Capítulo 24

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De facto, Philipa conhecia bem Sophia. As duas passaram a infância juntas, cresceram juntas, viveram aventuras juntas, fizeram malandrices juntas, portanto, era de esperar que se conhecessem melhor do que ninguém.

Na casa de Leonard, Sophia acordara antes do nascer do Sol para treinar no jardim. Dispusera uma série de alvos sobre a erva fresca do chão e afastara-se dos mesmos, até alcançar a distância desejada. De seguida, a moça ergueu o seu arco, pegou numa flecha com uma ponta bastante afiada, mirou e deixou a flecha, fazendo com que ela percorresse uma trajetória linear, em direção à linha que se localizava acima do centro.

- Merda! – resmungou Sophia, olhando para o local onde a flecha tinha parado.

Desde que fora ferida pelo Alfa, Sophia perdera parte da sua força e da sua destreza em acertar no local desejado. Na verdade, a mira de Sophia estava má e a moça tinha que se preparar, para saber como combater naquele estado enfermo.

- Não deverias estar a descansar? – perguntou Mara sonolenta, aproximando-se do alvo, do qual retirara a flecha – O teu ombro não irá melhorar, se continuares a exigir demasiado dele.

- Eu tenho que me preparar, caso seja necessário combater – informou Sophia, pousando o arco no chão – Não deverias estar a dormir?

- Deveria, mas tu também estás a pé, por isso achei que precisarias de companhia, pelo menos para me certificar que ficarias bem e que não te dava outro ataque de tosse.

- Obrigada – agradeceu Sophia com um sorriso ternurento – Por isso e pelo chá.

- O chá?

- Sim, eu reparei que, ontem à noite, quando conversámos, colocaste o chá da avó na caneca.

- Eu só não queria que te desse outro ataque, sabes? Por causa do ombro e assim, por isso pedi um pouco à Karina – disse Mara, desajeitadamente.

Sophia sorriu. Era bom sentir que alguém se importava com ela. Claro que a moça sabia que os amigos se importavam com ela, mas, de vez em quando, era bom ouvir alguém a dizê-lo.

- Já que estás aqui, queres treinar? – perguntou Sophia, pegando no seu arco – Sei que não tens muito jeito com o bastão, mas creio que te possa ajudar a habituares-te.

- Acho que preciso de algo mais afiado – explicou Mara, entregando-lhe a flecha – Algo que seja capaz de provocar dano, mas que não seja como uma espada.

- Estou a ver – comentou Sophia pensativa, levando o polegar e o indicador ao queixo – Precisas de algo versátil e acho que tenho a arma ideal para ti. Segue-me.

Mara obedeceu e seguiu Sophia. As duas moças adentraram na casa. Sophia pousou o seu arco e as suas flechas na mesa de entrada e ambas dirigiram-se às escadas que davam acesso ao piso inferior, localizadas logo após a entrada traseira da casa. Sophia puxou um pequeno fio, quase invisível, e um conjunto de tochas, colocadas ao longo das enormes e espessas paredes de pedra, acendeu-se.

As duas moças desceram as escadas, cautelosamente, e, após cerca de trinta degraus, elas alcançaram o andar inferior. Sophia voltou a puxar um outro fio e as tochas, localizadas num candelabro central, acenderam-se umas após as outras, iluminando a enorme sala escondida.

O chão era feito de pedra. Estava húmido, devido à falta de luz natural. As paredes, pelo contrário, eram feitas de gesso. Simplesmente, gesso. Como aquele que os humanos usavam para fazer estátuas ou até construir paredes. Contudo, estas pareciam mais quentes. Era como se o chão sugasse toda a humidade existente nas paredes, para as proteger contra os estragos. Como se o chão fosse o pai das quatro paredes de gesso.

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