Capítulo 38

18 4 0
                                    

O silêncio instalara-se entre o grupo. Não havia o que fazer. Não havia o que dizer. Todos estavam demasiado surpresos para que algo saísse das suas bocas ou alguma parte do corpo se movesse.

Sophia estava devastada. Philipa tinha perdido a esperança. Nada do que pudesse ser dito ou feito poderia reaver aquela chama que se acendera, no momento em que Glória disse que elas podiam sobreviver. Todos os seus esforços foram por água abaixo, quando Liam esmagou a Assassin Rosemary por entre os seus dedos esguios.

- O que aconteceu entre vocês? – questionou Mara, quebrando o silêncio ensurdecedor que se instalara.

Sophia continuava de joelhos. Porém, a pergunta da humana fê-la despertar. A moça olhou para cima e viu os olhos de Mara. Algo neles estava diferente. Algo neles tinha mudado, mas era impossível de dizer o quê.

Sophia voltou a encarar o chão e pegou numa pedrinha. Era mais fácil admitir a verdade, quando não encarávamos aqueles que precisavam dela.

- Nós costumávamos namorar – admitiu a moça, sentindo um aperto no peito - Tudo era belo ao início. Ele era carinhoso, levava-me em passeios românticos, dava-me presentes... Porém, quando começaram as provas finais, ele tornou-se distante. Ficou obcecado por ser o melhor, para orgulhar os seus pais, e acabou por se esquecer que o "nós" existia. Eu estava cansada e passava as noites todas a chorar, portanto, o melhor remédio foi terminar tudo. Ao início, ele não aceitou muito bem, prometeu-me mundos e fundos, mas, mesmo assim, tudo acabou pro terminar. Ele tratava me como uma verdadeira princesa e eu nunca me vou esquecer disso. – garantiu Sophia com um sorriso tristonho na face. A moça ergueu novamente os olhos, para encarar Mara e continuou – Mas, a verdade, é que, às vezes, todos nós ficamos cansados por não sermos tratados como verdadeiros reis e rainhas, no coração daqueles que amamos.

A humana nada disse. Aliás, ela acreditava que não havia nada que pudesse ser dito. Todas as separações são difíceis. Embora seja o melhor, nunca é fácil vermos quem amamos partir. Contudo, uns aceitam melhor que outros. Uns admitem que poderiam ser melhores e outros simplesmente esmagam as esperanças dos seus amados. Se é que alguma vez foram amados...

- Isto é tudo culpa minha – suspirou Sophia – Se as coisas não tivessem terminado daquele jeito, talvez ainda houvesse alguma esperança.

- Não te podes culpar por algo que não podias controlar – disse Philipa por fim – Ninguém ia adivinhar que aquele desgraçado ainda guardava tanto rancor no coração.

- Sim, mas eu sou a causa daquele rancor – rebateu Sophia.

- Não és – garantiu Philipa – Pelo menos, não és a única causa. Há algo mais que o incomoda e que ele precisava de garantir que nunca mais o incomodaria. Ninguém guarda assim tanto rancor, apenas por uma pessoa.

- O que vão fazer, agora? – questionou Henry, encarando as amigas com uma tristeza no olhar.

- Entregarmo-nos às mãos do destino – proferiu Philipa, sentando-se no chão de terra batida – Ele teve bastante trabalho para nos impedir de sermos bem sucedidos. E, pelos vistos, conseguiu.

- Talvez possamos ir para a Terra – disse Sophia, um pouco distante – Lá poderemos viver como humanas, sem nos preocuparmos se vamos ou não morrer.

- E o Mistlyn? – questionou Mara – Não vos vai matar?

- Pois, tem isso – concordou Sophia, voltando-se a remeter ao silêncio.

- Visto desta forma, morrer nem parece tão assustador – admitiu Philipa, encarando o horizonte – Talvez possamos ir para o Céu. Pelo menos, ainda veremos alguns de vós.

A Fairytale DreamOnde histórias criam vida. Descubra agora