O Tiro do escuro

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(Jimin)

Hoje meus parceiros do novo trabalho virão aqui em casa, pirralho. — Ouço meu pai dizer sentado à mesa, enquanto tento me equilibrar em uma das cadeiras quebradas para alcançar o fogão.

Sinto meu curto braço latejar de tanto mexer aquela panela pesada de angu. A cada bolha fervente que parecia explodir dentro da panela, me assustava, e se eu parasse de mexer, não poderia nem pensar no que o papai faria caso estragasse a comida.

—Amigos? — Falo recuado, sem tirar meus olhos, lacrimejantes pelo calor, da panela.

—É, pirralho! Decidi aceitar o trabalho que sua mãe tanto reclamava pra eu não aceitar, ainda bem que aquele peso morto foi embora de casa. — Ele resmungava, passando bruscamente as folhas do jornal, fazendo ecoar aquele tilintar abrupto das folhas chegar em meus ouvidos. 

—Mamãe... — Sussurrei sem perceber, me assustando quando outra daquela bolha fervente explodiu na panela.

Por que a mamãe foi embora?

Será que eu não fui um bom filho para ela? Mas sempre sorríamos juntos, eu não entendo, mamãe.

O que eu fiz para merecer tanto ódio do papai? Eu nasci errado? Prometo que juro, todos os dias eu tento melhorar em tudo para dar orgulho para ele, mas a única coisa que faz é me empurrar e dizer "melhore mais".

Sinto dores na barriga todos os dias, já não sei se é de fome ou, pelos hematomas.

—Vou pedir pizza, eles já estão chegando. — Escuto a cadeira ser arrastada ao levantar, o que me faz desequilibrar por um segundo na madeira que eu estava apoiado.

Mas eu me segurei no fogão, sentindo o calor do fogo atingir minha derme com rapidez e, o meu reflexo me fazer retirar as mãos de lá.

Foi estupidez. As pernas bambas da cadeira me fizeram escorregar e cair com as costas abruptamente no chão gélido da cozinha.

—Mas como você é burro, pirralho! — Escutava o papai rir de gargalhar, enquanto sinto minha coluna queimar com o impacto.

Eu encolhi meu corpo pequeno e magro naquele chão, sentindo meus pulmões fazerem uma força maior que o normal para respirar, estremecendo todas as minhas veias em solavancos frequentes.

—Pode ficar com o angu, não quero decepcionar meus novos amigos com sua comida horrível, trate de pegar a porra da pizza quando chegar. — Escuto sua voz ranzinza ecoar com maior altura em meus ouvidos sensíveis, me fazendo abraçar com mais força minhas pernas contra meu abdômen.

—Idiota. — E o seu sussurro pareceu tão nítido quanto sua gritaria.

Eu já sentia as lágrimas escorrem por minhas bochechas rosadas, como o sangue dos machucados que recebo todos os dias. E o choro dói igual, ou até mesmo pior pois, a dor vem de dentro.

Meu coração pequeno e, fraco, não aguentaria tanta coisa assim.

Por que eu ainda continuo aqui?

—Oi, Ddosun... — Sinto meu cachorrinho, meu único amigo, chegar perto do meu rosto e, lamber minha bochecha.

Parece que ele quer secar minhas lágrimas. Eu sinto o gosto delas frequentemente mas, lambê-las de propósito não deve ser muito bom.

—Obrigado por não ter ido embora como todo mundo, amiguinho. — Falo sorrindo, sentindo minhas costas doloridas pela queda.

Mas eu me esqueci daquela dor quando meu amiguinho se aproximou mais e, se deitou em meus braços. Então o abracei, podendo sentir seu pelo afagar uma das minhas bochechas.

Quem Matou Min-Ji? - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora