Capítulo 47

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Noah não esperava encontrar o quarto de sua mãe vazio naquele dia, mas ele supunha que deveria ter suspeitado: Leah estivera falando sobre sair da mansão desde que a neve havia derretido — sem sombra de dúvidas, ela tinha convencido Caroline e Jamie a deixarem-na andar pela propriedade, principalmente em um dia quente como aquele, apesar de ainda ser maio.

Com um suspiro, Noah adentrou o quarto, abrindo a gaveta da mesa de cabeceira de sua mãe em busca de uma caneta, decidindo esperar ali enquanto ela não voltava. Apesar de não estar mais ignorando seus amigos, eles tinham caído em uma rotina que permitia que Noah passasse um bom tempo de suas tardes com Leah, não apenas porque ele não tinha mais nada para fazer, mas também porque ele queria ficar perto da mãe.

Quando Noah não conseguiu achar a caneta na primeira gaveta, no entanto, ele abriu a segunda apenas para congelar assim que viu o que havia ali dentro. Sem poder acreditar em si mesmo, Noah pegou a bíblia, olhando para a capa de couro dela, que continha apenas uma inscrição — Mene, Mene, Tekel, Pharsim — exatamente como Oliver havia contado um ano e meio antes, quando eles acharam o escrito na parede da biblioteca da Casa Secreta.

Mas o que diabos, Noah se perguntou enquanto franzia o cenho, aquilo estava fazendo na cabeceira de cama de sua mãe?

— Noah, você está aqui. — A voz quase sem fôlego de sua mãe assustou Noah, fazendo seu coração disparar.

Ele poda sentir o órgão em pânico dentro de si mesmo, mesmo depois de perceber que a nova pessoa no quarto era Leah, e tentou respirar como Oliver havia lhe mostrado — um exercício que, Noah descobriu rapidamente, funcionava muito bem, o que era um choque pessoal para ele. Noah estava crente de que aqueles exercícios seriam uma perda de tempo — ele quase podia ouvir Oliver falando em sua mente "Eu te avisei, liebling".

Noah tentou não focar demais no apelido que o amigo usara com ele há algumas semanas atrás na biblioteca — era estranhamente bom, mas isso não significava que ele realmente queria se aproximar do que aquilo queria dizer. Com o coração um pouco mais calmo diante dos exercícios de respiração, Noah voltou a prestar atenção no que sua mãe estava dizendo enquanto tentava manter a porta aberta para poder passar a cadeira de rodas através dela.

Desperto de seu estupor, Noah se prontificou a segurar a bendita porta, a bíblia ainda em sua mão.

— Obrigada, querido. — Disse Leah com sua usual voz doce e animada, olhando para cima depois de empurrar as rodas e entrar no quarto. Quando ela se virou para ele, depois de Noah fechar a porta atrás de si, seu sorriso se transformou em sobrancelhas franzidas. — Onde você achou essa coisa velha?

Noah baixou os olhos para a bíblia em sua mão, sabendo que Leah se referia a ela, e então de volta para a mãe.

— Eu achei na segunda gaveta da sua cômoda. — Disse ele lentamente em resposta, tentando entender se aquela era realmente a bíblia da qual eles estavam precisando. — Eu estava procurando uma caneta porque preciso escrever uma resposta para Isaac e Jacob, mas... isso chamou minha atenção.

Pensativo e curioso, Noah encarou a mãe, tentando entender se Leah sabia o que era aquilo e a quem ela pertencia, mas o rosto de sua mãe estava inescrupulosamente em branco enquanto eles se encaravam. Por um momento, no entanto, o silêncio entre eles pesou com uma amargura que Noah não conseguiu realmente entender.

Então, tão subitamente quanto veio, a amargura desapareceu, trazendo com sua ausência um sorriso forçado para o rosto de Leah, que apenas suspirou e falou:

— Marjorie a deixou aqui. Ela achou que eu talvez fosse achar a leitura... esclarecedora.

Havia algo no tom de sua mãe que incomodou Noah de imediato, mas ele não disse nada naquele momento, sabendo apenas pelo tom de voz que Leah estava usando que ela não compartilharia nada sobre o assunto com ele — era o mesmo tom de voz de quando Ben Ami a machucava. O instinto de proteger sua mãe estava batendo forte dentro de Noah, no entanto, e ele não pôde deixar de fuzilar o livro em suas mãos com os olhos, nervoso pelo desrespeito de Marjorie.

Aos Poetas Decadentes - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora