Capítulo 14

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O jantar de noivado passou sem muitos eventos, o que era ótimo, mas Chris odiou cada segundo daquele sábado à noite mesmo assim: depois daquele fiasco na noite da biblioteca, Annie estava tentando manter distância dele e Chris estava apavorado.

Ele sentia seu coração subindo até a garganta e então descendo por todo o seu tronco todas as vezes que pensava naquele momento ínfimo em que seus olhares tinham se encontrado e então na expressão de Annie enquanto ela deixava a biblioteca.

Chris não podia aguentar o pensamento de que Annie não iria mais querê-lo por perto ao ter visto a verdade em seus olhos, a verdade do coração de Chris, da alma dele: era que ele estava irrevogavelmente apaixonado por Annie.

Chris havia percebido isso em algum momento depois do primeiro — e último — beijo deles, mas nunca ousara colocar aqueles sentimentos em palavras, nem mesmo enquanto Oliver e Noah estavam dormindo e ele estava enrolado em escuridão no meio de seu quarto.

Mas independente das palavras faladas, sua poesia ainda sangrava aquela paixão, escorria aqueles sentimentos que Chris queria desesperadamente evitar — uma das razões pelas quais ele dera um antigo caderno para que Annie lesse, apavorado de que ela visse a verdade entre a tinta escura e o papel. Era inevitável que ela estivesse lá: a arte de Chris era sobre sua verdade, era sobre sua alma, era sobre cada sentimento que era forte demais para que ele aguentasse sem precisar de palavras.

Porque querendo ele ou não, a poesia na alma de Chris precisava ser dita, precisava ser escrita. Não era uma escolha, não era nem mesmo uma chance que ele conseguira ter: Chris era um escravo grato de sua própria arte, um poeta em seu próprio direito, e ele morreria no dia que não tivesse mais como usar suas palavras.

Mesmo naquele momento, enquanto ele, Oliver e Noah se aprontavam para o casamento Chris estava recitando seu discurso como padrinho, certificando-se de que o texto estivesse o mais próximo de perfeito que ele poderia fazer.

— Para de ser paranoico. — Oliver o repreendeu com um sorriso maroto, olhando para Chris pelo espelho enquanto dava nó na própria gravata. — Vai dar tudo certo.

— Eu não estou sendo paranoico. — Chris rebateu com um sorriso leve. — Apenas cuidadoso.

— Ansioso, você quer dizer. — Noah disse, também sorrindo.

Na noite anterior, durante o jantar de noivado, ele e Annie haviam escapado na metade do evento, o que deixara um gosto amargo na boca de Chris — não por causa de algum ciúmes bobo, mas exatamente pela consciência de que ele não conseguiria ficar bravo com nenhum dos dois, Chris entendia os dois demais para isso.

Ele sabia que Noah só havia ido embora do jantar porque estava se sentindo mal com a presença de tantas pessoas de uma vez só, e não culpava o amigo por isso, é óbvio. E Chris também sabia que Annie só fora com ele porque queria ajudar Noah, apoiá-lo, e era impossível ficar bravo com ela quando Annie havia feito o que ele e Oliver tinham desejado fazer eles mesmos.

O único problema era que ele não havia conseguido olhar nos olhos de Annie durante toda aquela noite — e o dia. E, se fosse ser honesto com si mesmo, Chris invejava o tempo que Noah e Annie passaram juntos na noite anterior — o que, ele supunha, era ocasionado apenas porque Chris estava se sentido ignorado por Annie, já que ele nunca sentira nada do tipo antes.

— Por que você está tão introspectivo antes de um casamento? — Perguntou Oliver, despertando Chris de seus pensamentos ela segunda vez ali e, dessa vez, ele sentiu uma nota de preocupação na voz do amigo.

Chris olhou para Oliver, então para Noah, que também parecia ligeiramente preocupado, e suspirou, passando a mão pelos cabelos em um gesto ansioso. Balançando a cabeça, ele respondeu ao sentar na beira da cama de Oliver:

Aos Poetas Decadentes - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora