Capítulo 21 - As diferentes fases do amor

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ANNE E GILBERT 

Os dias pareciam iguais,  e o tédio era a única companhia que tinha naqueles cinco dias que se trancara dentro daquele quarto. Parecia que todos os olhares a acompanhavam onde quer que fosse, e não eram olhares simpáticos ou com empatia. Eram olhares que a acusavam e a condenavam por um passado que não era seu, mas que levava seu sobrenome, e por isso,  não tinha como se defender ou defender Bertha, pois fora ela que supostamente colocara sua família naquela situação. 

Era difícil para Anne pensar em sua mãe como uma destruidora de lares, quando pensava na mulher amorosa e cuidadosa que ela fora com sua própria família. William parecia ser eternamente apaixonado por ela, o que não fazia muito sentido para Anne, pois se Bertha o havia traído como Winnie a acusara de ter feito por diversas vezes, seu padrasto a teria realmente perdoado? 

Eram perguntas para as quais não conseguia respostas, pois ninguém parecia disposto a tirá-la do escuro acerca daquela questão.  Nem mesmo Gilbert desejava tocar no assunto, porque ele dizia que não queria magoá-la mais, contudo o que ele não sabia, era que o que realmente a magoava tinha a ver com  a omissão da parte dele sobre algo que para ela era muito importante. Não aceitava a justificativa que Gilbert lhe dera, assim, ela desistira de tentar fazê-lo falar sobre aquela situação. 

Por esta razão,  ela também desistira de sair de casa, do quarto, de seus momentos com Caramelo, por mais que sentisse falta da interação que tinha com seu amigo de quatro patas, a aversão aos olhares maldosos sobre ela era maior que qualquer prazer que pudesse sentir em Terracota.

Anne também sentia falta de Gilbert, de quem se afastara  todos aqueles dias. Apesar do consolo que ele lhe dera no dia do seu confronto com Winnie, ela não conseguia perdoá-lo. Não estava com raiva dele,  pois no fundo de seu coração, Anne sabia que não podia sentir nada além de amor por Gilbert, mas doía pensar que ele a deixara passar por aquilo, sem chance nenhuma de defesa, e era isso que estava pesando entre eles naquele momento. 

Gilbert tentara falar com ela inúmeras vezes, mas ela ignorou todas as suas tentativas. Anne perdera a conta de quantas vezes o ouvira bater em sua porta, chamá-la baixinho em vários momentos, porém,  por mais tentada que tivesse em mergulhar naqueles olhos verdes, e receber dos lábios dele os beijos que seriam como gotas de bálsamo para sua alma machucada, ela resistiu.

Seu namorado tinha que entender que certas coisas magoavam, mesmo que a intenção não tivesse sido essa. Talvez estivesse sendo radical em jogar toda a sua frustração em cima dele, mas não conseguia esquecer que ele guardara segredo de algo que a afetava diretamente.

Seu coração se agitou quando sua mente a levou de volta à casa da floresta, e os momentos ardentes passados nos braços de Gilbert lhe causaram uma certa urgência a qual tentou bloquear. Não queria cair na armadilha da carência,  e baixar a guarda o suficiente para permitir que sua mágoa se abrandasse.  Ela era sim orgulhosa,  às vezes até áspera demais, mas era uma característica que crescera com ela, e nunca seria uma daquelas garotas doces que John Blythe desejava que ela fosse, e era exatamente por isso que ele a detestava, por ser uma cópia fiel de sua mãe. 

Anne se sentia tão triste quase como se não pudesse aguentar aquele peso em seu peito. Ela sabia que não devia ter voltado a Terracota, pois mais uma vez aquelas terras lhe deram as costas,  mais uma vez fora rejeitada pelo único lugar que amara de coração.  

Gilbert lhe dissera que a fazenda dos Blythes era o seu lugar,  mas quanto mais ficava ali, mais se convencia de que ele estava errado. Ali nunca fora seu lugar,  e quanto antes fosse embora, mais fácil as coisas se tornariam para ela.

Anne suspirou profundamente e se enrolou na coberta, sentindo-se exausta. Para que Ruby não percebesse seu estado melancólico e as outras pessoas da casa a deixassem em paz, ela fingira estar gripada, mas ela sabia que Gilbert não acreditara,  pois lhe enviara milhares de mensagens de textos e de áudio lhe implorando que o escutasse, mas ela o ignorara. Não podia vê-lo do jeito que estava se sentindo.  Não queria discutir, ou trocar farpas com ele. Simplesmente não tinha energia para isso. Já estava arrasada o suficiente por conta de  toda a história que descobrira sobre Bertha.

The Tutor- Anne with an eOnde histórias criam vida. Descubra agora