Apenas coincidência

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  P.O.V Emily:

  — Piranha! Vai almoçar comigo hoje, não vai? — Sarah entrou no meu atelier quase quebrando a porta.

    — Isso, quebra tudo, porque eu nem gastei dois meses da minha vida fazendo esse lugar — eu disse olhando para ela brava — e porque almoçaria com você?

    — Hoje é segunda, lembra?

    Segunda-feira era o dia que Sarah tinha aula até meio dia, e depois só às quatro da tarde, então sempre almoçávamos juntas, mas eu lembrava? Não, eu nunca lembrava.

     — Ah, foi mal — eu disse — aonde vamos dessa vez?

     — Tem um restaurante bem legal lá perto.

    — Aquele bem caro — observei.

    — Exato — ela sorriu — então pensei, eu pago a comida e você as bebidas.

     A olhei bem.

    — Ok, só porque te amo.

    Sarah sorriu meiga, coisa que ela não era, não mesmo.

     — É difícil não amar né — ela passou a franja pra trás — bem, vou pra aula, e a propósito, bela camiseta — ela olhou para o projeto de camiseta que eu costurava — essa se você não usar, eu uso.

    Ri negando com a cabeça.

    — Uma hora no restaurante.

    — Ok — concordei fazendo um risco reto que com o lápis no desenho para ajustar de forma correta depois — boa aula!

    — Valeu!

    Ouvi o som da porta bater e voltei a me concentrar em minha costura.

    *          *             *

     É, a camiseta estava pronta e não eram nem onze e meia, foi até rápido considerando o tempo que eu geralmente demorava para terminar alguma peça. Me levantei terminando de tomar meu café e fui me rastejando até a cozinha. Coloquei a xícara dentro da pia e coloquei a franja que caia em meu olho para trás da orelha.

    Pisquei algumas vezes olhando a hora no relógio da cozinha, agora sim eram onze e meia. Fui até o banheiro fazendo um coque frouxo em meu cabelo já meio preguiçosa, como sempre.

     Tomei um banho bem demorado e fui me trocar, como era um restaurante "chique" decidi me vestir a altura. Coloquei uma saia com o xadrez em dois tons de vermelho e uma regata soltinha preta com uma transparência nos dois lados em linhas grossas desde baixo dos braços até o final.

     Coloquei um salto agulha preto da Chanel, era incrível como a confiança subia quando você se sente poderosa, e era exatamente como eu me sentia com aqueles sapatos, meus sapatos eram meus bebês, eu era mais fissurada nos meus sapatos de grife do que em minhas roupas, e tinha umas que se me permitem, eram bem estranhas. A moda é a estranheza mais maravilhosa de todas, claro.

    Andei até o banheiro ouvindo apenas o som de meus saltos baterem no chão de madeira.  Demorei um pouco para passar o delineador, mas consegui, passei o rímel também e apenas para encerrar o lápis preto o esfumaçando um pouco. Pisquei meus olhos, eles pareciam ainda mais claros com a maquiagem escura, e eu adorava isso. Claro que tive que passar meu batom vermelho escuro mate porque batom vermelho era minha marca.

    Como não gostava de fazer nada no cabelo, apenas o penteei o deixando solto em suas ondas douradas até depois do meio das costas, espirrei o perfume no pescoço colocando minhas pulseiras e meus anéis e saí do banheiro. Peguei uma pequena bolsinha preta colocando meu celular e minha carteira dentro dela e sai do apartamento trancando tudo.

Senhor MartinOnde histórias criam vida. Descubra agora