A ideia de que eu pudesse gostar de Cate havia sumido da minha cabeça esses dias. Às vezes você só precisa descansar. Horas sem dormir causam isso.Não é porque, em um dia qualquer, você estava sentada em sua mesa anotando algumas coisas que a sua professora falava e, de repente você a olha parada lá na frente com sua postura implacável e pensa: "ela com o cabelo solto e óculos fica tão atraente", que você está apaixonada nela.
Não é?
Eu devo ser sincera. Cate mostrou suas ausência há três dias, e não a ver pode... ter me ajudado a esquecer essa ideia louca.
Mas, sobre ela ter faltado ultimamente; das duas uma, ou alguém muito importante para ela morreu, ou ela está morrendo. Blanchett faltar ao trabalho? Isso é um evento raríssimo. Normalmente, sua maior diversão era aterrorizar a vida dos alunos.
No tempo em que estudo aqui, nunca a vi ausente. Sempre quando achávamos que íamos ter um dia de folga sem sua presença, ela aparecia apenas alguns minutos depois. E ainda chegava irritada por ela ter se atrasado. Nunca vi uma pessoa tão obcecada com horários.
Todos estavam conversando e rindo alto na sala. Era irritante. Estava calor, estava bagunçado e estava barulhento.Os cochichos que se escutavam pela sala eram algo como: rezem para aquela vaca não vir hoje ou tomara que tenha sofrido um acidente. Cruel. Mas era a realidade da loirinha.
Cate sempre soube os tipos de "apelidos" que usavam com ela, ela mesma já confirmou isso, quando tivera uma discussão com um aluno e ele a chamou de alguns "apelidos" que colocaram nela. Ela apenas disse: "criem outros mais criativos. Estão ficando repetitivos."
Todos ficaram calados nesse momento.
Mas eu nunca a chamei assim. Aprendi que as paredes têm ouvidos. É claro que já ri de piadas de mau gosto que fazem com ela por trás de suas costas, ou já dei uma pequena risada quando a xingavam e diziam como ela estava os matando aos poucos. E é óbvio que já a chamei assim na minha cabeça, ou a xingava mentalmente, mas o diabo não pode ler pensamentos.
Pelo menos, eu espero que não.
Todos congelaram no instante em que a viram passar por aquela porta. O silêncio foi ensurdecedor. Apenas dava para escutar o barulho dos seus saltos finos.
Ela entrou na sala com um sorriso debochado no rosto e o nariz empinado como sempre. Ela colocou suas coisas na mesa, olhando para a sala que, agora estava organizada. Seu sorriso cresceu enquanto ela arrumava suas coisas. Também a vimos balançar a cabeça em negação. Gostaria de saber genuinamente o que pensava.
Ria da nossa cara por acharmos que ela não iria comparecer? Ou ela iria ferrar com a nossa vida como de costume?
O que ela pensava? Queria poder ler seus pensamentos, Blanchett.
Ela dá medo, e muito. E não era pelo olhar julgador e insano que ela tinha, é claro que aquilo dava arrepios em qualquer um, mas o poder dela era aterrorizante. Blanchett era uma grande influência, não acho difícil conseguir que um aluno seja expulso apenas sentando e conversando com o diretor sobre.
Era interessante a forma como ela pensava e agia. E muito, muito intrigante. Ela era um livro fechado.
Eu sempre dizia para Ally o quanto sua mãe era assustadora e impossível de se ler. Acho que ela já havia se acostumado com as pessoas falando isso para ela, ou ouvir isso pelos corredores. Não era algo novo para a filha da Blanchett.
Eu não vou mentir que quando ia na casa de Ally já tive vontade de saber o que a mulher fazia trancada em seu escritório. Trabalho, responderiam isso, com certeza.
Mas estou falando de como ela é sem ter alunos a observando, estando fora do trabalho e estando sozinha. Ela ainda mantém sua postura de durona?
Nós nunca nos falamos quando eu ia em sua casa, eu raramente a via, na verdade. E quando acontecia de nos esbarrar em algum corredor, ou nas escadas, eu apenas sorria para ela, e era ignorada. Mas sempre continuei sorrindo para ela, mesmo que ela passasse reto e olhando para o chão, em uma tentativa de me fazer desaparecer aos seus olhos.
E por que eu continuei? Boa pergunta. Educação, talvez. Certo, não vou mentir, eu esperava que algum dia ela fosse retribuir. Sou sim um pouco iludida. Ou muito.
— Irá à minha casa hoje?
— Sim. É bom conseguir abrir um tempo na agenda depois desse período. — ela assentiu.
— Será como sempre, minha mãe irá ficar trancada no escritório. Então não vou pedir para mudar o seu vocabulário e nem se preocupar com ela.
— Como eu deveria falar? Como alguém da realeza? — ela revirou os olhos, rindo.
— Como uma pessoa civilizada.
— Sabe, acho que a sua mãe não gosta que uma aluna dela vá até sua casa.
— Fora da faculdade você não é a aluna dela, é só a minha amiga, ela está ciente disso. Ela não vai puxar sua orelha enquanto reclama das suas notas ou algo do tipo.
— Certo. Mas ainda acho que ela não gosta.
— Minha mãe não gosta de muitas coisas, é difícil agradar ela.
Isso é verdade.
Eu já me perguntei como seria Cate com sua filha, ela era carinhosa? Ou era um monstro assim como era conosco? Eu nunca cheguei a perguntar a Ally, até porque é uma pergunta idiota: "Ei, sua mãe é um terror com você também?"
— Ela irá sair mais cedo hoje. Posso pedir para que nos leve.
— Não, eu ainda tenho que passar em casa.
— Tudo bem.
Eu não queria nem um pouco andar no mesmo carro que ela. Seria horrível, eu imagino.
— Minha aula vai começar, e é com a sua querida mãe.
— Então eu te aconselho a andar rápido.
— Já estou fazendo isso.
Duas aulas no mesmo dia com ela, era o próprio pesadelo. E eu desejava acordar o quanto antes.
Eu cheguei na sala, já dando de cara com Blanchett. Por um momento, meu corpo gelou. Eu havia me atrasado? Olhei para as cadeiras, não vendo ninguém. Não era estranho ver Cate adiantada em algum lugar, mas chegar tão cedo assim não me deixava nem respirar.
Ela não fez questão de olhar para mim, os seus papéis eram mais importantes. Eu entrei na sala, indo até o meu lugar de costume. Eu respirei fundo, desejando que as pessoas chegassem mais rápido. O que não demoraria, ninguém ousava a se atrasar para suas aulas.
— Você irá passar a tarde com a Allyson? — ela disse de repente, me surpreendendo. Eu esperava que um "encher a minha paciência" saísse de sua boca.
— Sim, eu pretendo.
Ela balançou a cabeça, mostrando que havia entendido.
— Se me permite... — seu olhar pousou em mim, me permitindo continuar. — Por que esteve ausente?
— Foi o bastante para sentir a minha falta ou está preocupada? — minhas sobrancelhas ergueram-se. Não sabia o que falar. — Estava estudando. Vocês não terão trégua. — um sorriso iniciou-se em seus lábios. — Mas é estranho Allyson não ter dito nada para você. São tão próximas.
— Ah, eu não perguntei.
— Entendo. Então era um jeito de poder falar comigo?
— Quem sabe? — com muita dificuldade, respondi. Sua postura séria bateu com tudo quando os alunos começaram a entrar na sala, não deu nem tempo da sua risada nasal se completar.
Aquilo havia sido surpreendente. Falar assim com ela e ela falar assim comigo era uma novidade. E um problema para mim também. Nunca fui boa em esconder minhas intenções com alguém, seja odiando ou gostando. Em algum momento, minha cara ou minha boca iriam entregar tudo, por isso, o melhor que eu faço é manter uma certa distância dela.
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Be Mine
FanfictionNum enredo permeado por uma confusão de sentimentos, S/n Hernández percebe que sua paixão pela professora de física, Cate Blanchett, transcende os limites de um simples crush, desencadeando uma série de eventos que viram suas vidas de cabeça para ba...