo, pelo menos.

Ao entrar no quarto que compartilhavam, Noah e Oliver se dirigiram diretamente para suas respectivas camas. Eles já estavam de pijamas quando foram para o quarto de Annie, então tudo o que fizeram foi se enfiarem debaixo das cobertas, ambos sentados e um de frente para o outro.

— O que você acha que fez com que Loren decidisse se divorciar? — Perguntou Oliver de repente, quebrando o silêncio entre eles e parecendo curioso. — Eu quero dizer, todos nós vimos o idiota que ele é quando ele falou com ela hoje, mas qual foi o catalizador? Será que houve um ou a proximidade com Caroline e sua mãe fizeram a decisão ser um processo lento para ela?

Noah suspirou profundamente, pensando sobre o assunto.

— Com certeza a influência da minha mãe e de Caroline deve ter tido um grande impacto. — Ele disse por fim. — Você notou como elas se aproximaram desde o casamento e ainda mais depois que minha mãe chegou? Elas tomam chá todos os dias por horas a fio.